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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Vipère au Poing ****

16.10.05, Rita

Realização: Philippe de Broca. Elenco: Catherine Frot, Jacques Villeret, Jules Sitruk, Cherie Lunghi, Hannah Taylor-Gordon, Richard Bremmer, Sabine Haudepin, William Touil, Wojciech Pszoniak, Pierre Stévenin, Annick Alane. Nacionalidade: França / Reino Unido, 2004.





Primeiro volume de uma trilogia autobiográfica da autoria de Hervé Bazin, “Vipère au Poing” (De Víbora na Mão) conta a história da infância de Jean Rezeau no seio da sua família burguesa. Em 1922, depois da morte da sua avó paterna, Jean (Jules Sitruk), de 10 anos, e o seu irmão mais velho Freddy (William Touil), reencontram os pais, regressados da Indochina com um novo irmão, Marcel (Pierre Stévenin). Paule Rezeau (Catherine Frot), rapidamente apelidada pelos filhos de “Folcoche” (contracção de “folle” – louca – e “cochonne” – porca), é uma autêntica megera, o protótipo da rainha má dos contos infantis, fazendo uso de todas as armas ao seu dispor para tornar a vida dos filhos um autêntico inferno.


Autoritária, sádica, calma, calculista, de uma impressionante frieza e com um ódio natural, um papel em que Catherine Frot se excede a si mesma (depois da sua doçura em “Les Soeurs Fâchées” é um prazer vê-la fazer de má), Paule trava um autêntico combate com Jean (depois de “Monsieur Batignole”, Sitruk mostra mais uma vez as suas potencialidades).


Jacques Villeret está também genial no papel do marido submisso e apagado, absorvido pelo estudo das moscas, com um olhar que pode ir da triste resignação à alegria recalcada. As emoções dramáticas de “Vipère au Poing” são ainda ampliadas pela música de Brian Lock.


Philippe de Broca, que admite ter usado um tom menos ácido que o do livro, faz um inteligente uso da ironia para descrever o universo terrível em que se movem estas personagens. Entre o riso e o choque, entre o fascinante e o horripilante, o espírito de vingança invade cada canto daquela casa.


Um pequena visita à infância de Paule permite compreendê-la melhor, mas não desculpá-la. Aliás, o tom de redenção é quase inexistente. No entanto, paira no ar um certo optimismo, talvez relacionado com o facto de todo este passado ter estado na base do processo criativo de Hervé Bazin. No final, fica um certo sabor a Dickens.






CITAÇÕES:


“La vie est court, trés court. Surtout a la fin.”
ANNICK ALANE (Avó Rézeau)