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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Religulous ***1/2

11.03.09, Rita

Realização: Larry Charles. Género: Documentário. Nacionalidade: EUA, 2008.





“Religulous” é, como o próprio nome indica (religious + ridiculous), um filme de opinião, parcial e desequilibrado. Mas nem por isso deixa de ser uma refrescante e incrédula viagem, mascarada de humor e sarcasmo, em busca da conhecimento. O anfitrião é Bill Maher, também argumentista, um comediante filho de mãe judia e pai católico, e que, tendo sido criado como católico até aos 13 anos, altura em que o seu pai deixou de ir à missa, é agora um dedicado advogado da “dúvida”.


Maher começa por salientar que 16% dos habitantes dos EUA são não-religiosos, uma percentagem superior a muitas outras minorias, mas que não se faz ouvir nem social nem politicamente. O objectivo de “Religulous” é, essencialmente, motivar estes 16% a assumirem-se antes que seja tarde de mais e o mundo se auto-destrua com base em disputas religiosas que fomentam a injustiça, a intolerância, o conflito e a violência.


Além da visita a locais santos em Itália e Israel, Maher viaja até ao Reino Unido, Flórida, Missouri e Utah e fala com cristãos, evangelistas, judeus, muçulmanos e mórmones (em Londres mascara-se de Cientologista para pregar no Speakers' Corner do Hyde Park). Maher não chega a abordar o hinduísmo ou budismo, mas certamente terá também muito a protestar sobre eles.


Maher está pronto para um confronto argumentativo e não dá tréguas aos seus entrevistados. Inteligente, perspicaz e com sentido de humor, ele não engana os seus “adversários”. As suas perguntas são directas, mas ele não os deixa fugir dos argumentos lógicos, interrompendo-os se for preciso. Respostas conduzem a novas perguntas e Maher conduz os seus entrevistados exactamente para onde quer: o silêncio. A todo o momento espera-se que alguém lhe bata pelas coisas que ele diz ou pela forma como põe em causa as suas mais profundas crenças. Alguns deles zangam-se, mas a maioria cala-se, educadamente, recusando seguir em frente quando Maher os obriga a um olhar objectivo sobre a sua fé.


Para dar mais força à sua tese, Maher não procurou extremistas, preferiu focar pessoas normais e inteligentes que diferem dele por acreditarem em algo que Maher pensa ser uma loucura fantasiosa. Maher é irónico, mas se algumas das pessoas que ele entrevista acaba por sair ridicularizada, a sua quota de culpa é pequena.


Do outro lado da câmara está Larry Charles (“Borat”), colando legendas nalgumas conversas e inserindo imagens que, não manipulando, servem – na mouche – o propósito de comic relief. A ágil montagem vai num crescendo de episódios caricatos, onde o factor surpresa funciona como amplificador. Saliento apenas a lucidez dos dois padres católicos americanos que vivem no Vaticano, os primeiros a defender que a Bíblia e os Evangelhos são escritos pejados de metáforas, por um lado, e localizados num tempo e num espaço devido, por outro.


Pena é que a essência universal das mensagens religiosas, independentemente da religião esta pode ser resumida à caridade e ao amor pelo próximo, seja posta em perigo simplesmente porque as instituições que as regem se recusam a acompanhar a evolução desse mesmo Homem. Em vez disso, na prática do dia-a-dia os valores religiosos apregoados parecem esquecidos. É essa injustiça e intolerância que preocupam Maher (com uma leve passagem pela temática do terrorismo).


Tartamudeando e sem argumentos, a religião não suporta a discussão racional que Maher pretende. Porque a religião está para além do concreto, é abstracta e emocional. “Religulous” poderá criar alguma controvérsia, mas não conversões. Os fiéis continuarão a sê-lo, seja por devoção seja pela aceitação inquestionada do dogma. Os não-crentes, a quem o filme é dirigido, verão as suas ideias reforçadas. Haverá também aqueles que, querendo acreditar num deus justo, com compaixão e amor, parecem não ter grandes hipóteses.


Com momentos verdadeiramente arrojados, outros totalmente bizarros, “Religulous” é um dos filmes mais divertidos dos últimos tempos. O mau comportamento de Maher pode até ser criticável, mas mentiria se dissesse que não me arrancou uma boa dose de gargalhadas.






CITAÇÕES:


“Faith means making a virtue out of not thinking. It's nothing to brag about. And those who preach faith and enable and elevate it are intellectual slave holders, keeping mankind in a bondage to fantasy and nonsense that has spawned and justified so much lunacy and destruction.”
BILL MAHER

“Religion is dangerous because it allows human beings who don't have all the answers to think that they do. Most people would think it's wonderful when someone says, 'I'm willing Lord, I'll do whatever you want me to do.' Except that since there are no gods actually talking to us, that void is filled in by people with their own corruptions and limitations and agendas.”
BILL MAHER

“Gay Muslim activists. That is a very rare job description. You guys have big ones.”
BILL MAHER

“You don't have to pass an IQ test to be in the Senate.”
MARK PRYOR

“The only appropriate attitude for man to have about the big questions, is not the arrogant certitude that is the hallmark of religion, but doubt. Doubt is humble and that is what man needs to be, considering that human history is just a litany of getting shit dead wrong.”
BILL MAHER

“Anyone who tells you that they know, they just know what happens when you die, I promise you, you don't. How can I be so sure? Because I don't know and you do not possess mental powers that I do not.”
BILL MAHER

“Rev. Jeremiah Cummings – The people want you to live well.
Bill Maher – That's what pimps say about their women.”

“We learned to precipitate mass death before we got over the neurological disorder of wishing for it.”
BILL MAHER

“Rational people, anti-religious, must end their timidity and come out of the closet and assert themselves. And those who consider themselves only moderately religious really need to look in the mirror and realize that the solace and comfort that religion brings you actually comes at a terrible price.”
BILL MAHER

“If you belonged to a political party or a social club that was tied to as much bigotry, misogyny, homophobia, violence and sheer ignorance as religion is, you'd resign in protest. To do otherwise is to be an enabler...”
BILL MAHER

































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