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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

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CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Che: El Argentino ***1/2

18.03.09, Rita

Realização: Steven Soderbergh. Elenco: Benicio Del Toro, Demián Bichir, Marc-André Grondin, Óscar Jaenada, Cristian Mercado, Jordi Mollà, Antonio Peredo, Jorge Perugórria, Franka Potente, Othello Rensoli, Armando Riesgo, Catalina Sandino Moreno, Rodrigo Santoro, Mark Umbers, Yul Vásquez, Julia Ormond, Santiago Cabrera. Nacionalidade: EUA, 2008.





Ernesto Guevara de la Serna, apodado de ‘Che’, era um médico argentino, um revolucionário da causa cubana contra o imperialismo, um líder, um defensor dos movimentos anti-colonialistas africanos, um ícone. Para uns foi um herói, para outros um assassino. Pelo meio, havia apenas um homem. É nisso que Steven Soderbergh está interessado, mais ainda, no homem como elemento definidor da História.


Poderá parecer estranho que um filme que se baseia no livro de memórias do próprio Guevara, "Pasajes de la Guerra Revolucionaria" (argumento da responsabilidade de Peter Buchman, “Eragon”), seja tão imparcial e distanciado como este. Mas isso é apenas reflexo da personalidade de um homem pragmático completamente dedicado a uma causa, e sem espaço para acessos sentimentais.


A acção de “Che: El Argentino” começa com a apresentação de Guevara (Benicio del Toro) ao movimento 26 de Julho no México, seguindo, em 1957, para o desembarque na costa oriental de Cuba a bordo do Granma acompanhado, entre outros, por Fidel (Demián Bichir) e Raúl Castro (Rodrigo Santoro) com o objectivo de derrubar a ditadura de Fulgencio Batista.


Sem perder tempo na vida pessoal de Guevara, ou o destacar do seu contexto, a câmara de Soderbergh prefere planos de grupo, limitando ao mínimo a subjectividade e os grandes planos. Sem nos dizer o que pensar ou sentir, Soderbergh não procura definir Guevara, nem como um santo da revolução nem como um carrasco sem misericórdia. Apresenta-nos antes um homem que é o resultado das suas escolhas e dos seus actos. Sem nos dizer tudo, “Che: El Argentino” encoraja-nos a procurar saber mais sobre a transformação de um médico que assiste os revolucionários feridos num líder que domina na perfeição as técnicas de guerrilha.


A determinação de Soderbergh com este filme assemelha-se à do próprio Che. Ele tem uma missão e dispensa monólogos explicativos ou desvios pela vida amorosa dos rebeldes, que poderiam captar um público mais alargado mas que diluiria certamente a força da narrativa central. Também Che não se dispersa em teorias ideológicas, o seu socialismo/comunismo (como lhe queiram chamar) é prático, dando voz ao ressentimento popular e fazendo do apoio da população a sua maior arma. Perante opositores desmoralizados e munidos de uma forte ideia, a revolução precisou de poucos, mas motivados, homens.


Paralelamente ao exército rebelde, Soderbergh coloca, a preto e branco, a passagem de Che por Nova Iorque em Dezembro de 1964 como representante de Cuba nas Nações Unidas, e onde deu também uma entrevista à jornalista Lisa Howard (Julia Ormond). Aqui vemos um outro lado de Guevara, feroz e quase evangelista. Depois de vários anos resumido a um papel burocrático como Ministério da Economia em Cuba, aqui ele é um “pregador”, apelando à luta armada dos povos oprimidos e aos movimentos independentistas, porque a luta contra o imperialismo não tem fronteiras.


“Che: El Argentino” é um filme feito de secundários. Além de Guevara, existem Fidel e Raúl, cujo protagonismo no filme tem mais a ver com a importância que lhes atribuiu a História do que com o tempo de ecrã, e um outro herói da revolução, Camilo Cienfuegos (Santiago Cabrera, “Heroes”), cujo sentido de humor o destaca de todos os demais. De resto, existe uma massa quase indefinida de combatentes, voluntários que vão sendo integrados nas colunas militares, mas que não são individualizados.


A preocupação de Che era não deixar para trás um único homem ferido, ignorando as suas próprias maleitas (Guevara padecia de asma e malária). Sem desenvolver qualquer relação emocional com os seus homens, são os seus valores sociais que impõem as rígidas regras da revolução. Apesar dessa ausência de simpatia, o carisma de Benicio Del Toro (também produtor), independentemente da extrema parecença física, contribui com um forte magnetismo para este complexo papel. Ainda de referir a genial recriação que Demián Bichir (“Weeds”) faz de Fidel Castro.


“Che: El Argentino” é a primeira parte do biopic sobre um dos arquitectos da revolução cubana, cuja acção termina no dia 1 de Janeiro de 1959, na estrada de Santa Clara para Havana. A segunda parte, “Che: Guerrilla”, que deverá estrear em Abril, acompanhará Guevara até à sua morte às mãos das autoridades bolivianas em 1967.


O filme de Soderbergh está irrepreensivelmente filmado em alta definição, com alguns planos verdadeiramente poéticos pelo meio de emboscadas e de trocas de tiros. O seu compasso é um escalar paralelo ao caminho feito por estes rebeldes. Até à imagem final, hasta la victoria.






CITAÇÕES:


“(...)
Cuba, señores delegados, libre y soberana, sin cadenas que la aten a nadie, sin inversiones extranjeras en su territorio, sin procónsules que orienten su política, puede hablar con la frente alta en esta Asamblea y demostrar la justeza de la frase con que la bautizaran: «Territorio Libre de América.
(...)
Porque esta gran humanidad ha dicho «¡Basta!» y ha echado a andar. Y su marcha, de gigantes, ya no se detendrá hasta conquistar la verdadera independencia, por la que ya han muerto más de una vez inútilmente. Ahora, en todo caso, los que mueran, morirán como los de Cuba, los de Playa Girón, morirán por su única, verdadera e irrenunciable independencia.

Todo eso, Señores Delegados, esta disposición nueva de un continente, de América, está plasmada y resumida en el grito que, día a día, nuestras masas proclaman como expresión irrefutable de su decisión de lucha, paralizando la mano armada del invasor. Proclama que cuenta con la comprensión y el apoyo de todos los pueblos del mundo y especialmente, del campo socialista, encabezado por la Unión Soviética.

Esa proclama es: Patria o muerte.”

BENICIO DEL TORO (Ernesto ‘Che’ Guevara)
































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