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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Quatro Noites Com Anna ***

04.01.09, Rita

T.O.: Cztery noce z Anna. Realização: Jerzy Skolimowski. Elenco: Artur Steranko, Kinga Preis, Jerzy Fedorowicz, Redbad Klijnstra. Nacionalidade: Polónia / França, 2008.





Após 15 anos, durante os quais entre outras coisas interpretou o avô russo de Naomi Watts em “Eastern Promises”, o polaco Jerzy Skolimowski inspirou-se numa notícia lida num jornal e regressou à realização com uma história de amor obsessivo.


Um homem dolorosamente tímido compra um machado e movimenta-se de forma suspeita por uma aldeia desolada. Numas instalações decrépitas vemo-lo prestes a incinerar uma mão humana. A banda sonora de Michal Lorenc cria o ambiente do crime iminente e cremos estar perante um perigoso assassino.


“Quatro Noites Com Anna” começa por prender-nos a atenção como um thriller para logo nos envolver numa história de amor impossível. Gradualmente, o nevoeiro criado pelo argumento de Eva Piaskowska e Jerzy Skolimowski, vai-se dissipando, e conhecemos Leon Okrasa (Artur Steranko), um homem de meia-idade que toma conta da sua avó doente e que trabalha no crematório de um hospital. Incapaz de estabelecer contacto visual com outra pessoa, Leon vive obcecado pela enfermeira Anna (Kinga Preis), espiando-a nos dormitórios do hospital. Leon aproveita os comprimidos de dormir da sua avó para drogar o açúcar que Anna usa todas as noites no seu chá. Aproveitando o seu sono, ele entra no quarto dela e, durante quatro noites. Começando por simplesmente a observar, Leon acaba por imergir na sua vida nos mais pequenos detalhes.


Somos tirados do meio deste “romance” abruptamente e recorrentemente. Através de flashbacks que conduzem a um interrogatório, Jerzy Skolimowski preenche as lacunas da história até à raiz da obsessão de Leon por Anna. Com um agudo sentido dramático, Skolimowski assume inteiramente o ponto de vista de Leon. Do seu objecto de afecto sabemos tanto quanto ele, quase nada. Anna está distante também do espectador. Num voyeurismo passivo que faz lembrar Hitchcock, a câmara assume o lado autista e patético, mas também dócil, de Leon.


A fotografia cinzenta de Adam Sikora reforça a escuridão, a sujidade, a desolação, o desconforto. Enquanto a realização de Skolimowski, com um breve humor negro, reflecte a consciência fracturada do seu protagonista, a sua confusão, a sua humilhação. A interpretação física de Artur Steranko vai da repulsa à pena, à medida que ele se arrisca cada vez mais a ser descoberto.


Com deliciosos pormenores surrealistas, e num ritmo muito próprio, “Quatro Noites Com Anna” é um filme sobre a violência da invasão. Seja ela ríspida ou suave. Física ou emocional.
















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