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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Cartouches Gauloises **1/2

10.11.08, Rita

Realização: Mehdi Charef. Elenco: Ali Hamada, Thomas Millet, Julien Amate, Tolga Cayir, Mohammed Medjahri, Sabrina Senoussi, Nassim Meziane. Nacionalidade: França, 2007.





É o último Verão da Guerra da Argélia. 1962. O mundo de Ali (Ali Hamada) e do seu melhor amigo Nico (Thomas Millet) ameaça mudar rápida e radicalmente. À medida que a França vai abandonando o país, multiplicam-se os actos de violência. E o grupo de amigos, que inclui ainda o judeu David (Julien Amate) e o italiano Gino (Tolga Cayir) vê-se separado pelos acontecimentos.


Se “Cartouches Gauloises” é marcado pela delicadeza e pela sinceridade é porque se trata de uma obra auto-biográfica. Através do olhar inocente mas não ingénuo de uma criança, Mehdi Charef (autor do segmento ‘Tanza’ do filme “All The Invisible Children”) mostra-nos uma versão parcial – porque apenas parte e porque tendenciosa.


Infelizmente, nestas recordações todas as personagens se tornam clichés, o soldado francês, a prostituta, o chefe da estação de comboios. Apenas Ali, numa interpretação de extrema naturalidade por parte de Hamada, parece ter densidade. Como vendedor de jornais Ali é ao mesmo tempo mensageiro e testemunha de tudo o que ocorre ao seu redor. A sua pureza impede-o de julgar, e o olhar de Mehdi Charef é o de quem ainda não compreendeu inteiramente muitos daqueles acontecimentos. Talvez porque o Homem, no limite, não pode ser desculpado.


O ritmo de “Cartouches Gauloises” é lento e, apesar da boa fotografia, parece andar um pouco à deriva. Tal como um país que tenta equilibrar-se pelos seus próprios pés, ao ser abandonado por uma mãe que nem sequer o tratou bem: algum alívio, muito receio e suficiente esperança.


Se assistimos aqui à formação de uma consciência nacional em pequenos cidadãos somos também confrontados com a mais clara das evidências na metáfora de um país (mundo?) que é a cabana construída por aquele grupo de amigos, indiferentes às suas “diferenças”.






CITAÇÕES:


“Cette cabane est aussi à moi, je l’ai construite aussi!”
THOMAS MILLET (Nico)