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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

C'est Pas Tout à Fait la Vie Dont J'avais Rêvé **

08.10.05, Rita

Realização: Michel Piccoli. Elenco: Roger Jendly, Michèle Gleizer, Elizabeth Margoni, Monique Eberle, Nicolas Barbot. Nacionalidade: França, 2005.





Apresentado como uma farsa e como uma fábula, “C'est Pas Tout à Fait la Vie Dont J'avais Rêvé” conta a história de um marido (Roger Jendly) que trai a mulher (Michèle Gleizer) com a amante (Elizabeth Margoni), e com a conivência da governanta (Monique Eberle).


A efusão com que bajula a amante contrasta com o silêncio das partidas de Scrabble que joga com a mulher, a quem rouba a pratas da família e garrafas da adega para seduzir a amante. A sustentabilidade desta situação só é possível graças à preciosa ajuda da governanta, que num minuto serve o jantar à amante e no minuto seguinte já serve o chá à mulher.


A rotina da vida familiar, que terá sido possivelmente uma das causas da amante, acaba, ironicamente, por se reproduzir na vida com esta última, com quem os jogos amorosos se tornam também repetitivos. A novidade não resiste ao passar do tempo e acabará por também ela perder o seu sentido.


Apenas a mulher rompe com este ciclo de comportamentos automatizados, ao descobrir a traição e seguindo o marido para confirmar as suas suspeitas. Mas estão todos de tal maneira metidos nos seus papéis que ninguém se dará conta desta sua descoberta.


O melhor deste filme é o início, extremamente bem construído. Michel Piccoli junta com extremo cuidado as peças que compõem o puzzle deste triângulo amoroso, sem nos dizer logo tudo, mas familiarizando-nos com a sua realidade. Misturando as duas casas, os dois espaços, as duas situações, da mesma forma que eles se interligam entre si e se reproduzem.


Mas Piccoli peca por um ritmo demasiado lento. Mesmo que a sua intenção tenha sido transmitir-nos a rotina do dia-a-dia e os hábitos mecanizados das personagens, não teria sido necessário fazer-nos passar pelo mesmo.


Parte da história é espelhada num espectáculo de fantoches a que o marido acompanha o neto. Este poderia ter sido um recurso útil para nos aproximar das personagens, contando-nos o seu passado e, sobretudo, as suas expectativas, que deveriam ser confrontadas com o presente de uma forma mais crassa. Mas ao invés, como o resto do filme, é uma reprodução daquilo que já sabemos, sem acrescentar nada à narrativa.


A música de Arno, “La Vie C’Est Une Partouze” (A Vida é Uma Orgia), faz mais pelo filme do que metade da sua duração. “C'est Pas Tout à Fait la Vie Dont J'avais Rêvé” teria dado uma bela curta metragem.






CITAÇÕES:


“Quand j’entends ce que j’entends, et je vois ce que je vois, j’ai raison de penser ce que je pense.”
ROGER JENDLY (O marido)


LA VIE C’EST UNE PARTOUZE
(Arno)

Il est tard ce soir
Ma tête dans l’brouillard
Mon goût salé, je sens la bière
Elle, la fraise
Le diable s’occupe de lui
Les anges sont en grève
Allongée, elle s’ennuie
Mais le pire de tout,
Elle est jolie
La vie c’est une partouze
La vie c’est une partouze

J’suis bien, bien avec rien
Mais mieux avec deux
Tout le monde a le droit
Le droit d’être con
J’suis le roi du monde
Je bois, je bois quand je veux
Je paye quand je peux
J’accepte l’hiver, j’aime bien l’été
J’suis le roi du monde
La vie c’est une partouze
La vie c’est une partouze