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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Valsa com Bashir ****1/2

19.01.09, Miguel Marujo

Realização: Ari Folman. Argumento: Ari Folman. Nacionalidade: Israel, 2008.

 

 

 

Comecemos pelo fim – afinal, o filme conta uma história conhecida: os massacres de Sabra e Chatila, na guerra do Líbano, em 1982. No fim, o que vemos é a história então contada ao mundo pelas câmaras de televisão. Sabra e Chatila eram dois campos de refugiados palestinianos. Sob a complacência israelita, cristãos libaneses massacraram inocentes, mulheres, crianças, velhos. O que vemos no ecrã é o regresso de sobreviventes aos campos – que choram e gritam. A dor já não é filtrada pelas cores intensas do desenho que é este filme de Ari Folman. Mas antes, em 90 minutos, esta “Valsa com Bashir” só podia ser contada assim, em animação: o protagonista confronta-se com a sua memória que apagou os dias da guerra no Líbano e decide partir em busca do que foram esses dias. A sua descoberta é a nossa.

 

Comecemos pelo princípio. Folman é um realizador israelita e foi soldado na guerra de 1982. Mais de 20 anos depois, um encontro com um amigo traz-lhe à memória esses dias, de que não se lembra, de que apagou o registo. A partir daí o filme constroi-se de encontros entre camaradas de armas onde Ari vai reconstruindo a sua ida à guerra. A sua viagem é nossa também e à medida que ele compõe o quadro do que aconteceu naquele ano, o espectador vai construindo também a teia complexa em que se enredou já há muito o Médio Oriente.

 

Nestes dias em que a guerra voltou a essas paragens (afinal, algum dia terá parado?), “Valsa com Bashir” apresenta-nos um olhar notável de inteligência e beleza, de sonho e mesmo humor sobre os eternos conflitos da região. Por entre as cores fortes, a atenção aos detalhes de som e imagem, o olhar quase terno das personagens sobre o seu passado, as ideias feitas são desarrumadas. No meio dos tiros, Ari Folman põe-nos a dançar a valsa, para sublinhar o absurdo da guerra, de qualquer guerra. Excelente filme.

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