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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Hallam Foe ***

06.01.09, Rita


 

Realização: David Mackenzie. Elenco: Jamie Bell, Sophia Myles, Ciarán Hinds, Jamie Sives, Maurice Roëves, Ewen Bremner, Claire Forlani. Nacionalidade: Reino Unido, 2007.



 



 

Hallam Foe (Jamie Bell) é um adolescente que, desde o suicídio da sua mãe, vive numa casa construída numa árvore na propriedade do pai (Ciarán Hinds). É daí que espreita os seus vizinhos, rodeado de fotografias ampliadas da mãe naquilo que mais parece um altar. Hallam está convencido de que a sua madrasta (Claire Forlani) está envolvida na morte da mãe, e, com a determinação em provar a sua culpa, Hallam acaba por se exceder e decide fugir para Edimburgo. Aí, ele arranja uma nova obsessão: Kate (Sophia Myles), uma empregada de um hotel com uma perturbante semelhança física com a mãe de Hallam.
 

Baseado no livro de Peter Jinks, “Hallam Foe” é um atípico coming of age, simultaneamente negro e romântico. A realização inteligente de David Mackenzie (“Young Adam”, “Asylum”), a par da interpretação de Jamie Bell (“Billy Elliot”, “Dear Wendy”) que combina brilhantemente paranóia e vulnerabilidade, fazem com que o comportamento de Hallam, apesar de claramente perturbado, nunca nos cause repulsa.


 

Usando os telhados de Edimburgo como forma de libertação, Mackenzie conduz-nos a um mundo estranho e angustiante onde o humor é compensado por uma sombra de tragédia. O olhar da câmara é, muitas vezes, o mesmo olhar exterior de Hallam. Através de binóculos, ramos de árvores, portas ou janelas partidas, ele invade o mundo de outros, definindo-se a si mesmo em oposição a, ou em identificação com, eles.


 

Mais do que uma questão edipiana, Hallam condensa memórias e emoções num ídolo (ideal) que lhe dá segurança perante a imprevisibilidade do mundo. Quando obrigado a enfrentar uma verdade que vem desmantelar a sua estrutura, o seu instinto é criar mecanismos que protejam a sua recém-adquirida, mas frágil, realidade.


 

A busca de uma identidade própria é uma das grandes aventuras da existência. Entre rupturas e confrontos, esse é um caminho que só se pode fazer em direcção ao nosso interior. A maturidade chega quando percebemos que é possível encantarmo-nos com a realidade mais banal.



 




 

CITAÇÕES:


 

“Sometimes I want sweet. Sometimes I want sour. Sometimes I don't know what I want. My shit stinks. I'm going to die one day.”
SOPHIA MYLES (Kate)