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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Les Revenants **

15.10.05, Rita

Realização: Robin Campillo. Elenco: Géraldine Pailhas, Jonathan Zaccaï, Frédéric Pierrot, Victor Garrivier, Catherine Samie, Djemel Barek, Marie Matheron, Saady Delas. Nacionalidade: França, 2004.





Pessoas que morreram durante os últimos dez anos voltam à vida numa pequena cidade francesa. O presidente da câmara e os seus delegados reúnem-se para fazer face ao súbito excesso de população. Mas a logística talvez seja o menor problema que terão de enfrentar.


A primeira meia hora do filme ilustra a angústia imediata de um acontecimento que vem alterar não só a vida de várias famílias, mas também a estrutura social de uma cidade que tem, de repente, de absorver no seu mercado de trabalho e no sistema de segurança social um considerável número de pessoas.


São três as histórias que acompanhamos: Rachel (Géraldine Pailhas), Isham (Djemel Barek) e o presidente da câmara (Victor Garrivier) reencontram, respectivamente, o marido Mathieu (Jonathan Zaccaï), a mulher Martha (Catherine Samie) e o filho Sylvain (Saady Delas). No fundo, cada um dos “retornados” simboliza o regresso do que nunca desapareceu, ou seja, a culpa, o arrependimento e os erros dos vivos. Estranhamente, nenhum dos retornos se reveste de uma envolvente de alegria pelo reencontro.


O mérito de Robin Campillo (argumentista de “L’Emplois du Temps” (2001), de Laurent Cantet) é de romper com o estereótipo dos mortos-vivos. Estes não são violentos, apenas ecos do seu próprio passado. Presos de uma afasia generalizada, com dificuldade em se expressar, passeiam como sonâmbulos sem destino no meio da noite. Infelizmente, parece que os vivos padecem do mesmo mal, comportando-se com idêntica lentidão.


Os diálogos são pobres e é a falta de curiosidade dos vivos sobre os outros é inverosímil, ninguém se pergunta como nem porquê. E, num clima de profundo aborrecimento, roçando o morto-vivente, chega um final, que esperaríamos respondesse a algumas questões, mas que é completamente vazio.


A difícil reaproximação entre Rachel e Mathieu vive de uma interpretação perturbante de Jonathan Zaccaï (“Le Rôle de sa Vie”,“Entre ses Mains”), de quem, em todo o momento, esperamos uma explosão, e de uma irritante neutralidade de Géraldine Pailhas (“L’Adversaire”, “5x2”).


Temas como a reinserção, a memória, a dor da perda, que daria uma abordagem interessante a um filme deste tipo, são apenas aflorados, mas sem grande consequência. O mecanismo de “suspension of disbelief” teria que ser levado a um extremo por parte dos espectadores para poder aceitar as incongruências de um argumento que queria ser mais do que é.


Os estereótipos, pelo menos, funcionam.