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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Louise-Michel ****1/2

30.04.09, Rita


 

Realização: Gustave de Kervern e Benoît Delépine. Elenco: Yolande Moreau, Bouli Lanners, Benoît Poelvoorde, Albert Dupontel, Mathieu Kassovitz, Francis Kuntz. Nacionalidade: França, 2008.



 



 

Com “Louise-Michel”, os realizadores do irreverente “Aaltra”, Gustave de Kervern e Benoît Delépine, regressam ao registo politicamente incorrecto mas genialmente hilariante.


 

Esticando o absurdo até ao limite do bom gosto, o filme aproveita o nome da anarquista francesa Louise Michel (1830-1905) para, denominando também os protagonistas, lançar o mote de caos e loucura anárquica desta comédia negra sobre a injustiça de um mundo laboral dominado pelos interesses (meramente financeiros) das grandes corporações. O tom ultrajante (e humilhante) do humor destes realizadores-argumentistas é dado pela cena inicial num crematório, apesar de desligada do restante contexto do filme.


 

Na região da Picardia, em França, um grupo de trabalhadoras de uma fábrica, após um despedimento sem qualquer aviso, decidem juntar as magras indemnizações num total de 20.000 euros para um projecto em comum, onde terão maiores probabilidades de sucesso. Numa sessão de brainstorming, onde é descartada a ideia de abrir uma pizzaria ou fazer um calendário de nus, a analfabeta e associal Louise (Yolande Moreau) sugere que se contrate um assassino a soldo para matar o patrão. Sem hesitação, todas concordam com a ideia.


 

Por obra do acaso, Louise repara em Michel (Bouli Lanners), quando este, sem se aperceber, deixa cair no chão uma arma artesanal elaborada pelo seu vizinho. Michel é um totalmente inapto perito (?) em segurança, encarregue da vigilância de um parque de caravanas. Aceitando a missão sem hesitações à simples menção do montante, a grande dificuldade de Michel será apertar o gatilho, chegando a pedir o favor a uma prima que está numa fase terminal de cancro.


 

Quanto mais defeitos Kervern e Delépine colocam nas suas personagens, mais gostamos delas. Louise é horrenda e nojenta, caça pombos para jantar porque metade do seu ordenado vai para a comissão do chefe que lhe fez o favor de arranjar trabalho (e se aproveita dela para uma das situações mais kinky que já vi no cinema), e não hesita em matar o agente bancário que lhe vem falar das suas dívidas e insiste para que ela leia o contrato.


 

À medida que as circunstâncias se complicam, é impossível não torcermos por estes seres irreais (tão irreais que nenhum deles é o que parece). Às suas limitações intelectuais corresponde um ilimitado leque de complicadas emoções. Às suas acções histriónicas corresponde uma tristeza calada e uma solidão profunda. Só dois actores com a dimensão interpretativa de Yolande Moreau e Bouli Lanners poderiam conferir credibilidade às mais dúbias situações.


 

E depois temos ainda direitos aos mimos de Benoît Poelvoorde no papel do vizinho engenheiro metalúrgico com paranóias de conspiração e de Mathieu Kassovitz,(também produtor) como dono de um Bed & Breakfast ecológico com uma mulher adormecida.


 

Numa sociedade que obriga as pessoas a negarem as suas próprias identidades ou que, em sentido inverso, as obriga a mudar para que possam encaixar dentro de estreitos limites, o carácter único destas personagens e o imediatismo básico das suas necessidades, mesmo que louco e improvável, é de uma inegável e divertida frescura.




 

Una Semana Solos ***

29.04.09, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Celina Murga. Elenco: Magdalena Capobianco, Eleonora Capobianco, Natalia Gómez Alarcón, Ignacio Gimenez, Lucas del Bo, Gastón Luparo, Ramiro Saludas, Federico Peña, Manuel Aparício, Mateo Braun. Nacionalidade: Argentina, 2007.


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ALIGN=JUSTIFY>À semelhança da conterrânea Lucrecia Martel em “La Mujer Sin Cabeza”, em “Una Semana Solos” Celina Murga (“Ana Y Los Otros”) dá também a sua visão do aborrecimento da burguesia argentina. Aqui com um sonoro “Martin Scorsese presents” antes dos créditos iniciais.

ALIGN=JUSTIFY>Sem preparação, caímos no meio dos hábitos diários de um grupo de jovens, cujas relações familiares só a pouco a pouco se tornam claras. Sob a supervisão tolerante, e quase despercebida, da empregada Esther (Natalia Gomez Alarcon), estes adolescentes e pré-adolescentes, jogam computador, distraem-se na piscina, e quando já nada os entusiasma, aproveitam para entrar nas casas dos vizinhos que, como eles, se encontram desocupadas.

ALIGN=JUSTIFY>O argumento de Murga e Juan Villegas não se centra em nenhum dos jovens em particular, ainda que haja um ligeiro foco em María (Magdalena Capobianco), a mais velha do grupo e o elo de ligação (telefónico) com os adultos que deveriam estar a tomar conta deles. A ausência dos pais nunca é justificada com nenhum motivo concreto, ainda que se subentenda uma actividade de lazer e se perceba o eterno adiar do regresso (à responsabilidade?).

ALIGN=JUSTIFY>O condomínio privado onde eles vivem é uma comunidade fechada, com estritas regras de funcionamento e, cedo nos começamos a aperceber, que o que os protege não são mais do que doces cadeias de uma prisão de luxo.

ALIGN=JUSTIFY>O aparecimento de Juan (Ignacio Gimenez), o irmão de Esther, como ela oriundo de uma pobre povoação de Entre Rios, vem destabilizar a homogeneidade do grupo que, em nenhum momento, se sente confortável na sua presença. Mesmo quando Esther sugere que o irmão acompanhe alguns dos outros rapazes à piscina pública e se pressente uma aproximação entre eles, essa ilusão é abandonada quando o irmão de María, Facundo (Lucas del Bo), traz uma coca-cola para os outros dois, mas não para Juan.

ALIGN=JUSTIFY>Aqui está um grupo de jovens que respeita uma série de regras absurdas sem sequer as questionar (como a impossibilidade de levar ténis calçados para o recinto da piscina pública), mas que não vêem qualquer problema em decidir simplesmente não ir à escola, ou invadir a privacidade dos seus pares. Mas nada disto é feito com estrondo. Murga contém as emoções e as tensões, tudo é subtil: a primeira aparência de rufia de Juan, a humilhação de que ele é objecto para entrar no condomínio, os preconceiros, as relações emocionais (o interesse, o ciúme), a exposição da mesquinhez e a vergonha na atribuição de culpas.

ALIGN=JUSTIFY>O isolamento físico destes jovens representa um isolamento social muito maior. Ignorantes e despreocupados, eles não têm consciência desse outro mundo. Quando, no regresso da escola, María observa pela janela do autocarro um bairro de lata (um outro estilo de “condomínio privado” onde a dificuldade reside em sair e não em entrar), a sua expressão é vazia de entendimento. Olhar não é, de todo, o mesmo que ver.

ALIGN=JUSTIFY>O conjunto de interpretações surpreendentemente naturais confere a dose de indiferença das gerações a quem nada nunca faltou. Habituados que estão a que o mundo se limpe sozinho depois dos seus estragos, ceder a todos os caprichos sem pensar nas consequências ou nos sentimentos dos outros é o seu modus operandi. O seu desprezo pelos bens materiais vai tendo efeitos destrutivos cada vez maiores. Como se, de cada vez, a catarse só fosse possível indo um pouco mais além.

ALIGN=JUSTIFY>Confesso que a minha satisfação pessoal exigia uma solução mais dramática. Ou talvez fosse o meu cinismo que esperava o óbvio. Mas suponho que ultrapassar o comportamento aceitável tem diferentes consequências dependendo da qualidade dos infractores. O mundo continua a não ser justo: ensinar não implica, necessariamente, aprender.








This Is England ***

26.04.09, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Shane Meadows. Elenco: Thomas Turgoose, Stephen Graham, Jo Hartley, Andrew Shim, Vicky McClure, Joe Gilgun, Rosamund Hanson, Andrew Ellis. Nacionalidade: Reino Unido, 2006.


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ALIGN=JUSTIFY>Na Inglaterra de 1983 Shaun (Thomas Turgoose) é um rapaz de 12 anos, cujo pai morreu recentemente na Guerra das Falkland. Sem amigos na escola, onde os colegas se divertem a gozar com as suas roupas fora de moda, Shaun é um triste solitário, a quem nem a mãe (Jo Hartley) consegue consolar. Um dia, a caminho de casa, Shaun tropeça num grupo de skinheads. O ar de perdido de Shaun fá-lo ganhar a piedade de Woody (Joseph Gilgun), o carismático líder do grupo, que o conquista pela atenção e pelo humor. Rapidamente, Shaun torna-se parte integrante do grupo. Sem qualquer doutrinamento ideológico, a integração de Shaun é feita pela adopção do visual: o cabelo rapado, a camisa e suspensórios, a bainha dos jeans enrola para cima e, as ambicionadas, Dr. Martens.

ALIGN=JUSTIFY>O afecto entre os membros do grupo é o de uma família. E apesar de tentarem parecer duros, são apenas miúdos a divertirem-se e a combaterem o isolamento com o sentido de pertença, sem vislumbre da violência ou do racismo associado aos skinheads. Aliás, Milky (Andrew Shim), um dos membros é de origem jamaicana. Mas o divertimento idílico muda de tom quando o antigo mentor de Woody, Combo (Stephen Graham), regressa da prisão decidido a institucionalizar a sua crença de que todos os que chegam a Inglaterra estão a roubar trabalho aos “verdadeiros ingleses”. Com a retórica, Combo consegue conquistar parte do grupo, incluindo Shaun, apelando ao orgulho que o seu pai teria dele.

ALIGN=JUSTIFY>Inspirado na própria infância do realizador-argumentista Shane Meadows, “This Is England” tem um ambiente de tragédia latente, mais intuída que mostrada. A começar pela morte do pai de Shaun, que ele sente como um abandono e uma traição, à explosão inevitável da violência.

ALIGN=JUSTIFY>Divertido e por vezes brutal, “This Is England” conta com duas interpretações de excepção: a do estreante Thomas Turgoose, cujo olhar consegue ir do deslumbre da descoberta ao desespero da perda; e um impressionante Stephen Graham como Combo, cujas cicatrizes emocionais (com o ciúme, o medo e a solidão transparecendo da sua máscara) o impelem a fazer parte de algo maior.

ALIGN=JUSTIFY>Sem fazer do filme um sermão, Meadows contextualiza historicamente a emergência de um movimento que tirou partido das fracas condições sociais. Sentindo-se desprezados por um sistema governativo que fez uma guerra para desviar a atenção da população dos verdadeiros problemas, o caminho mais fácil era arranjar também os seus próprios culpados, um inimigo que os validasse. E esse poderia bem ser o dono da mercearia que não nos deixa ler a revista sem a pagar. E se ele é paquistanês, é isso mesmo que se vai combater.

ALIGN=JUSTIFY>Meadows chama especial atenção para a vulnerabilidade da juventude às demagogias, mas é também na juventude que ele coloca a força para romper com os valores apodrecidos. De uma forma circular, Shaun volta à dor e ao distanciamento do resto do mundo que ela provoca. Pela corrupção, é feito um caminho da inocência ao cinismo, com as dores necessárias à formação de uma individualidade. Evidente fica o despropósito da violência, poeticamente retratado num velho barco preso num mar de relva.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“You might look about four, but you kiss like a fourty year old!”
ROSAMUND HANSON (Smell)


ALIGN=JUSTIFY>“Combo − But I've got one question to ask you. Do you consider yourself English, or Jamaican?
Milky − … English.
Combo − Lovely, lovely, love you for that, that's fucking great. A proud man, learn from him; that's a proud man. That's what we need, man. That's what this nation has been built on, proud men. Proud fucking warriors! Two thousand years this little tiny fucking island has been raped and pillaged, by people who have come here and wanted a piece of it - two fucking world wars! Men have laid down their lives for this. For this... and for what? So people can stick their fucking flag in the ground and say: Yeah! This is England. And this is England, and this is England.”
STEPHEN GRAHAM (Combo) e ANDREW SHIM (Milky)














La Mujer Sin Cabeza **1/2

21.04.09, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Lucrecia Martel. Elenco: María Onetto, Claudia Cantero, César Bordón, Daniel Genoud, Guillermo Arengo, Inés Efron. Nacionalidade: Argentina / França / Itália / Espanha, 2008.


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ALIGN=JUSTIFY>“La Mujer Sin Cabeza” não passa de uma metáfora, que, ao ludibriar o espectador, o perde. No entanto, o terceiro filme da argumentista e realizadora argentina Lucrécia Martel (a cujo belo “La Ciénaga” se seguiu o, na minha opinião totalmente sobrevalorizado, “La Niña Santa”), está muito bem construído (e bem protagonizado) até quase ao seu final, quando a fácil solução da inconclusividade vem sobrepor-se à coerência interna.

ALIGN=JUSTIFY>Depois de um acidente na estrada e decidindo não parar, Verónica (María Onetto) fica convencida de que não foi um cão que atropelou, mas uma pessoa. Angustiada e incapaz de voltar à sua vida normal, da qual pouco parece recordar-se, Verónica entra num estado de semi-adormecimento, refugiando-se nas acções e reacções mecanizadas do dia-a-dia. A sua desorientação passa a ser a nossa.

ALIGN=JUSTIFY>Martel não nos diz nada sobre esta mulher antes do acidente, por isso a sua descoberta pessoal é também a nossa. O acidente faz com que ela sai da sua própria vida e Verónica parece não encontrar forma de regressar a ela mesma. Ela não tem qualquer controlo sobre o mundo que a rodeia, mas a sua ausência psicológica e emocional parecem não prejudicar a sua capacidade de desempenhar todos os papéis que lhe cabem (esposa, mãe, amante, amiga, profissional) e ninguém parece dar-se conta de que ela não está (é) ela mesma.

ALIGN=JUSTIFY>Os planos de Martel reforçam o ambiente de instabilidade, os corpos surgem em planos cortados ou apanhados em fundo como fantasmas. A luz vai-se esfumando como um crepúsculo. A interpretação de María Onetto confere a dose de sonambulismo e de passividade num constante (e por isso perturbante) sorriso.

ALIGN=JUSTIFY>Até aqui “La Mujer Sin Cabeza” cumpre na perfeição o seu papel. Independentemente da sua fuga à responsabilidade ou da sua culpa, Verónica dá-se conta de que a sua vida não precisa do seu envolvimento pessoal, reduzida que está àquilo que todos os outros projectam nela.

ALIGN=JUSTIFY>Na parte final do filme, Martel investe na paranóia, fazendo Verónica desaparecer um pouco mais através do desaparecimento dos exames médicos que fez após o acidente e mudando-lhe a cor de cabelo. Começamos finalmente a questionar tudo o que acabámos de ver e resolvemos o nó na nossa cabeça com a solução mais difícil de crer. Mas logo a seguir Martel resolve esbofetear-nos com a racionalidade, para depois voltar a sugerir o irreal.

ALIGN=JUSTIFY>Talvez “La Mujer Sin Cabeza” pretenda ser um documento ficcional sobre o aborrecimento da burguesia, para mim não passa da preguiça burguesa de uma realizadora egotista.

ALIGN=JUSTIFY>Eu não defendo que os filmes nos digam, na sua exígua duração, tudo aquilo que têm para dizer. Nem que sejam auto-evidentes. Mas irrita-me o facilitismo do deus ex machina, do “eu não tenho de deixar nada claro porque isto é tudo um sonho e, por isso, posso fazer o que bem me apetece e ignorar que há um espectador do outro lado que deverá entender a mensagem que eu quero transmitir”. Sou completamente a favor da masturbação, mas não faço questão de a ver.








Che: Guerrilla ***

20.04.09, Rita


 

Realização: Steven Soderbergh. Elenco: Benicio Del Toro, Demián Bichir, Marc-André Grondin, Óscar Jaenada, Cristian Mercado, Jordi Mollà, Antonio Peredo, Jorge Perugorría, Franka Potente, Othello Rensoli, Armando Riesco, Catalina Sandino Moreno, Rodrigo Santoro, Mark Umbers, Yul Vazquez, Joaquim de Almeida, Lou Diamond Phillips, Matt Damon. Nacionalidade: Espanha / França / EUA, 2008.



 



 

Já depois de ter experimentado a realidade de Cuba, onde a recorrente imagem de Che, a par da de outros heróis de revolução e da independência, é a única “publicidade” em outdoors que se vê na auto-estrada(?) e em todos os caminhos entre as pequenas aldeias, “Che: Guerrilla” sabe a menos que “Che: El Argentino”.


 

Talvez porque neste segundo filme o desfecho não é a vitória, ou talvez porque o argumento de Peter Buchman e Benjamin A. van der Veen com base no livro “Diário de Bolívia” do próprio Ernesto 'Che' Guevara permita apenas acompanhar uma faceta do revolucionário, friamente visto pelos seus próprios olhos numa luta condenada à partida.


 

Ao contrário de Cuba, na Bolívia, a revolução contra o governo de Ballesteros (um Joaquim de Almeida com um deplorável sotaque português no seu espanhol), não encontrou o mesmo apoio popular que era esperado e que, na ilha do Caribe, foi essencial e determinante para a vitória em 1959.


 

Sete anos passados, Che está na Bolívia. Pelo meio ficam os tempos de implantação do regime, exactamente os mais polémicos para a definição entre herói e assassino. Soderberg poupa-se a esses trabalhos, que obrigariam a uma conflituosa conjugação de versões (e que poderiam facilmente ter posto em causa todo o projecto). Desta forma, apenas a palavra de Che é usada, e, contra ela, não existem argumentos. Mas, ao contrário de “El Argentino”, aqui Che está ausente do mundo mediático, por isso não existem outras imagens suas para mostrar, enquanto ele se adentra pela selva boliviana.


 

“Che: Guerrilla” não tem o humor do filme anterior, aqui há tristeza e angústia. Todos os gestos e passos são apenas tentativas. Aqui Che surge mais frágil, menos imponente e incansável. Um homem que, a cada momento, parece questionar-se: Que sentido faz lutar pela mudança de um país quando esse país parece ele mesmo não querer essa mudança? Na Bolívia, o seu idealismo tem de ser explicado, quando em Cuba era entendido quase sem palavras. Agora as acções parecem limitar-se a negociações mesquinhas com os agricultores, ou entre os seus soldados.


 

Mas, mais do que em “El Argentino”, a personagem de Benicio del Toro domina a acção. Os secundários perdem a importância, reduzidos a pequenos auxílios, como é o caso de Franka Potente (Tania), Lou Diamond Phillips (o presidente do Partido Comunista Boliviano Mario Monje) ou Matt Damon (no papel de Padre Schwartz).


 

Soderbergh faz questão de evidenciar o aborrecimento de guerra, o tempo perdido em esperas e a frustração dos apenas ínfimos passos. Enquanto estes poucos homens se abrigam de um clima agreste, os americanos treinam as tropas bolivianas para a captura do revolucionário argentino. É também este ritmo mais lento que prejudica “Che: Guerrilla” como filme individual. Ao passo que “Che: El Argentino” pode bem dispensar uma segunda parte, “Che: Guerrilla” dificilmente será apreciado por quem não tenha antes contextualizado a luta de Ernesto 'Che' Guevara por aquilo que ele entendia ser “o novo homem”.


 

Soderbergh conseguiu o feito de ilustrar uma vida sem a julgar. E se 'Che' Guevara adoptou Cuba como a sua missão, Cuba adoptou-o totalmente como seu. E é também assim que o país deve ser experimentado: sem julgamentos, sem hipérboles e sem condescendências. Um país onde a selecção de basebol é recebida em casa como se tivesse acabado de lutar numa contra o imperialismo, onde a rádio é marcada por radionovelas sobre a independência espanhola, onde todos os homens e mulheres são “remediados”. Cuba foi, no final dos anos 50, o lugar certo para o germinar e o crescer de uma revolução, e se alguma vez a palavra “revolucionário” definiu completamente alguém, esse alguém foi 'Che' Guevara.



 




 

CITAÇÕES:


 

“−Tal vez acá nunca lo han querido.
− Sí, tal vez... o tal vez nuestro fracaso los despierte.”




 

Gran Torino ****

19.04.09, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Clint Eastwood. Elenco: Clint Eastwood, Christopher Carley, Bee Vang, Ahney Her, Brian Haley, Geraldine Hughes, Dreama Walker, Brian Howe, John Carroll Lynch, William Hill. Nacionalidade: EUA / Austrália, 2008.


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ALIGN=JUSTIFY>Walt Kowalski (Clint Eastwood) é um homem execrável e racista. Após o funeral da mulher, Walt quer apenas o conforto do silêncio e da solidão, e que os dois filhos cujos trabalhos não têm sentido, e os netos egoístas e gananciosos, o deixem em paz. Um veterano da Guerra da Coreia, Walt revolta-se contra a “invasão” asiática do seu bairro no Michigan. Na casa ao lado da sua reside agora uma família Hmong (grupo étnico da região montanhosa entre o Laos, a Tailândia e a China), que Walt despreza e a quem se refere com depreciativas alcunhas.

ALIGN=JUSTIFY>A tranquilidade de Walt, e da sua habitual cerveja no alpendre de casa, é perturbada quando o vizinho do lado, Thao (Bee Vang), um adolescente que, numa praxe para entrar no gang do seu primo, tenta roubar o Ford Gran Torino de 1972 de Walt. Ele não hesita em pegar na sua caçadeira e resolver as coisas pelas suas próprias mãos. No dia seguinte, a voluntariosa irmã de Taho, Sue (Ahney Her) vem pedir desculpas pelo irmão e oferecer o serviços dele para o que Walt possa precisar, Walt resolve pô-lo a limpar a casa em frente à sua (sem pedir licença ao vizinho), para que a vista do seu alpendre seja finalmente mais agradável.

ALIGN=JUSTIFY>Walt carrega velhas cicatrizes (ainda que inomináveis) da sua experiência na guerra. Aliás para ele a vida parece-se com uma guerra, onde ele foi endurecendo para reagir de forma rápida e brutal, sem pedir desculpas, nem mesmo ao jovem padre da paróquia (Christopher Carley). Thao é um rapaz calado e estudioso, e Walt está decidido em formá-lo como homem. De repente, aqueles estranhos, numa generosidade que Walt não consegue compreender, tornam-se mais próximos dele que a sua própria família. Quando a integridade de Thao e Sue é ameaçada, o instinto de protecção de Walt desperta em toda a sua violência.

ALIGN=JUSTIFY>Naquela que é anunciada como a despedida de Eastwood como actor, aquele que vemos é o habitual herói dos muitos westerns que protagonizou. Um homem duro em busca da redenção, em luta com um passado sangrento que ele deixou que definisse o resto da sua vida. Até a barbearia serve de cenário às “conversas de homens”. A vingança surge aqui, também, em defesa da fragilidade feminina. E o final, só poderia ser um duelo.

ALIGN=JUSTIFY>E Eastwood despede-se em grande, com uma expressividade carregada de rugas (ou deveria dizer rugas carregadas de expressividade?), de raiva e de amargura, conferindo ao argumento de Nick Schenk uma força só comparável às da natureza. E é isso que Walt é.

ALIGN=JUSTIFY>“Gran Torino” é um filme sobre a aceitação da diferença, sobre as consequências da violência e a paz interior encontrada na fórmula simples da compaixão com os demais. A natureza humana não pode servir de desculpa para comportamentos individuais errados e que apenas a nós cabe modificar.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“I confess that I have no desire to confess.”
CLINT EASTWOOD (Walt Kowalski)


ALIGN=JUSTIFY>“Padre Janovich – Why didn't you call the police?
Walt Kowalski – Well you know, I prayed for them to come but nobody answered. ”
CHRISTOPHER CARLEY (Padre Janovich) e CLINT EASTWOOD (Walt Kowalski)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“I once fixed a door that wasn't even broken yet.”
CLINT EASTWOOD (Walt Kowalski)


ALIGN=JUSTIFY>“The thing that haunts a guy is the stuff he wasn't ordered to do.”
CLINT EASTWOOD (Walt Kowalski)














a censura

18.04.09, Rita


ALIGN=JUSTIFY>“The Girlfriend Experience” é o próximo filme de Steven Soderbergh, protagonizado pela estrela porno Sasha Grey.

No cartaz, oculta, leio a palavra mais pornográfica de todas, também com 4 letras: COLOR=#E90909>love
.


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ALIGN=CENTER>visto aqui










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