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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Watchmen ***

10.03.09, Rita

Realização: Zack Snyder. Elenco: Malin Akerman, Billy Crudup, Matthew Goode, Jackie Earle Haley, Jeffrey Dean Morgan, Patrick Wilson, Carla Gugino, Matt Frewer, Stephen McHattie. Nacionalidade: Reino Unido / EUA / Canadá, 2009.





Deixem-me adiantar que não li a banda desenhada de Dave Gibbons e Alan Moore, mas tenho-a lá em casa, em conjunto com um fã que me está a instigar a tratar disso o mais brevemente possível.


“Watchmen”, o filme, é necessariamente uma experiência visual, que o argumento de David Hayter e Alex Tse e a realização de Zack Snyder (“300”) consideraram com grande seriedade.


Em 1985, numa América alternativa, a guerra do Vietname é ganha pelos americanos, Richard Nixon cumpre um hipotético terceiro mandato e a guerra fria parece não ter fim à vista. Uma directiva governamental vem tornar ilegal a actividade dos super-heróis. Não que o grupo de vingadores mascarados conhecido como Watchmen seja um perigo para a sociedade, uma vez que todos os seus elementos se encontram retirados da sua actividade de combate ao crime.


Até ao momento em que um seu antigo membro, The Comedian ou Edward Blake (Jeffrey Dean Morgan), é assassinado, levantando uma ameaça sobre todos os outros que preocupa especialmente Rorshach ou Walter Kovacs (Jackie Earl Haley), um homem dedicado à sua missão sem compromissos nem cedências. Decidido a descobrir o assassino, ele começa por avisar os seus anteriores companheiros, Nite Owl ou Dan Dreiberg (Patrick Wilson), um homem isolado do mundo pela mestria com a tecnologia, e Ozymandias ou Adrian Veidt (Matthew Goode), o homem mais inteligente do mundo que montou um enorme negócio em torno da sua identidade de super-herói.


Do antigo grupo faz ainda parte o Dr. Manhattan (Billy Crudup), um homem que vive fora do espaço e do tempo, empregado pelo governo americano para, através da manipulação de partículas conter a cada vez mais provável ameaça de destruição nuclear. Num processo de distanciamento cada vez maior, a sua única ligação à humanidade, seu lado está Silk Spectre II ou Laurie Jupiter (Malin Akerman) que vive na sombra da herança familiar – a sua mãe era a original Silk Spectre (Carla Gugino) dos idos anos 40.


Desconstruindo o super-herói, “Watchmen” está preocupado com o ser humano. Estes são simples homens e mulheres que, apesar de se verem impotentes perante a maldade e sujidade do mundo, se mascaram para combater o crime. À excepção do Dr. Manhattan, o único com super-poderes, todos eles fazem uso dos seus talentos naturais, que trazem consigo qualidades, falhas e contradições humanas. Numa sociedade sem esperança e no seio de uma falência moral, eles estão destinados a ajudar a humanidade, ainda que cada um deles tenha uma visão diferente sob a forma correcta de o fazer.


Apesar da sua longa duração, “Watchmen” parece apenas aflorar estes universos individuais, já para não falar nas narrativas que tiveram de ser descartadas. No entanto, a história mantém-se consistente até ao final (tremo de pensar na tentação da sequela, ainda que o final não deixe clara – certamente não necessária – essa eventualidade).


Do ponto de vista visual, “Watchmen” tem uma extrema atenção ao detalhe. Dos fatos de capas, botas, luvas e máscaras (a de Rorschach – a sua identidade – é simplesmente maravilhosa), ao som e aos planos soberbamente construídos, é evocada a experiência de ler uma banda desenhada, chegando mesmo a haver uma fiel reprodução de algumas vinhetas. Surpreende, pois, que a caracterização seja tão fraca, prejudicando o papel de Carla Gugino e tornando ridículo o enorme nariz de Nixon.


“Watchmen” é uma obra ambiciosa e arriscada, porque parte de uma fonte densa e complexa. Através de flashbacks, o quadro de cada personagem vai-se alargando, percebemos de onde vêm e o que os motiva. Conseguimos ligar-nos a Dan e à sua falta de propósito e direcção desde que se “reformou”, à insatisfação afectiva de Laurie, sofremos com a dura perda de humanidade de Dr. Manhattan e revoltamo-nos perante as coisas que Rorschach viu e sofreu. São estas personagens, cuja força é correspondida com muito competentes interpretações (destaco Jackie Earle Haley como Rorschach), e os seus impossíveis dilemas que tornam “Watchmen” uma fábula brutal e filosófica.


Venha o livro!








CITAÇÕES:


“Adrian Veidt — It doesn't take a genius to see the world has problems.
Edward Blake — No, but it takes a room full of morons to think they're small enough for them to handle.”
MATTHEW GOODE (Adrian Veidt) e JEFFREY DEAN MORGAN (Edward Blake)


“You people don't understand. I'm not locked in here with you, you're locked in here with me!”
JACKIE EARLE HALEY (Rorschach)

“What, in life, does not deserve celebrating?”
MATTHEW GOODE (Adrian Veidt)




























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