Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Frost / Nixon ***

15.02.09, Rita

Realização: Ron Howard. Elenco: Frank Langella, Michael Sheen, Sam Rockwell, Kevin Bacon, Matthew MacFayden, Oliver Platt, Rebecca Hall, Toby Jones. Nacionalidade: EUA / Reino Unido / França, 2008.





“Frost/Nixon” é a adaptação ao cinema da peça de teatro de Peter Morgan, responsável também pelo argumento, e que relata o conjunto de entrevistas dadas em 1977 pelo já retirado presidente Richard Nixon (Frank Langella) ao apresentador inglês David Frost (Michael Sheen).


Destruído pelo caso Watergate, Nixon vê esta entrevista como a possibilidade de limpar a sua imagem para voltar à cena política. Por sua vez, Frost, um playboy relegado para a apresentação de programas na televisão australiana, ambiciona a credibilidade de um trabalho sério. Os americanos, esses, anseiam pelo julgamento que nunca haveria de ter lugar, após o perdão concedido pelo presidente seguinte Gerald Ford.


À semelhança da peça que tinha já sido protagonizada por Langella e Sheen, também o filme depende, essencialmente, destes dois actores e do jogo de força que se faz entre ambos. Ron Howard sabe disso, por isso afasta-se pouco e faz uso de cenários reais como a casa de Nixon em San Clemente (Califórnia) ou o quarto de hotel de Frost. Quando o filme se distrai em elementos secundários torna-se aborrecido e supérfluo. Construído como um combate de boxe, de um lado está a equipa de Frost, composta pelo seu amigo e produtor John Birt (Matthew MacFayden), o jornalista Bob Zelnick (Oliver Platt) e o investigador James Reston Jr. (Sam Rockwell). Do lado de Nixon está Jack Brennan (Kevin Bacon), o seu dedicado chefe de gabinete, Swifty Lazar (Toby Jones), o seu agente, e uma equipa de consultores onde se destaca uma jovem Diane Sawyer (Kate Jennings Grant).


Se Nixon é indubitavelmente o vilão, o argumento de Morgan confere-lhe a humanidade necessária para evitar a caricatura. Nixon sabe que não é popular, mas sabe também que não carrega nos ombros todas as culpas (algumas delas herdadas do popular J. F. Kennedy). Ele é astucioso na forma como se evade das perguntas de Frost e se arrasta em divagações sobre a sua carreira. Ele não possui a personalidade mediática de Frost, mas consegue ser provocador e sair vitorioso e beneficiado de cada pergunta.


Perante a exasperação e o desespero dos seus companheiros, Frost, que começou por ser ridicularizado pela sua presunção nesta entrevista, é instigado a interromper Nixon e a insistir nas perguntas até obter uma resposta. Ele tem mais em jogo que a sua reputação: o grosso da quantia paga a Nixon pelas entrevistas (600.000 dólares) saiu do seu próprio bolso e grande parte do tempo (do filme e das entrevistas) é passado com Frost tentando arranjar financiamentos. Esta “ausência” de Frost, aliada ao facto de Nixon ser o elemento mais forte da equação, cria uma estranha dinâmica, pois até a “vitória” de Frost lhe é dada por Nixon num episódio ficcional de discutível valor dramático.


A interpretação de Langella, com um adequado doseamento dos maneirismos do presidente americano, é tão absorvente que nos abstraímos das sua falta de parecença física com Nixon. Michael Sheen fica na sua sombra, mesmo quando cresce de um inofensivo “entrevistador” ao “interrogador” que arranca a Nixon a tão catártica confissão.


Se Nixon, o homem, conseguiu, com a admissão de culpa, libertar-se para continuar com a sua vida. Nixon, o político, foi executado. A História, no entanto, foi-lhe benéfica, quando colocou no mesmo cargo e durante os últimos oito anos, um presidente assustadoramente pior.


“Frost/Nixon” é um duelo de vontades, debatido entre Frost e Nixon mas também por cada um deles com a consciência das suas próprias decisões e acções. A redenção só pode chegar quando aos valores e princípios defendidos se faz equivaler uma igual responsabilidade. Com momentos de silêncio e imobilidade, os intensos minutos finais do “combate” Frost/Nixon fazem a espera merecer a pena.






CITAÇÕES:


“David Frost – Are you really saying the President can do something illegal?
Richard Nixon – I'm saying that when the President does it, that means it's NOT illegal!
David Frost – ...I'm sorry?”
MICHAEL SHEEN (David Frost) e FRANK LANGELLA (Richard Nixon)


“I let them down. I let down my friends, I let down my country, and worst of all I let down our system of government, and the dreams of all those young people that ought to get into government but now they think; 'Oh it's all too corrupt and the rest'. Yeah... I let the American people down. And I'm gonna have to carry that burden with me for the rest of my life. My political life is over.”
FRANK LANGELLA (Richard Nixon)

“You know the first and greatest sin of the deception of television is that it simplifies; it diminishes great, complex ideas, trenches of time; whole careers become reduced to a single snapshot. At first I couldn't understand why Bob Zelnick was quite as euphoric as he was after the interviews, or why John Birt felt moved to strip naked and rush into the ocean to celebrate. But that was before I really understood the reductive power of the close-up, because David had succeeded on that final day, in getting for a fleeting moment what no investigative journalist, no state prosecutor, no judiciary committee or political enemy had managed to get; Richard Nixon's face swollen and ravaged by loneliness, self-loathing and defeat. The rest of the project and its failings would not only be forgotten, they would totally cease to exist.”
SAM ROCKWELL (James Reston, Jr.)