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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Tsotsi ***

22.03.06, Rita

Realização: Gavin Hood. Elenco: Presley Chweneyagae, Mothusi Magano, Jerry Mofokeng, Zenzo Ngqobe, Kenneth Nkosi, Percy Matsemela, Thembi Nyandeni, Terry Pheto, Benny Moshe, Nambitha Mpumlwana, Rapulana Seiphemo, Zola, Jerry Mofokeng. Nacionalidade: Reino Unido / África do Sul, 2005.





"Tsotsi" significa "rufia" ou "desordeiro" na linguagem das ruas de Soweto, um gueto negro nos subúrbios de Joanesburgo. Tsotsi (Presley Chweneyagae) tem 19 anos e é chefe de um grupo de gangsters: Boston (Mothusi Magano), Butcher (Zenzo Ngqobe) e Aap (Kenneth Nkosi). Tsotsi é o sociopata do grupo, transformando um assalto num assassínio, e espancando Boston quando este clama pelo valor da decência. Num bairro da classe média, Tsotsi atira sobre uma mulher (Nambitha Mpumlwana) para lhe roubar o carro. Uns metros mais à frente, Tsotsi repara que há um bebé no banco de trás. Um misto de emoções trespassa a sua expressão (numa convincente interpretação do estreante Chweneyagae), e dá-se início a uma viagem de transformação.


O mundo de Tsotsi define-se no mais básico: necessidades, desejos, oportunidades, obstáculos, perigos. A esperança não abunda e a tragédia espreita a cada esquina. A solidão, a raiva e a alienação são combatidos com agressividade e crueldade. Além do bebé, outros dois encontros servem de catalizador para a mudança e a curva de aprendizagem de Tsotsi vai-se fazendo por tentativa e erro. Mas o sorriso que nos surge quando vemos Tsotsi tentar cuidar da criança, com claro desconhecimento, mistura-se com o desconforto das reais dificuldades daquelas vidas.


A infância de Tsotsi, e os seus motivos, surgem em flashbacks que, mais do que desculpar qualquer uma das suas atitudes violentas, justificam as suas atitudes de crescente carinho para com aquela criança. Através dela, Tsotsi resgata o seu passado, as suas dores, e até a sua identidade. E a “decência” apregoada por Boston acaba por ser aquilo que Tsotsi encontra.


O tema do “homem mau” humanizado através do contacto com um inocente não é novo, e o registo do filme lembra inevitavelmente “Cidade de Deus” (Fernando Meirelles e Kátia Lund, 2002), sem, no entanto, chegar à excelência deste último. Mas “Tsotsi” é, no global, um filme bem feito (ainda que eu não perceba o Oscar), para o que contribui também a fotografia de Lance Gewer, que capta a pobreza e desolação do gueto, com uma escuridão envolvente, cores quentes e suave iluminação.


A acção do romance do dramaturgo Athol Fugard (publicado nos anos 80), no qual “Tsotsi” se baseia, desenrolava-se durante os anos 50, no início do apartheid. A actualização foi feita para os nossos dias com a inclusão opressiva de outro flagelo, a SIDA, por todo o lado surgindo cartazes com a mensagem: “We are all AFFECTED by HIV and AIDS”. Os riscos mudam, mas não desaparecem, a vida para estes órfãos sem casa continua a ser assustadora. E a marca deste filme, quase apagada no meio da narrativa, são essas crianças, vivendo dentro de tubos de cimento.


Fica a esperança de que aquele fim seja, simbolicamente e na sua essência, a luz de um princípio.





DICIONÁRIO:


"Tsotsi" literally means "thug" or "gangster". The word "tsotsi" means a black urban criminal, a street thug or gang member in the vernacular of black townships in South Africa. Its origin is possibly a corruption of the Sesotho word "tsotsa" meaning to dress flashily, zoot suits being originally associated with tsotsis. A male is called a tsotsi and a female tsotsi is called a noasisa.


"Kwaito" is the modern music of South African townships. It is used extensively on the film's soundtrack, some of which is performed by Zola, to add to the authentic feel of ghetto street life.