Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

O que se vê lá por casa (v)

31.08.07, Rita

ALIGN=JUSTIFY>A adaptação de Roger Avary do universo retorcido de Brett Easton Ellis em “The Rules of Attraction” (2002). Uma boa noite para comprovar que não há regras para os afectos.


SRC=http://www.rulesofattraction.co.uk/images/gallery5.jpg WIDTH=250>SRC=http://www.rulesofattraction.co.uk/images/gallery6.jpg WIDTH=250>







Mysterious Skin ****

29.08.07, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Gregg Araki. Elenco: Brady Corbet, Joseph Gordon-Levitt, Michelle Trachtenberg, Jeff Licon, Mary Lynn Rajskub, Bill Sage, Elisabeth Shue, Richard Riehle, Lisa Long, Chris Mulkey, David Lee Smith, Chase Ellison, George Webster, Rachael Kraft, Riley McGuire, Ryan Stenzel. Nacionalidade: EUA / Holanda, 2004.


SRC=http://us.movies1.yimg.com/movies.yahoo.com/images/hv/photo/movie_pix/tartan/mysterious_skin/_group_photos/brady_corbet5.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>“Mysterious Skin” é um filme comovente e perturbante sobre os efeitos dos abusos sexuais a crianças e dos caminhos mentais de protecção que se processam para lidar com essa traumática experiência. Baseado no livro de Scott Heim (co-argumentista), “Mysterious Skin” conta a história de dois adolescentes cuja infância foi marcada pelo mesmo trágico incidente, mas cujos futuros divergiram.

ALIGN=JUSTIFY>Neil McCormick (Joseph Gordon Levitt) é um bonito prostituto homossexual obcecado com a relação que teve com o seu treinador de basebol (Bill Sage) quando tinha oito anos. Brian Lackey (Brady Corbet) acredita ter sido abduzido por extraterrestres quando era criança, em virtude de ter ficado inconsciente por duas vezes, sem se conseguir lembrar do que lhe tinha sucedido nas horas precedentes.

ALIGN=JUSTIFY>Neil absorveu a experiência na sua própria identidade, mas desligou-se do mundo, não se aproximando de ninguém à excepção da sua amiga Wendy (Michelle Trachtenberg), que aceita sua incapacidade para retribuir o afecto. No filme, a homossexualidade de Neil é inata, e o seu encontro com o treinador (ídolo e figura paternal) foi uma influência poderosa nessa descoberta. Enquanto isso, Brian é incapaz de processar o que lhe aconteceu, interiorizando dúvidas e terrores de uma forma totalmente assexual, e exteriorizados em desmaios, sangramentos do nariz e pesadelos.

ALIGN=JUSTIFY>Em grande parte narrado pelas duas personagens principais, Gregg Araki não faz compromissos com o realismo nem cedências ao exibicionismo, o que é sugerido é violento, doloroso e sem sentimentalismos. Neil encara a sua experiência como a sua primeira relação. A cena da sedução é filmada de uma forma hipnótica que intensifica o seu poder. Ao mesmo tempo que nos sentimos incomodados perante os chocantes acontecimentos conseguimos também entender a conivência de Neil. Brian colocou a sua vida numa sala de espera, enquanto não consegue esclarecer as horas que perdeu na sua memória. Uma sensação de espera não termina com o filme, mas que, graças à interpretação de Brady Corbet, nos tranquiliza quanto ao seu futuro.

ALIGN=JUSTIFY>“Mysterious Skin” é um filme de personagens, contando com uma genial interpretação de Joseph Gordon-Levitt (“Brick”, 2005), e, num registo mais subtil, Brady Corbet (“Thirteen”, 2003) e Michelle Trachtenberg. Ainda duas impressionantes participações dos jovens Chase Ellison e George Webster, interpretando, respectivamente, Neil e Brian aos oito anos de idade.

ALIGN=JUSTIFY>Apesar de algum panfletismo no que concerne a protecção contra as doenças sexualmente transmissíveis (o choque da ligação emocional, surge para Neil num encontro tocante com um doente de SIDA), “Mysterious Skin” é uma experiência emocional complexa, que não se centra na culpa ou na acusação, mas na descoberta. O crescimento destas crianças dependeu daquele momento, que dada a distinta assimilação, condicionou a sua forma de lidar com a realidade.

ALIGN=JUSTIFY>Mas mais do que a verdade dos factos, Greeg Araki está interessado na verdade emocional destes dois jovens. Entre o cinismo e a fantasia, “Mysterious Skin” não vitimiza nem odeia, optando por falar da liberdade que se atinge com a aceitação de um passado, fugindo à escravidão que ele, tantas vezes, impõe, e da necessidade de ultrapassar os obstáculos que embotam os sentimentos. E se quase tudo é irreversível nesta vida, resta-nos sempre a opção de escolher olhar em frente.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“I hate it when they look like Tarzan but sound like Jane.”
JOSEPH GORDON-LEVITT (Neil)


ALIGN=JUSTIFY> “Okay's a relative term.”
JEFF LICON (Eric)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“This is going to be the safest encounter you've ever had. If you could just rub my back. I really need to be touched.”
BILLY DRAGO (Zeke)













The Host ***

26.08.07, Rita

ALIGN=JUSTIFY>T.O.: Gwoemul. Realização: Joon-ho Bong. Elenco: Kang-ho Song, Hie-bong Byeon, Hae-il Park, Du-na Bae, Ah-sung Ko. Nacionalidade: Coreia do Sul, 2006.


SRC=http://www.linternaute.com/cinema/image_cache/objdbfilm/image/300/17463.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Um filme de terror antiterrorista. Esta é, para mim, a melhor síntese de “The Host”. Infelizmente, o filme de Joon-ho Bong leva muito mais a sério a segunda parte desta definição do que a primeira. Por vezes nojento e com bons detalhes de realização, o elemento terror, entendido como os efeitos emocionais provocados pela ansiedade e pelo medo, é praticamente inexistente.

ALIGN=JUSTIFY>“The Host” gira em torno de uma unidade familiar algo disfuncional: Gang-du (Kang-ho Song), um homem cheio de azar na vida, a sua irmã Nam-Joo (Du-na Bae), campeã de tiro ao alvo, o seu irmão licenciado Nam-il (Hae-il Park) e o pai dos três Hie-bong (Hie-bong Byeon), dono de uma roulotte de comida. Quando a filha de treze anos de Gang-du, Hyun-seo (Ah-sung Ko), é vítima do ataque do monstro anfíbio que habita o rio Han, a família une todos os seus esforços para a encontrar.

ALIGN=JUSTIFY>A desconfortável proximidade a que esta família é forçada provoca cenas hilariantes e o uso do humor como factor de alívio é talvez o ponto mais forte, e mais desconcertante, deste filme. Porque, com efeito, não se trata de uma comédia, e se as adversidades arrancam gargalhadas, não estão igualmente isentas de um lado devastador. O argumento de Joon-ho Bong, Chul-hyun Baek e Wong-jun Ha foge declaradamente e desde o início às convenções do género. O aparecimento do monstro (criação em CGI da The Orphanage, responsáveis também por filmes como “Sin City” ou “Hero”) é feito de uma forma declarada, assumindo a sua natureza, e sem que a ameaça da sua existência seja construída num crescendo de sugestões como tende a ser habitual. Graças também a um bom conjunto de actores, os heróis deste filme situam-se humanamente entre o infalível e o estúpido, sem nunca atingirem nenhum dos extremos.

ALIGN=JUSTIFY>“The Host” é, a meu ver, um olhar que não chega a ser satírico sobre a influência geopolítica dos Estados Unidos e sobre a cultura do terror. E talvez seja nesse ponto que a comparação que tem sido feita a “Godzilla” faça mais sentido.

ALIGN=JUSTIFY>Senão vejamos: um monstro mutante foi alimentado pela negligência e pelo pensamento imediatista dos americanos (tomei a liberdade de ler qualquer coisa do tipo “armar os talibans para retirar os comunistas do Afeganistão”); esse monstro (o terror incorpóreo e quase paranóico que assola o “ocidente” – confesso que esta semântica baseada na separação geográfica me incomoda) vai ceifando vidas inocentes (abstenho-me de fazer a contagem dos números actuais do Iraque); e a única esperança reside na coragem individual de, simultaneamente, assumir uma perspectiva panorâmica e combater a queda na espiral do medo. Isso só será possível quando conseguirmos olhar os outros como parte de uma família global.








Ratatouille ****

23.08.07, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Brad Bird. Vozes V.O.: Patton Oswalt, Ian Holm, Lou Romano, Brian Dennehy, Peter Sohn, Peter O'Toole, Brad Garrett, Janeane Garofalo, Will Arnett. Nacionalidade: EUA, 2007.


SRC=http://www.linternaute.com/cinema/image_cache/objdbfilm/image/300/23106.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Remy (Patton Oswalt) é uma ratazana abençoada com um apurado sentido de olfacto e paladar. Não satisfeito com a alimentação à base de lixo que o seu irmão Emile (Peter Sohn) e o pai Django (Brian Dennehy) parecem adorar, Remy sonha tornar-se um chef de cozinha, à semelhança do grande chef Auguste Gusteau (Brad Garrett), defensor do lema “qualquer um pode cozinhar”, e recentemente falecido após uma devastadora crítica do infame gastrónomo Anton Ego (Peter O'Toole), que arruinou a sua reputação. Remy dá consigo na cozinha do restaurante de Gusteau, uma sombra do que tinha sido, agora sob as ordens do ambicioso chef Skinner (Ian Holm). Inspirado pela alucinação do seu ídolo, Remy não consegue controlar a tentação de temperar a sopa do dia, acabando por formar uma surreal equipa com Linguini (Lou Romano), o desajeitado rapaz do lixo. Linguini assume os créditos pelo talento de Remy, enquanto este o usa (literalmente) como uma marioneta para as suas criações gastronómicas.

ALIGN=JUSTIFY>Os heróis de “Ratatouille” não diferem dos do costume, são improváveis, enfrentam os seus medos e superam-nos. Mas, à semelhança de uma receita (‘ratatouille’ é um estufado de vegetais francês), o segredo não está nos ingredientes, mas na sua dosagem e, sobretudo, no talento de quem o confecciona, neste caso, Brad Bird, autor do igualmente delicioso “The Incredibles”).

ALIGN=JUSTIFY>“Ratatouille” faz uso de algumas soluções infantis, mas evita a facilidade de fazer humanos e animais comunicarem na mesma língua. Combina igualmente o cinismo adulto, marcadamente evidente no monólogo do vampiresco Anton Ego sobre o que é ser crítico profissional.

ALIGN=JUSTIFY>Ao inesperado do argumento alia-se o deslumbramento visual, o realismo quase fotográfico, os geniais efeitos sonoros e um óptimo casting de vozes.

ALIGN=JUSTIFY>O império da Disney começou com um rato, e agora é a vez de, através dos estúdios Pixar, uma ratazana perpetuar essa herança. Metáfora para todas as almas perdidas que procuram o seu lugar no mundo, e cujo rumo está fundeado na paixão por uma arte e na busca da excelência em tudo o que se faz.

ALIGN=JUSTIFY>Se temos de comer, que seja bem! Se temos de ir ao cinema, que seja por iguarias como esta!

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>NOTA: “Ratatouille” é antecedido da curta-metragem de animação “Lifted”, de Gary Rydstrom (EUA, 2006).



WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“DJANGO – Food is fuel. You get picky about what you put in the tank, your engine is gonna die. Now shut up and eat your garbage.”


ALIGN=JUSTIFY>“REMY – No! It's... he's ruining the soup! And no one's noticing? It's YOUR restaurant! Do something!
GUSTEAU – But what can I do? I am merely a figment of your imagination!”

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“SKINNER – So this is your first time cooking?
LINGUINI – My fifth time, actually. I think... Monday was my first time.”


ALIGN=JUSTIFY>“LINGUINI – Oh, and thanks, by the way, for... um... all the... advice. On cooking.
COLETTE – And thank you as well.
LINGUINI – For... for what?
COLETTE – For taking it!”

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“ANTON EGO – You're a bit slow for someone in the fast lane.
LINGUINI – And... you're thin for someone who likes food!
ANTON EGO – I don't LIKE food, I LOVE it. If I don't LOVE it, I don't SWALLOW.”















The Hoax ***

20.08.07, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Lasse Hallström. Elenco: Richard Gere, Alfred Molina, Hope Davis, Marcia Gay Harden, Stanley Tucci, Julie Delpy, Eli Wallach. Nacionalidade: EUA, 2006.


SRC=http://us.movies1.yimg.com/movies.yahoo.com/images/hv/photo/movie_pix/miramax_films/the_hoax/richard_gere/hoax.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Clifford Irving (Richard Gere) é um ambicioso escritor cujo último manuscrito acabou de ser recusado pelos editores da McGraw-Hill, Andrea Tate (Hope Davis) e Shelton Fisher (Stanley Tucci). Como resposta, Irving oferece-lhes um projecto irrecusável, uma autobiografia autorizada do esquivo e excêntrico milionário Howard Hughes, que se recusava a falar com a imprensa há mais de uma década. O cepticismo inicial é ultrapassado pela perspectiva de um best-seller, e com um histórico adiantamento de meio milhão de dólares, Irving e o seu amigo e colega Dick Susskind (Alfred Molina) começam a montar a sua farsa. A necessidade de coerência e genuinidade leva-os a medidas extremas que incluem a falsificação de cartas e entrevistas, fotografar documentos oficiais e roubar ficheiros confidenciais.

ALIGN=JUSTIFY>“The Hoax” é baseado no livro homónimo da autoria do próprio Irving e conta a história verídica que ocorreu no início da década de 70 no contexto de uma América desequilibrada entre a guerra do Vietname e o presidente Nixon. Situado entre um “Shattered Glass” e um “Catch Me If You Can”, o filme de Lasse Hallström (“Casanova”, “The Shipping News”) não consegue ascender à intensidade de nenhum dos outros dois filmes, mas, à sua semelhança, cria em nós uma natural empatia pelo vigarista que retratam.

ALIGN=JUSTIFY>O argumento de William Wheeler ficciona algumas cenas com fins dramáticos, dando ainda uma forte relevância ao alegado empréstimo de fundos por parte de Hughes a Nixon, e que mantinham o presidente como um forte aliado da estratégia expansionista do milionário. De uma forma inteligente, somos colocados no cerne da luta de Irving pela sua reputação, pelo seu casamento com Edith (Marcia Gay Harden) e, em última instância, pela sua sanidade mental. Hallström ultrapassa o fio da realidade o suficiente para conseguirmos imaginar as vertigens de uma descontrolada espiral de mentira.

ALIGN=JUSTIFY>Richard Gere tem aqui talvez a sua melhor interpretação desde “Chicago”, mas isso não impede que seja relegado para a sombra em todas as cenas que partilha com um simultaneamente cómico e tocante Alfred Molina. Quanto a Hughes, foi inevitável visualizar os momentos finais da personagem que DiCaprio criou para “The Aviator” de Scorsese.

ALIGN=JUSTIFY>A única forma de sustentar uma mentira é acreditar totalmente nela. É certamente essa a base da experiência de ilusão que é o cinema. Mas às vezes o pior que pode acontecer quando queremos muito uma coisa é consegui-la.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“The more outrageous I sound, the more convincing I am.”
RICHARD GERE (Clifford Irving)


ALIGN=JUSTIFY>“You can´t always get what you want
But if you try sometimes you just might find
You get what you need”
THE ROLLING STONES


SRC=http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/thumb/2/2e/Cliffordirving72.jpg/350px-Cliffordirving72.jpg>

ALIGN=CENTER>COLOR=#AAAAAA SIZE=1>Clifford Irving em 1972
















Tertúlia

19.08.07, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Uma noite onde o cinema, a vida e as memórias se confundiram. E a desculpa não poderia ser melhor. Parabéns! E obrigada pela inspiradora paixão das palavras.


SRC=http://www1.uni-hamburg.de/clpic/img/realizadores/antonio_lauro.jpeg>







Très Bien, Merci ****

16.08.07, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Emmanuelle Cuau. Elenco: Gilbert Melki, Sandrine Kiberlain, Olivier Cruveiller, Emmanuel Salinger, Frédéric Pierrot, Emilie Chesnais, Christophe Odent, René Remblier, Grégory Gadebois. Nacionalidade: França, 2007.


SRC=http://www.linternaute.com/cinema/image_cache/objdbfilm/image/300/21139.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Alex Maupain (Gilbert Melki) é contabilista numa grande empresa e casado com Béatrice (Sandrine Kiberlain), taxista. A sua aparentemente tranquila existência está impregnada de um mau-estar que nem uma cerveja ao final do dia parece atenuar. Alex está prestes a providenciar informações ao seu patrão que poderão causar o despedimento do seu melhor amigo, Landier (Olivier Cruveiller).

ALIGN=JUSTIFY>Uma noite, Alex assiste a um controlo de identidade efectuado pela polícia. Em vez de continuar o seu caminho, como o aconselham os agentes, Alex decide ficar a ver o que acontece. No momento seguinte, Alex encontra-se a passar a noite numa fria cela de prisão. Na tentativa de defender os seus direitos, Alex termina internado num hospital psiquiátrico, sem que a sua mulher se tenha dado conta de ter assinado um HDT, i.e., uma hospitalização a pedido de um terceiro. Em virtude desse internamento e do processo burocrático a ele inerente, Alex perde o seu emprego. Agastado pelo peso da inadaptação, nem o apoio dado por Béatrice parece ser suficiente. Na espiral de absurdos que se origina, Alex assiste à perda de controlo sobre a sua vida, até ao momento em que decide jogar com as regras que lhe são impostas.

ALIGN=JUSTIFY>Da prisão ao internamento, do despedimento à procura de emprego, Alex insurge-se contra as decisões arbitrárias que parecem conspirar contra si. A sua opção é de revolta contra a obediência passiva numa sociedade cada vez mais vigilante e repressiva e esmagada por uma burocracia kafkiana, mais preocupada em internar ou punir do que em compreender ou educar.

ALIGN=JUSTIFY>Fazendo uso de um humor por vezes desesperado, a realizadora Emmanuelle Cuau constrói uma sátira sobre a paranóia do controlo na sociedade actual, onde se é culpado até prova em contrário, sobre o frio olhar das instituições sobre as pessoas que as compõem, e das consequências das leis no quotidiano dos indivíduos. Gilbert Melki (“Les Temps Qui Changent”) e Sandrine Kiberlain (“Après Vous...”) entregam-se de forma sóbria às suas personagens fazendo suas as palavras dos diálogos escritos por Cuau e Agnès Caffin.

ALIGN=JUSTIFY>Marcado por uma fina ironia, “Très Bien, Merci” mostra como a alienação social pode fazer com que um indivíduo duvide da sua própria saúde mental, chegando ao ponto de apenas se sentir cómodo no local onde, paradoxalmente, a loucura é também ela livre.

ALIGN=JUSTIFY>É inquietante pensar que, hoje em dia, raramente se pergunta “porquê?”. Quando alguém se atreve a fazê-lo é demasiado fácil e tentador colocar rótulos. É assustador ver como a aceitação sem reservas, sem questionar, é a única forma de garantir uma existência pacífica, ainda que ilusória. É esta a loucura da nossa normalidade.








Disturbia **

15.08.07, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: D.J. Caruso. Elenco: Shia LaBeouf, Sarah Roemer, Carrie-Anne Moss, David Morse, Aaron Yoo, Jose Pablo Cantillo, Matt Craven, Viola Davis. Nacionalidade: EUA, 2007.


SRC=http://us.movies1.yimg.com/movies.yahoo.com/images/hv/photo/movie_pix/dreamworks_skg/disturbia/shia_labeouf/disturbia3.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Kale (Shia LaBeouf) é um adolescente que após agredir o seu professor de espanhol é condenado a três meses de prisão domiciliária. Uma pulseira electrónica impede-o de se afastar do perímetro da sua casa. Quando a sua mãe (Carrie-Anne Moss) lhe retira o acesso aos seus passatempos habituais (videojogos, televisão, iTunes), Kale vê-se submergido num mar de isolamento e tédio. Pouco mais lhe resta fazer do que observar a vizinhança, na companhia do seu amigo Ronald (Aaron Yoo). Felizmente, os subúrbios americanos (o termo suburbia é distorcido no título) são profícuos em jovens atraentes como Ashley (Sarah Roemer) e em homens tenebrosos como Mr. Turner (David Morse).

ALIGN=JUSTIFY>A primeira metade de “Disturbia” dá-nos a conhecer Kale e o seu mundo, sendo alimentada pela incógnita da sua relação com Ashley. A segunda metade sustém-se à conta da crescente paranóia dos jovens em relação a Mr. Turner e da sua ambiguidade.

ALIGN=JUSTIFY>O filme de D.J. Caruso (“The Salton Sea”, 2002) alterna frequentemente entre a clara culpabilidade e a presumível inocência. É este jogo de adivinhas que mantém o nosso interesse, apesar das soluções encontradas reportarem a outras referências cinematográficas de superior e incomparável qualidade, como “Rear Window” de Alfred Hitchcock, “The Shining” de Stanley Kubrick, ou “Blair Witch Project” de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez.

ALIGN=JUSTIFY>Mas após todos esses jogos (onde as emoções dos espectadores são manipuladas sem grande pudor), e apesar do efeito susto consideravelmente eficaz – especialmente graças à perturbante interpretação de David Morse, que, sem exageros, poderia substituir facilmente Anthony Hopkins em sequelas de Hannibal Lecter – as revelações surgem cedo demais e o final de “Disturbia” acaba por ser bastante previsível.

ALIGN=JUSTIFY>Uma nota final de interesse pela prestação do jovem Shia LaBeouf (“Bobby”), que poderemos ver brevemente na nova aventura de Indiana Jones.








Jindabyne ***

13.08.07, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Ray Lawrence. Elenco: Laura Linney, Gabriel Byrne, Deborra-lee Furness, John Howard, Leah Purcell, Stelios Yiakmis, Alice Garner, Simon Stone, Betty Lucas, Chris Haywood, Eva Lazzaro, Sean Rees-Wemyss, Tatea Reilly. Nacionalidade: Austrália, 2006.


SRC=http://www.linternaute.com/cinema/image_cache/objdbfilm/image/300/23229.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Numa viagem de pescaria, quatro amigos – Stewart (Gabriel Byrne), Carl (John Howard), Billy (Simon Stone) e Rocco (Stelios Yiakmis) – descobrem o cadáver de uma jovem mulher de origem aborígene flutuando no rio. Mas em vez de comunicarem de imediato o incidente à polícia, e apesar do choque inicial, eles decidem ficar e terminar o seu fim-de-semana, como planeado. Arranjando uma forma de o corpo não desaparecer rio abaixo, os dias passam sem grandes palavras. Mas, ao regressam a casa, os efeitos da sua acção estendem-se de uma forma catastrófica ao seu redor, quer a nível social quer emocional, levantando questões morais acerca do seu comportamento e testando a confiança das pessoas mais próximas. Os meios de comunicação, a família da rapariga morta, e as suas próprias família, nomeadamente Claire (Laura Linney), a esposa de Stewart, mostram-se chocados com a frieza destes homens.

ALIGN=JUSTIFY>Baseado livremente no conto ‘So Much Water So Close to Home’ de Raymond Carver (que também serviu de base ao filme “Short Cuts” de Robert Altman), o filme de Ray Lawrence (“Lantana”, 2001) tem a sua acção situada na cidade de Jindabyne, resultante da deslocação dos habitantes de uma velha cidade ficou submergida em virtude do projecto hidroeléctrico da região das Snowy Mountains, em New South Wales. À semelhança do lago que cobre a antiga cidade, também os seus habitantes guardam um passado do qual preferem não falar. “Jindabyne” respeita isso e é, como tal, um filme silencioso onde se espreita a crise que se instala na comunidade após o brutal assassinato.

ALIGN=JUSTIFY>“Jindabyne” não é sobre a perseguição e a captura, mas sobre a forma de lidar com a morte num contexto de convivência de diferentes culturas. Aquele que deveria ser um momento de ligação à natureza e às suas raízes, é marcado pela dessacralização de um lugar. O argumento de Beatrix Christian recusa-se a escolher heróis, dotando as suas personagens de vulnerabilidade, de dúvida, raiva, dor e vergonha. Sem oferecer respostas morais, “Jindabyne” debruça-se sobre a responsabilidade social, evocando a necessidade de reequilibrar a balança do mal e da sua devastação com o bem e com o perdão.

ALIGN=JUSTIFY>Ray Lawrence confia nos seus actores, e tanto Gabriel Byrne como Laura Linney apresentam duas interpretações sólidas, honestas e contidas. Em contraste com o horror moral é colocada a beleza rural da Austrália, graças à fotografia de David Williamson, marcada por uma iluminação natural. E em oposição a um casal que se desmantela em virtude dos seus segredos, um outro casal, composto pelo jovem Billy (Simon Stone) e a namorada Elissa (Alice Garner), tem como um dos seus alicerces essenciais a comunicação.

ALIGN=JUSTIFY>“Jindabyne” é um filme subtil que consegue ter momentos perturbantes a rasar o thriller. Pode ser assustador pensar que, para o melhor e para o pior, os nossos pequenos actos podem tornar-se imensos quando medidos na proporção das suas consequências, tornando-nos, ao mesmo tempo, poderosas armas e insignificantes elementos de um todo.








The Simpsons Movie ***

08.08.07, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: David Silverman. Vozes V.O.: Dan Castellaneta, Julie Kavner, Nancy Cartwright, Yeardley Smith, Harry Shearer, Hank Azaria. Nacionalidade: EUA, 2007.


SRC=http://www.linternaute.com/cinema/image_cache/objdbfilm/image/300/22679.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Os Simpsons sempre se caracterizaram por uma crítica mordaz à sociedade americana, desde a religião à política, constituindo mais uma evidência de que os mais eficazes detractores dos americanos são eles mesmos. O meu fascínio inicial com a série foi-se atenuando com o avançar do tempo, mas “The Simpsons Movie” foi a desculpa perfeita para regressar ao universo de Springfield.

ALIGN=JUSTIFY>Ao contrário de outras passagens do pequeno para o grande ecrã, esta não é marcada por grandes diferenças. O lado positivo é que os fans não se sentirão defraudados perante este episódio mais extenso, o lado negativo é não tirar o devido partido de um formato que permitia ter ido bastante mais longe em termos visuais.

ALIGN=JUSTIFY>O argumento do filme é simples: Homer decide adoptar um porco, o que provoca simultaneamente um desastre ambiental e uma deterioração das suas relações familiares, onde o limite da capacidade de Marge perdoar os seus disparates é levado ao extremo. À revolta civil da população de Springfield juntam-se as drásticas medidas governamentais que contemplam a destruição da cidade. Eu disse “simples” não disse “sensato”.

ALIGN=JUSTIFY>O ritmo acelerado da acção é aliado ao compasso do seu humor clássico; desde o princípio em que se goza o espectador que pagou para ver no cinema algo que poderia ver de borla em televisão, passando por uma paródia ao “An Inconvenient Truth” de Al Gore, pela Disney, pelo Spiderman e culminando num governo americano liderado pelo Presidente Schwarzenegger.

ALIGN=JUSTIFY>O elenco de vozes na versão original é o mesmo da série (e do saudoso The Tracey Ullman Show): Dan Castellaneta (Homer), Julie Kavner (Marge), Nancy Cartwright (Bart), Yardly Smith (Lisa), Harry Shearer (Mr. Burns) e Hank Azaria (Moe). Os habituais cameos são garantidos pela banda Green Day e pelo actor Tom Hanks.

ALIGN=JUSTIFY>Se não quiserem perder nem um piscar de olho, recomendo que fiquem sentados até ao final dos créditos. No global, faço um destaque para um momento do filme particularmente carregado de conotações morais, e o meu preferido: quando, em pânico, os dedicados membros da igreja local trocam de lugar com os habituais frequentadores do bar do Moe.

ALIGN=JUSTIFY>“The Simpsons Movie” marca a maioridade de uma série que atingiu os 18 anos de vida. E se serve para algo, é para reflectir a maturidade e consistência da criação de Matt Groening. Adicionalmente, “The Simpsons Movie” vem também provar que a animação 2D não saiu de moda.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“You ever try going mad without power? No one listens to you.”
Russ Cargill (ALBERT BROOKS)












Pág. 1/2