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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Rachel Getting Married ***

21.02.09, Rita

Realização: Jonathan Demme. Elenco: Anne Hathaway, Rosemarie DeWitt, Mather Zickel, Bill Irwin, Anna Deavere Smith, Anisa George, Tunde Adebimpe, Debra Winger, Jerome Le Page. Nacionalidade: EUA, 2008.





Kim (Anne Hathaway) sai do centro de reabilitação (um dos vários nos últimos anos) para assitir ao casamento da sua irmã mais velha Rachel (Rosmarie DeWitt), com Sidney (Tunde Adebimpe, vocalista dos TV On The Radio). O pai Paul (Bill Irwin) e a madrasta Carol (Anna Deavere Smith) vão buscá-la e logo nessa viagem de carro nos apercebemos que esta é uma família com dores e rancores passados.


Apesar de estar limpa há 9 meses, e diligentemente cumprir com os procedimentos e reuniões de acompanhamento, Kim sabe que, quando olham para ela, todos vêem os seus problemas. Uma parte dela reclama por essa atenção, o que incomoda substancialmente Rachel, sempre habituada a passar para um segundo plano perante as crises da irmã. No ambiente de caos pouco controlado que é a preparação de um casamento, a instabilidade de Kim vem atiçar todas as feridas. Paul tenta mediar os conflitos, mas a sua constante preocupação e super-protecção parecem colocar todos num estado de nervos ainda maior. À medida que o casamento se aproxima, a dinâmica familiar, que inclui ainda a mãe de Rachel e Kim (Debra Winger) – uma mulher fria que se mantém à margem da vida das filhas –, vai-se tornando cada vez mais precária.


O argumento de Jenny Lumet (filha de Sidney Lumet) não dá demasiadas explicações, primando por uma subtileza honesta. O momento escolhido para observar esta família disfuncional (à sua maneira, não são todas?) implica sabermos dela apenas o que se passa neste espaço e neste tempo. Mas nada do que fica por dizer parece ser, de facto, relevante.


Jonathan Demme filma “Rachel Getting Married” como um home movie, criando um ambiente de grande intimidade. De câmara na mão, Declan Quinn faz-nos entrar numa festa. Vamos percorrendo a casa e vendo as pessoas, mas detendo-nos em apenas algumas delas. É o que sucede, por exemplo, com a personagem de Anna Deavere Smith, que quase sem qualquer fala, é extremamente presente em pano de fundo, cuidando de todos os pormenores e partilhando da dor familiar.


Este equilíbrio é também conseguido graças às interpretações sinceras de todo o elenco. Mas Anne Hathaway é, com efeito, a força motriz de “Rachel Getting Married”. Num registo inesperado mas credível, que vai da raiva à calma contemplação, ela é uma mulher que se despreza a si mesma, mas que está decidida a expiar os seus pecados.


Demme não tem o domínio que Robert Altman tinha nestas narrativas de grupo, mas o uso de Tim Squyres na montagem, também responsável por “Gosford Park”, não parece ter sido casual. No entanto, o ritmo de “Rachel Getting Married” não raras vezes esmorece, como uma festa na sua fase final, deixando o espectador um pouco à deriva.


Uma família erra, tem ciúmes e rivalidades. Uma família ri e ama intensamente. Uma família partilha e perdoa. “Rachel Getting Married” fala, e o seu grande mérito é nem sequer o dizer, de um conceito universal (e multicultural) de família, pelo qual aceitamos o outro de coração aberto e sem restrições.

















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