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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Gran Torino ****

19.04.09, Rita

Realização: Clint Eastwood. Elenco: Clint Eastwood, Christopher Carley, Bee Vang, Ahney Her, Brian Haley, Geraldine Hughes, Dreama Walker, Brian Howe, John Carroll Lynch, William Hill. Nacionalidade: EUA / Austrália, 2008.





Walt Kowalski (Clint Eastwood) é um homem execrável e racista. Após o funeral da mulher, Walt quer apenas o conforto do silêncio e da solidão, e que os dois filhos cujos trabalhos não têm sentido, e os netos egoístas e gananciosos, o deixem em paz. Um veterano da Guerra da Coreia, Walt revolta-se contra a “invasão” asiática do seu bairro no Michigan. Na casa ao lado da sua reside agora uma família Hmong (grupo étnico da região montanhosa entre o Laos, a Tailândia e a China), que Walt despreza e a quem se refere com depreciativas alcunhas.


A tranquilidade de Walt, e da sua habitual cerveja no alpendre de casa, é perturbada quando o vizinho do lado, Thao (Bee Vang), um adolescente que, numa praxe para entrar no gang do seu primo, tenta roubar o Ford Gran Torino de 1972 de Walt. Ele não hesita em pegar na sua caçadeira e resolver as coisas pelas suas próprias mãos. No dia seguinte, a voluntariosa irmã de Taho, Sue (Ahney Her) vem pedir desculpas pelo irmão e oferecer o serviços dele para o que Walt possa precisar, Walt resolve pô-lo a limpar a casa em frente à sua (sem pedir licença ao vizinho), para que a vista do seu alpendre seja finalmente mais agradável.


Walt carrega velhas cicatrizes (ainda que inomináveis) da sua experiência na guerra. Aliás para ele a vida parece-se com uma guerra, onde ele foi endurecendo para reagir de forma rápida e brutal, sem pedir desculpas, nem mesmo ao jovem padre da paróquia (Christopher Carley). Thao é um rapaz calado e estudioso, e Walt está decidido em formá-lo como homem. De repente, aqueles estranhos, numa generosidade que Walt não consegue compreender, tornam-se mais próximos dele que a sua própria família. Quando a integridade de Thao e Sue é ameaçada, o instinto de protecção de Walt desperta em toda a sua violência.


Naquela que é anunciada como a despedida de Eastwood como actor, aquele que vemos é o habitual herói dos muitos westerns que protagonizou. Um homem duro em busca da redenção, em luta com um passado sangrento que ele deixou que definisse o resto da sua vida. Até a barbearia serve de cenário às “conversas de homens”. A vingança surge aqui, também, em defesa da fragilidade feminina. E o final, só poderia ser um duelo.


E Eastwood despede-se em grande, com uma expressividade carregada de rugas (ou deveria dizer rugas carregadas de expressividade?), de raiva e de amargura, conferindo ao argumento de Nick Schenk uma força só comparável às da natureza. E é isso que Walt é.


“Gran Torino” é um filme sobre a aceitação da diferença, sobre as consequências da violência e a paz interior encontrada na fórmula simples da compaixão com os demais. A natureza humana não pode servir de desculpa para comportamentos individuais errados e que apenas a nós cabe modificar.






CITAÇÕES:


“I confess that I have no desire to confess.”
CLINT EASTWOOD (Walt Kowalski)

“Padre Janovich – Why didn't you call the police?
Walt Kowalski – Well you know, I prayed for them to come but nobody answered. ”
CHRISTOPHER CARLEY (Padre Janovich) e CLINT EASTWOOD (Walt Kowalski)

“I once fixed a door that wasn't even broken yet.”
CLINT EASTWOOD (Walt Kowalski)

“The thing that haunts a guy is the stuff he wasn't ordered to do.”
CLINT EASTWOOD (Walt Kowalski)