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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

The Savages ****

16.09.08, Rita

Realização: Tamara Jenkins. Elenco: Laura Linney, Philip Seymour Hoffman, Philip Bosco, Peter Friedman, David Zayas, Gbenga Akinnagbe, Cara Seymour, Tonye Patano. Nacionalidade: EUA, 2007.





Quando a mulher o abandonou, Lenny Savage (Philip Bosco) tornou-se um pai solteiro muito longe do exemplar. Já adultos, os seus filhos ainda lhe guardam profundos rancores. Wendy, (Laura Linney) é uma aspirante a dramaturga de 39 anos que vive em Nova Iorque e que tem em mãos uma peça de teatro subversiva e auto-biográfica. Jon (Philip Seymour Hoffman) de 42 anos é autor de livros sobre teatro e dá aulas sobre Bertolt Brecht numa universidade em Buffalo.


Após a morte da namorada Doris, em Sun City, Arizona, Lenny vê-se à beira do desalojamento quando os filhos de Doris querem vender a casa. Num agravado processo de demência, Lenny começa a escrever na parede com os seus próprios excrementos. Egoístas e egocêntricos, Wendy e Jon dão por si a ter de tomar conta de um pai que nunca tomou conta deles. Enquanto Jon procura uma casa de repouso em Buffalo, Wendy vê-se repentinamente no papel maternal.


É a sensibilidade da realizadora e argumentista Tamara Jenkins que fazem de “The Savages” a pequena pérola que é (ingratamente relegado numa passagem directa a DVD). O diálogo é aguçado e mordaz, sem que as personagens sejam extraordinariamente engraçadas ou talentosas. As suas dores de crescimento são as de toda a gente. Sem tragédias imensas, ou grandes cenas de choro, o sofrimento é vivido, essencialmente, em silêncio. A culpa desesperada de escolher um lar, a tentativa de tornar esse lar confortável para minimizar um acto que se interpreta de abandono. Porque esta cultura não venera os seus idosos, mas também não sabe aceitar o fim.


Wendy e Jon são forçados a olhar para o seu passado e para o seu presente, mas Jenkins recusa entrar nos horrores das suas infâncias, porque as razões não interessam. O que é importante é como lidam eles com as suas cicatrizes, essa incapacidade que ficou de assumirem plenamente as suas relações. Wendy vive uma relação sem futuro com um homem casado, limitando o seu apego a um gato e um feto. Jon, tem uma namorada polaca a quem se recusa pedir em casamento, que seria a única forma de a manter nos Estados Unidos.


E tudo isto é feito de pequenos momentos, pequenas palavras, pequenos olhares, sem melodramas e sem maus da fita. A subtileza e a sinceridade das interpretações tornam difícil ver ali dois actores. Também porque Jenkins é dura com as suas personagens. “The Savages” assume a ausência de uma solução-chave para lidar com o envelhecimento ou a morte de um progenitor.


Ninguém sobrevive intacto à sua infância. Não é suposto. O que sim, devemos a nós mesmos, é acreditar no nosso direito à felicidade.






CITAÇÕES:


“We don't have to go after him Wendy; we're not in a Sam Shepard play.”
PHILIP SEYMOUR HOFFMAN (Jon)

“Maybe dad didn't abandon us. Maybe he just forgot who we were. ”
LAURA LINNEY (Wendy)

“Jimmy – Are you married?
Wendy – No... but my boyfriend is.”
GBENGA AKINNAGBE (Jimmy) e LAURA LINNEY (Wendy)























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