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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Os Três Macacos **

05.01.09, Rita

T.O.: Üç Maymun. Realização: Nuri Bilge Ceylan. Elenco: Yavuz Bingol, Hatice Aslan, Rifat Sungar, Ercan Kesal, Cafer Köse, Gürkan Aydin. Nacionalidade: Turquia / França / Itália, 2008.





Depois do belíssimo “Iklimer - Climas”, esperava do realizador turco Nuri Bilge Ceylan mais um filme avassalador. Infelizmente, e por alguma razão que nem consigo apontar (certamente não por culpa das fortes interpretações) não consegui estabelecer qualquer ligação às personagens ou às suas emoções.


Após acidentalmente atropelar um peão, e perante a perspectiva de iminentes eleições, o político Servet (Ercan Kesal) convence o seu motorista Eyüp (Yavuz Bingol) a assumir a sua culpa em troca de uma generosa quantia que, além do salário mensal, lhe será paga quando sair da prisão. À medida que os nove meses da pena de Eyüp se arrastam, o seu filho Ismail (Rifat Sungar) pressiona a mãe, Hacer (Hatice Aslan), para que peça um adiantamento a Servet para poder começar um pequeno negócio de transporte de crianças.


Pegando na metáfora dos três macacos: Mizaru, que, cobrindo os olhos, não vê o mal; Kikazaru, que, cobrindo os ouvidos, não ouve o mal; e Iwazaru, que, cobrindo a boca, não fala o mal; este filme debruça-se sobre a incapacidade das personagens comunicarem entre si. Na ausência de alicerces morais ou, pelo menos, de uma consideração cuidadosa, eles não medem as consequências das suas acções. E depois, perante os seus erros, eles preferem evitar a verdade, torturando-se na esperança que os seus problemas desapareçam pelo simples acto de os ignorar.


Em contraponto à casa soturna onde a família vive, abre-se uma janela sobre o mar. O mesmo vislumbre de liberdade que Hacer tem com a prisão do marido. Nuri Bilge Ceylan repete a parceria de “Iklimer - Climas” com o director de fotografia Gokhan Tiryaki, conseguindo belíssimas composições em alta definição e criando um ambiente de angústia e opressão numa paleta de castanhos e cinzentos.


Primando por uma cuidada subtileza, mas ao mesmo tempo também por uma lentidão extenuante, “Os Três Macacos” (cuja responsabilidade do argumento se reparte entre Nuri Bilge Ceylan, a sua mulher Ebru Ceylan e Ercan Kesal) perde-se no simbolismo (por vezes fantasmagórico) e desperdiça a tensão criada entre as suas personagens.


Se “Os Três Macacos” é a sociedade imatura onde, em detrimento das implicações a longo prazo, se decide apenas em função dos benefícios imediatos, é também a sociedade miserável onde a morte de um desconhecido nos deixa indiferentes. Não deixa de ser curioso olhar para o ressentimento como um alarme da nossa (escondida) moralidade.