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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

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CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Le Silence de Lorna **1/2

15.12.08, Rita

Realização: Jean-Pierre e Luc Dardenne. Elenco: Arta Dobroshi, Jérémie Renier, Fabrizio Rongione, Alban Ukaj, Morgan Marinne, Olivier Gourmet, Anton Yakovlev, Grigori Manoukov. Nacionalidade: França, 2008.





O mais recente filme dos imãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, cujos “Rosetta” e “L’Enfant” receberam a Palma de Ouro em Cannes, é possivelmente o menos hermético de todos, mas é também o menos impactante.


“Le Silence de Lorna” começa por acompanhar o quotidiano de Lorna (Arta Dobroshi), uma jovem imigrante albanesa em Liège. Rapidamente percebemos que o seu casamento com Claudy (Jeremie Renier), viciado em heroína, não passou de uma troca comercial: a compra da nacionalidade. O esquema montado por Fabio (Fabrizio Rongione), tem, no entanto, outro propósito: matar Claudy para que Lorna possa casar com um russo, que adquirirá, por sua vez, a nacionalidade belga. Com o dinheiro do negócio, Lorna pensa abrir um snack bar com o seu namorado Sokol (Alban Ukaj). Claudy decide deixar a droga, tornando-se pesadamente dependente de Lorna nesse processo. Apesar de tentar desprezá-lo, Lorna tenta evitar a sua morte insistindo num divórcio, para que ninguém saia ferido. Bem, ninguém excepto ela.


Sem delongas, os irmãos Dardenne mergulham-nos na vida de Lorna. Diante dos nossos olhos, o puzzle da sua vida vai-se montando, numa cuidada gestão de informação que, mais do que um mecanismo de suspense, reflecte o despertar moral da personagem principal. É esta certa urgência, este desespero, aquilo que mais surpreende face à obra destes realizadores (que, para mim, têm o seu maior triunfo com “Le Fils”).


Mas à semelhanças dos seus outros filmes, também “Le Silence de Lorna” constitui um exame sério das relações humanas, da ética a elas inerente, do despertar para as necessidades do outro, da fragilidade do ser humano, da sua exploração como objecto último do capitalismo.


O que impede que “Le Silence de Lorna” se torne um drama criminal, é a indiferença que existe face ao crime em si. Não interessa saber se Claudy vive ou morre. O que importa é saber como Lorna pode viver consigo mesma e com as suas decisões. O “silêncio” de Lorna pode ser alvo de múltiplas leituras: o silêncio a que se vota o outro, despersonalizando-o, ou o silêncio a que se é votado, num mundo que insiste em ignorar o sofrimento do indivíduo.


Arta Dobroshi (uma parecença espantosa com a actriz Ellen Page) é de uma intensidade calma, quase glacial. Sujeita aos desejos de homens, protege-se com uma falsa dureza. Inescrutável, como é habitual nos protagonistas dos Dardenne. Também esteticamente, eles se mantêm fiéis a si mesmos: a luz natural, o som despido de efeitos, a imagem granulada.


A transformação tem os seus custos, mas os irmãos Dardenne asseguram-nos que é ainda possível acreditar na capacidade de mudança. Salvar o outro pode ser exactamente o mesmo que salvarmo-nos a nós próprios.

















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