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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Das Weisse Band ****1/2

22.01.10, Rita

Realização: Michael Haneke. Elenco: Christian Friedel, Ernst Jacobi, Leonie Benesch, Ulrich Tukur, Ursina Lardi, Fion Mutert, Michael Kranz, Burghart Klaußner, Steffi Kühnert, Maria-Victoria Dragus, Leonard Proxauf. Nacionalidade: Áustria / Alemanha / França / Itália, 2009.





Se tivesse de destacar o elemento comum na filmografia de Michael Haneke seria a crueldade. De uma forma ou de outra, dirigida a outros ou a si mesmo, as suas personagens são das mais cruéis que o cinema nos tem oferecido. E não deixa de ser desconcertante olhar para este homem com ar de simpático avô e ver aquilo que o estimula para e que resulta na sua criação.


O subtítulo “Eine deutsche Kindergeschichte” parece jogar com o significado “uma história alemã para crianças” e “uma história alemã sobre crianças”. Fiquemo-nos pela segunda opção. Mesmo.


O narrador avisa-nos, desde logo, que a sua memória não consegue assegurar um relato isento de imperfeições. Na Alemanha rural do princípio do séc. XX, a vida arrasta-se num compasso lento, sem felicidades mas também sem tragédias. Até ao dia em que estranhos acontecimentos vêm perturbar a vida dos seus habitantes.


Haneke oferece-nos um mistério quase policial, ao longo do qual vamos recebendo pequenas pistas, para terminar numa ambígua resolução. À semelhança das suas personagens, também ele dissimula, falando de outras coisas através da metáfora do cinema. Conta-nos da liderança despótica (familiar e política), do poder da educação na perpetuação dos comportamentos, conta-nos da nossa memória histórica e dos seus esquecimentos.


Embrulhado na espantosa fotografia a preto e branco de Christian Berger, “Das Weisse Band“ é austero e formal. Mas, com um cuidado quase obsessivo, Haneke consegue condensar as mais fortes emoções (e o diálogo mais violento), apertando-as de tal modo que, a qualquer o momento, esperamos vê-las explodir. E é assim, como uma mola contraída, que saímos da sala de cinema.