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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Ninguém Sabe ****

31.03.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>T.O.: Daremo shiranai. Realização: Hirokazu Kore-eda. Elenco: Yûya Yagira, Ayu Kitaura, Hiei Kimura, Momoko Shimizu, Hanae Kan, You. Nacionalidade: Japão, 2004.


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ALIGN=JUSTIFY>Keiko Fukushima (You) muda-se para um novo apartamento alugado e apresenta o seu filho Akira (Yûya Yagira), de 12 anos, ao senhorio, “esquecendo-se” de mencionar qualquer um dos seus outros três filhos: Kyoko (Ayu Kitaura) de 10 anos, Shigeru (Hiei Kimura) de 7 e Yuki (Momoko Shimizu) de 4. Para que se continue a não saber da sua existência, sob pena de serem expulsos do apartamento, Keiko impõe as regras, como se de um jogo se tratasse: não fazer barulho e não sair (excepção feita a Akira, que está encarregue de fazer as compras).

ALIGN=JUSTIFY>Nenhuma destas crianças vai à escola e não têm amigos. Sem tempo nem liberdade para serem crianças, mal conseguem alimentar os seus sonhos de tocar piano (Kyoko) ou de jogar basebol (Akira). Para a mãe, eles são úteis (simples bagagem, e não só metafórica), não só no sentido prático de fazerem todas as tarefas em casa (das limpezas ao pagamento das contas), mas (e talvez sobretudo) de alimentarem a sua sede de amor e de atenções. É esse mesmo romantismo que leva Keiko a abandoná-los, quando crê ter encontrado um homem que cuidará dela.

ALIGN=JUSTIFY>Keiko oferece presentes aos filhos, sem pedir desculpa ou explicar-se. Quando é confrontada por Akira com o seu comportamento negligente, apenas diz: “Eu tenho direito de ser feliz”. Mesmo antes de se ir embora, Keiko é já uma mãe ausente, e quando a única coisa que deixa aos filhos é dinheiro para se manterem por uns tempos, a vida deles não se altera de um modo significativo. Até porque acreditam que, mais cedo ou mais tarde, a mãe acabará por regressar. Quando isso não acontece, a sua ansiedade e apreensão aumentam.

ALIGN=JUSTIFY>Os adultos de “Ninguém Sabe” comportam-se como crianças (mimados, irresponsáveis, egoístas), enquanto paradoxalmente as crianças agem como adultos. É quando este ciclo é rompido, quando Akira tenta finalmente ser a criança que é, arranjar amigos e divertir-se, que o mundo (apesar de tudo) seguro que estas quatro crianças conhecem começa a desmoronar-se.

ALIGN=JUSTIFY>A arrumação, a limpeza, a própria aparência física dos jovens, vai-se tragicamente arruinando, e assistimos a quatro vidas em declínio, antes mesmo de terem começado. Na ausência da mãe, as visitas ao mundo lá fora tornam-se os momentos de maior felicidade, e os universos de Akira, Kyoko, Shigeru e Yuki começam a expandir-se. Mas tal como sucedeu no Big Bang, muita coisa foi criada, mas muita outra foi destruída.

ALIGN=JUSTIFY>Kore-eda capta toda a intimidade da rotina dos irmãos dentro daquele pequeno apartamento, mas sem qualquer claustrofobia. O mesmo não se pode dizer dos sentimentos, quase totalmente contidos, sem explosões ou confrontos, mas onde se lê o profundo amor que os une. Kore-eda opta pela evidência através do contraste, como sucede no início do filme, em que uma situação horrível se mistura com o divertimento característico das crianças, ou como um jogo de basebol reflecte a total ausência e necessidade de uma figura protectora.

ALIGN=JUSTIFY>Este é um filme de emoções intensas, onde paira a iminente sensação de calamidade. Apesar da coragem, da resistência, e da capacidade de (apesar de tudo, ou por causa de tudo) estas quatro crianças conseguirem vencer o desespero com algum humor, a indiferença das grandes sociedades impessoais continua a ser desarmante e incontornável.

ALIGN=JUSTIFY>Baseando-se livremente num incidente que ocorreu em 1988 em Nishi-Sugamo, quando quatro crianças foram abandonados pela mãe e deixadas sozinhas durante 6 meses, Kore-eda rejeita qualquer abordagem sociológica ao tema, tratando as emoções dos quatro jovens com uma subtil sensibilidade. Quase todos os acontecimentos são mostrados do ponto de vista de Akira, e esta subjectividade torna tudo ainda mais duro. A mãe nunca é mostrada como um monstro, porque não é assim que os filhos a vêem. Para garantir espontaneidade nas representações, Kore-eda não deu o guião aos seus jovens actores, limitando-se (?) a dar-lhes as falas e explicar-lhes o que pretendia. O ambiente criado é dolorosamente real, e quase se pode sentir o cheiro dos restos de comida e sujidade acumulados no apartamento. As interpretações das crianças são, sem excepção, isentas de falsidade, mas o poder do olhar de Yûya Yagira vem justificar o prémio de melhor interpretação masculina na edição de 2004 do Festival de Cannes.

ALIGN=JUSTIFY> “Ninguém Sabe” foi filmado durante um ano, o que facilitou a sincronia com a cronologia do filme, e permitiu não só filmar as mudanças das estações, mas também o crescimento das crianças (facto apontado num dos momentos mais dramáticos do filme). A atenção ao detalhe é também evidente, em especial o vermelho do verniz (recurso utilizado com grande inteligência como marca da passagem do tempo), da bola, do desenho da mãe, das flores, como símbolo do amor que é necessário para um crescimento / florescimento saudável. Um amor que jamais poderá ser enviado por correio com uma nota apensa.

ALIGN=JUSTIFY>A melancolia destas crianças é dolorosa e quase insuportável. A sua dureza perante os mais violentos acontecimentos chega a ser incompreensível. E há uma parte muito forte que nos envolve nesta história, e que se chama culpa colectiva. Fomos nós que os abandonámos à sua sorte, nós o sistema de apoio social, nós os vizinhos que ignoram os abusos, nós os pais e mães que não merecem esse nome.

ALIGN=JUSTIFY>Este é um dos filmes mais tristes que já vi, mas de uma beleza que só é possível através de um olhar inocente. E o que acontece depois de se perder uma infância à qual nunca se teve direito?

ALIGN=JUSTIFY>Ninguém sabe.








V For Vendetta ****

29.03.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: James McTeigue. Elenco: Natalie Portman, Hugo Weaving, Stephen Rea, Stephen Fry, John Hurt, Tim Pigott-Smith, Rupert Graves, Roger Allam, Ben Miles, Sinéad Cusack. Nacionalidade: EUA / Alemanha, 2005.


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ALIGN=JUSTIFY>A 5 de Novembro de 1605, Guy Fawkes foi detido num túnel debaixo do Parlamento britânico na posse de 36 barris de pólvora destinados a derrubar a tirania do Rei James I e colocar um rei católico no trono. Fawkes e os seus colaboradores foram enforcados.

ALIGN=JUSTIFY>Em 1982, Alan Moore, em colaboração com o artista gráfico David Lloyd, escreveu a banda desenhada “V For Vendetta”, um velado (ou nem tanto) ataque às políticas conservadoras de Margaret Thatcher e um grito pela liberdade e pela justiça.

ALIGN=JUSTIFY>Em 2005, o argumento dos irmãos Andy e Larry Wachowski (“Matrix”) (adaptação largamente criticada pelo próprio Alan Moore), nas mãos do estreante James McTeigue (assistente de realização em “Matrix”), manteve a Inglaterra mas actualizou-a para um futuro próximo, onde um governo conservador e totalitário, liderado pelo maníaco Chanceler Sutler (John Hurt), domina a população usando o medo como arma (isto é ficção, certo?!), eliminando tudo o que é diferente.

ALIGN=JUSTIFY>Evey (Natalie Portman), filha de radicais anti-governamentais, trabalha no departamento de correspondência da única estação de televisão existente. Uma noite, depois do recolher obrigatório, Evey é detida pela segurança governamental (“Fingers”) e é salva por um vigilante mascarado, de seu nome V. V (Hugo Weaving) é um revolucionário, que usa o exemplo de Guy Fawkes (e a sua máscara), na sua luta por libertar a Inglaterra da corrupção, da crueldade e das mentiras do governo. Evey vê-se apanhada no meio do plano de vingança de V, que pretende fazer explodir as Houses of Parliament no 5 de Novembro seguinte. Um diligente investigador do governo Finch (Stephen Rea) tenta evitar o pior.

ALIGN=JUSTIFY>V usa um vocabulário sofisticado (a aliteração usada numa das primeiras falas é desconcertante), ao mesmo tempo que brade armas brancas com uma elegância oriental. Num misto de loucura, melancolia e teatralidade (a la Fantasma da Ópera) faz a constante evocação de Edmond Dantes, o Conde de Monte Cristo, e à sua sede de vingança. No fundo, V é um assassino que justifica a sua violência com o fim a que se destina. E não deixa de ser controverso que a lógica maquiavélica possa ser aqui usada para justificar a superioridade de um tipo de terrorismo sobre outro.

ALIGN=JUSTIFY>Polémicas aparte, este filme é um regalo, na sua mistura de mito e história com teoria da conspiração, e com claras referências ao universo de “1984” de Orwell (cuja adaptação ao cinema em 1984 por Michael Radford contou também com a participação de John Hurt, desta feita no papel do oprimido Winston Smith). Novamente se questiona de que direitos o povo está disposto a abdicar pela promessa de segurança? qual a melhor forma de um governo capitalizar o medo para seu próprio benefício? haverá causas pela quais vale a pena lutar? e morrer?

ALIGN=JUSTIFY>Ironicamente, o grande vilão deste filme acaba por ser, nem tanto o Chanceler ou o que ele representa, mas sim a grande massa de população que se torna conivente com sistemas deste tipo, a maioria das vezes por simples preguiça. E eles são todos nós (bem, talvez exceptuando uns quantos estudantes franceses...). E não deixa de ser refrescante que uma multidão indefinida e sem feições se transforme num conjunto de individualidades.

ALIGN=JUSTIFY>A história de “V For Vendetta” é um puzzle que se vai desvendando em pistas sucessivas e que conta com um conjunto de boas interpretações. Natalie Portman apresenta uma transformação impressionante e consistente; e Hugo Weaving consegue dotar uma personagem mascarada de grande humanidade, quer através da sua poderosa voz, quer dos movimentos corporais. Aliás, “V For Vendetta” tem o mérito de, no meio de grandes efeitos visuais, nunca se esquecer da base humana. Nos secundários, estão três sólidos pesos-pesados: Stephen Rea, John Hurt e Stephen Fry.

ALIGN=JUSTIFY>Este filme é ambíguo, dramático e intenso. Vale a pena ver. E pensar sobre. E no ambiente escuro e opressivo da fotografia de Adrian Biddle, só apetece ouvir (e dançar!) “Cry Me a River”.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Remember, remember, the fifth of November, The gunpowder treason and plot. I know of no reason why gunpowder treason should ever be forgot.”
HUGO WEAVING (V)


ALIGN=JUSTIFY> “Voilà! In view, a humble vaudevillian veteran, cast vicariously as both victim and villain by the vicissitudes of Fate. This visage, no mere veneer of vanity, is it vestige of the vox populi, now vacant, vanished, as the once vital voice of the verisimilitude now venerates what they once vilified. However, this valorous visitation of a by-gone vexation, stands vivified, and has vowed to vanquish these venal and virulent vermin vanguarding vice and vouchsafing the violently vicious and voracious violation of volition. The only verdict is vengeance; a vendetta, held as a votive, not in vain, for the value and veracity of such shall one day vindicate the vigilant and the virtuous. Verily, this vichyssoise of verbiage veers most verbose vis-à-vis an introduction, and so it is my very good honor to meet you and you may call me V.”
HUGO WEAVING (V)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Beneath this mask there is more than flesh. There is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.”
HUGO WEAVING (V)


ALIGN=JUSTIFY> “People should not be afraid of their governments, governments should be afraid of their people.”
HUGO WEAVING (V)















3... Extremos ***

28.03.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>T.O.: Saam Gaang Yi. Realização: Fruit Chan (“Dumplings”), Park Chan-Wook (“Cut”), Miike Takashi (“Box”). Elenco: “Dumplings” - Miriam Yeung, Bai Ling, Tony Ka-Fai Leung. “Cut” - Lee Byung-Hun, Lim Won-Hee, Gang Hye-Jung. “Box” - Kyoko Hasegawa, Atsuro Watabe. Nacionalidade: Hong Kong / Coreia do Sul / Japão, 2004.

ALIGN=JUSTIFY>Talvez seja difícil de acreditar, mas é possível que um filme sádico, perverso, bizarro, extremamente gore, com três histórias incómodas e perturbantes sobre a inveja e a vingança, possa levantar importantes questões existenciais como: até onde conseguimos levar o nosso culto à juventude e à beleza? até onde estamos dispostos a comprometer a nossa “bondade” para proteger os que amamos? se formos responsáveis pelo sofrimento de outros devemos carregar com esse peso o resto da nossa vida?

ALIGN=JUSTIFY>É o que acontece com “3... Extremos”. Sem um claro fio de ligação, reúnem-se aqui três histórias de três realizadores asiáticos, com o poder de despertar um conjunto de emoções de difícil digestão (os de estômago sensível nem vale a pena tentarem).



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ALIGN=JUSTIFY> “Dumplings”, do chinês Fruit Chan, é a mais extrema de todas e conta a história de uma já-não-tão-jovem actriz (Miriam Yeung) que, para reconquistar o seu marido, faz um pacto faustiano com uma cozinheira (Bai Ling), cujos bolos de massa cozida são famosos. Esta é uma versão de uma longa-metragem, com um fim distinto, cuja ideia grotesca (os bolos... acho que tão cedo não consigo ir jantar a um chinês...) é ampliada pela fotografia de Christopher Doyle (“2046” de Wong Kar Wai).



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ALIGN=JUSTIFY> “Cut” de Park Chan-Wook (realizador de “Oldboy”, 2003) é a melhor de todas. Um realizador (Lee Byung-Hun) fica, juntamente com a sua mulher, à mercê dos delírios de um figurante (Lim Won-Hee) que, invejoso do sucesso profissional e pessoal de Ryu, o obriga a fazer uma escolha que poderá comprometer não só a sua vida como o seu sistema de valores. O uso da sala fechada acrescenta tensão à diabólica maquinação, onde a luta psicológica de um homem contra si próprio é acompanhada de humilhação e tortura.



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ALIGN=JUSTIFY>A última (neste caso, “last” e “the least”), “Box”, do realizador de “Uma Chamada Perdida” (2003), Miike Takashi, fala, sem muita novidade, da culpa. Uma jovem escritora (Kyoko Hasegawa) tem pesadelos que incluem ser enterrada viva e que estão ligados a uma dura história de infância. Belas e hipnotizantes imagens de neve decoram este conto de inveja e redenção.



ALIGN=JUSTIFY>Quando saio de um filme destes não posso evitar pensar que tipo de mentes estranhas concebem estas histórias. E que mentes são estas que se dispõem a vê-las?



















Coisa Ruim **

27.03.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Tiago Guedes e Frederico Serra. Elenco: Adriano Luz, Manuela Couto, Sara Carinhas, Afonso Pimentel, João Santos, José Pinto, João Pedro Vaz, Elisa Lisboa, Filipe Duarte, Gonçalo Waddington, Maria d'Aires, Miguel Borges. Nacionalidade: Portugal, 2006.



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ALIGN=JUSTIFY>Já nem me recordo do último filme português que vi... (deixei passar o “Alice”...), mas deixei-me seduzir pelo bem montado trailer de “Coisa Ruim”. Eu não esperava exactamente um filme de terror, mas ser filme de abertura de um Fantasporto traz, certamente, alguma credibilidade e expectativa. Infelizmente, como um daqueles engates frustrados, a primeira impressão não sobreviveu a um olhar mais atento. E se, como eu, ouvirem qualquer referência que se atreva a comparar este filme com “The Village” (M. Night Shyamalan, 2004) ou o excelente “Shallow Grave” (Danny Boyle, 1994), por favor não liguem.

ALIGN=JUSTIFY> “Coisa Ruim” começa com um exorcismo, apresentando-nos a personagem mais importante - o Diabo. Xavier (Adriano Luz), um biólogo, muda-se de Lisboa com a mulher (Manuela Couto) e os filhos (Sara Carinhas, Afonso Pimentel e João Santos) para uma antiga casa de família no interior do país. Numa aldeia cheia de lendas, esta casa carrega consigo um passado que se vai fazendo notar em torno dos seus novos habitantes.

ALIGN=JUSTIFY>Seia e Torroselo foram locais de filmagem muito bem escolhidos, o Portugal profundo onde se guardam as mais velhas tradições e superstições. A claustrofobia de um bosque cerrado também é bem aproveitada. O mesmo se pode dizer da casa assombrada, com todo o potencial para causar calafrios, desde o ranger de madeiras aos recantos escuros. Os actores estão, globalmente, bastante bem, apesar de terem que trabalhar com personagens unidimensionais e com soluções que roçam o despropósito (tal é o caso dos avanços menos próprios da personagem de Afonso Pimentel, ficando-se sem perceber se são ou não fundamentados nalgum segredo, neste caso particular a insinuação requer confirmação sob pena de perder todo o sentido).

ALIGN=JUSTIFY>A fotografia de Victor Estevão é bastante agradável em termos de texturas e há planos realmente muito bem feitos. Aliás, a (pouca) tensão deste filme reside, única e exclusivamente, na forma como está filmado. A montagem de Pedro Ribeiro, no entanto, faz perder muitos dos momentos mais fortes (na primeira visão de um espectro nem me dei conta do que se tinha passado, tal foi a rapidez com que o filme foi cortado). Já para não falar da música de Jorge C. que poderia ter capitalizado muito mais este filme. Eu nem sou dos que defende que o som deve monopolizar os efeitos emocionais, mas não usá-lo de todo, ou usá-lo mal pode ser um pecado tão grave como o uso excessivo. É o que sucede aqui. O silêncio é tão pouco perturbante como o som que cresce e morre antes sequer de nos ter feito suster a respiração.

ALIGN=JUSTIFY>A veia jornalística do argumentista Rodrigo Guedes de Carvalho é evidente no trabalho de investigação das superstições que assolam o velho Portugal. Mas concentrá-las todas, de repente, numa mesma aldeia não só retira credibilidade à lenda que marca o filme, como a debitação de cada uma delas soa a lição escolar, sem o mínimo de naturalidade. Apenas para o fim, no cúmulo do desespero, aquelas personagens começam a falar como pessoas reais. Até lá, são elas mesmas uma assombração.

ALIGN=JUSTIFY>Tive pena que este filme não me tivesse incomodado nem um pouco, não me tivesse feito mexer na cadeira, obrigando o coração a esperar pelo momento seguinte, que não me tivesse feito sentir o peso do receio daquilo que não se explica. Mas se calhar é só o meu mau feitio. Isso ou o ter ficado totalmente insensível depois de ver o perturbante e duríssimo “3... Extremos”.

ALIGN=JUSTIFY>Ainda assim, se pensar muito, e aparte o declarado moralismo de que as nossas vidas actuais se escondem por trás de “lendas” que nós próprios criamos para nos consolarmos, consigo encontrar uma ideia importante. O desconhecido e o diferente sempre foram e serão motivo de desconfianças. O que uns respondem com superstições, outros respondem com cepticismo. Mas a explicação talvez resida a meio caminho - da mesma forma que a aceitação, que mais do que compreensão é respeito.







Frágeis ***

24.03.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>T.O.: Fragile. Realização: Jaume Balagueró. Elenco: Calista Flockhart, Yasmin Murphy, Richard Roxburgh, Elena Anaya, Gemma Jones, Colin McFarlane, Michael Pennington, Daniel Ortiz, Susie Trayling. Nacionalidade: Espanha, 2005.



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ALIGN=JUSTIFY>O hospital de crianças de Mercy Falls, na Ilha de Wight (Reino Unido) está prestes a ser encerrado. Mas devido a um grande acidente que motiva a falta de camas disponíveis, algumas crianças ainda se encontram em Mercy Falls aguardando a transferência. Entretanto, uma das crianças aparece com a perna partida sem se perceber como, ao mesmo tempo que Maggie (Yasmin Murphy), uma outra criança, afirma que a culpa é de Charlotte, uma menina mecânica que supostamente vive no 2º andar (fechado há cerca de 40 anos) e que mais ninguém acredita existir. Amy (Calista Flockhart), uma enfermeira americana, vem de Londres designada para o turno da noite e estabelece uma forte empatia com Maggie. A imaterial presença de Charlotte vai-se fazendo notar cada vez mais e com maior agressividade, e Amy assume a tarefa de proteger estas crianças.

ALIGN=JUSTIFY>A premissa da casa assombrada é velha, e Balagueró não traz nada de novo com esta história. A personagem de Amy é fracamente trabalhada, o contexto dos seus demónios passados é incompreensível e a representação de Calista Flockhart (eternamente marcada pela personagem Ally McBeal) falha nas partes mais emocionais, sendo incapaz de motivar particular simpatia. O mesmo não acontecendo com Yasmin Murphy no papel de Maggie, que está fantástica.

ALIGN=JUSTIFY>Balagueró faz um uso subtil do fantasma, mostrando-o pouco, mas fazendo a sua presença sentir-se em cada instante. Infelizmente, em muitos momentos optou por um uso excessivo dos efeitos sonoros e do volume, que substituíram o efeito perturbante que deveria ser da cena. O final lamechas também não ajudou, retirando o efeito agridoce dos últimos minutos de filme e que deveria ter permanecido.

ALIGN=JUSTIFY>Apesar disso, o filme tem suficientes twists e momentos assustadores que compensam o fraco argumento (de Balagueró e Jordi Galcerán, autor da peça “El Método”). Tem tudo a ver com o ambiente, a atmosfera de perigo e desassossego, soturna e mórbida, quase sempre nocturna e deprimente, e cheia de chuva, cinzentos e sombras na fotografia de Xavi Giménez. A música de Roque Baños ajuda consideravelmente na criação da opressão que precede os sustos. Para mim o assunto “ossos” é particularmente sensível, causando-me um certo desconforto físico (até o simples estalar dos dedos das mãos já me arrepia), o que permitiu ampliar estes efeitos e tornar a viagem de terror um pouco mais gratificante.

ALIGN=JUSTIFY>A terceira estrela é porque me fez tapar a cara, várias vezes. E pela beleza quase irritante de Elena Anaya (um bónus para os meninos).


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Casanova ***

23.03.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Lasse Hallström. Elenco: Heath Ledger, Sienna Miller, Jeremy Irons, Oliver Platt, Lena Olin, Omid Djalili, Helen McCrory, Leigh Lawson, Tim McInnerny, Charlie Cox, Natalie Dormer. Nacionalidade: EUA, 2005.



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ALIGN=JUSTIFY>Pior do que ter ido ver “Casanova” no dia de estreia, é ter gostado do filme e ter-me divertido imenso. Não é uma coisa de que me orgulhe: este filme é uma comédia romântica passada em 1753, que anda à volta da troca de identidades, a la Shakespeare, e que é consideravelmente pirosa.

ALIGN=JUSTIFY>Casanova (Heath Ledger) é um libertino sob o olhar curioso do Vaticano. Protegido pelo Doge de Veneza (Tim McInnerney de “Blackadder”) que o aconselha a casar, Casanova escolhe a pura Victoria (Natalie Dormer), para mais tarde se encantar por Francesca Bruni (Sienna Miller), uma feminista prometida em casamento a um comerciante genovês que nunca viu, Papprizio (Oliver Platt). Mas a vida de Casanova complica-se ainda mais com a chegada do Bispo Pucci (Jeremy Irons num registo cómico refrescante) vindo do Vaticano para limpar Veneza das suas imoralidades, nomeadamente, do grande fornicador (esta palavra tem algo de profissional que me inquieta) Casanova.

ALIGN=JUSTIFY>Esqueçam a coerência ou credibilidade, ou mesmo a autenticidade histórica. Este não é um filme para levar a sério. Mas, vendo bem, muita coisa na vida também não o deve ser. Este filme é um apelo aos sentidos. A visão é deliciada com a fotografia de Oliver Stapleton e o guarda-roupa de Jenny Beavan. A beleza de cada cena é de tirar a respiração. Algo semelhante aos efeitos de Casanova sobre Victoria, uma sedutora virgem em pleno cio. A audição regala-se com a música de Alexandre Desplat. E a voz de Heath Ledger que, depois do duro sotaque em “Brokeback Mountain”, tem a sensualidade de um ronronar aveludado.

ALIGN=JUSTIFY>Pois, dêem-me um Heath Ledger. E uma Sienna Miller, uma Lena Olin, um Oliver Platt e um Jeremy Irons (ah, e Omid Djalili como o criado de Casanova). Tudo isto em Veneza e o meu dia está feito. Uma vitória da forma sobre o conteúdo. Mas há dias em que é isso mesmo que é preciso: afogar o intelecto em puro prazer.


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ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Casanova - I've never sought glory as a lover.
Irmã Beatrice - What then, senor Casanova, do you seek?
Casanova - A moment that lasts a lifetime.”
HEATH LEDGER (Casanova) e LAUREN COHAN (Irmã Beatrice)


ALIGN=JUSTIFY> “Casanova - Casanova the philosopher, who devotes his life to the perfection of experience?
Francesca - No, Casanova the libertine, who devotes his life to seducing women.
Casanova - Well, we're obviously talking about the same person.”
HEATH LEDGER (Casanova) e SIENNA MILLER (Francesca)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Give me a man who is man enough to give himself just to the woman who is worth him. If that woman were me I would love him alone and forever.”
SIENNA MILLER (Francesca)
















Tsotsi ***

22.03.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Gavin Hood. Elenco: Presley Chweneyagae, Mothusi Magano, Jerry Mofokeng, Zenzo Ngqobe, Kenneth Nkosi, Percy Matsemela, Thembi Nyandeni, Terry Pheto, Benny Moshe, Nambitha Mpumlwana, Rapulana Seiphemo, Zola, Jerry Mofokeng. Nacionalidade: Reino Unido / África do Sul, 2005.


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ALIGN=JUSTIFY> "Tsotsi" significa "rufia" ou "desordeiro" na linguagem das ruas de Soweto, um gueto negro nos subúrbios de Joanesburgo. Tsotsi (Presley Chweneyagae) tem 19 anos e é chefe de um grupo de gangsters: Boston (Mothusi Magano), Butcher (Zenzo Ngqobe) e Aap (Kenneth Nkosi). Tsotsi é o sociopata do grupo, transformando um assalto num assassínio, e espancando Boston quando este clama pelo valor da decência. Num bairro da classe média, Tsotsi atira sobre uma mulher (Nambitha Mpumlwana) para lhe roubar o carro. Uns metros mais à frente, Tsotsi repara que há um bebé no banco de trás. Um misto de emoções trespassa a sua expressão (numa convincente interpretação do estreante Chweneyagae), e dá-se início a uma viagem de transformação.

ALIGN=JUSTIFY>O mundo de Tsotsi define-se no mais básico: necessidades, desejos, oportunidades, obstáculos, perigos. A esperança não abunda e a tragédia espreita a cada esquina. A solidão, a raiva e a alienação são combatidos com agressividade e crueldade. Além do bebé, outros dois encontros servem de catalizador para a mudança e a curva de aprendizagem de Tsotsi vai-se fazendo por tentativa e erro. Mas o sorriso que nos surge quando vemos Tsotsi tentar cuidar da criança, com claro desconhecimento, mistura-se com o desconforto das reais dificuldades daquelas vidas.

ALIGN=JUSTIFY>A infância de Tsotsi, e os seus motivos, surgem em flashbacks que, mais do que desculpar qualquer uma das suas atitudes violentas, justificam as suas atitudes de crescente carinho para com aquela criança. Através dela, Tsotsi resgata o seu passado, as suas dores, e até a sua identidade. E a “decência” apregoada por Boston acaba por ser aquilo que Tsotsi encontra.

ALIGN=JUSTIFY>O tema do “homem mau” humanizado através do contacto com um inocente não é novo, e o registo do filme lembra inevitavelmente “Cidade de Deus” (Fernando Meirelles e Kátia Lund, 2002), sem, no entanto, chegar à excelência deste último. Mas “Tsotsi” é, no global, um filme bem feito (ainda que eu não perceba o Oscar), para o que contribui também a fotografia de Lance Gewer, que capta a pobreza e desolação do gueto, com uma escuridão envolvente, cores quentes e suave iluminação.

ALIGN=JUSTIFY>A acção do romance do dramaturgo Athol Fugard (publicado nos anos 80), no qual “Tsotsi” se baseia, desenrolava-se durante os anos 50, no início do apartheid. A actualização foi feita para os nossos dias com a inclusão opressiva de outro flagelo, a SIDA, por todo o lado surgindo cartazes com a mensagem: “We are all AFFECTED by HIV and AIDS”. Os riscos mudam, mas não desaparecem, a vida para estes órfãos sem casa continua a ser assustadora. E a marca deste filme, quase apagada no meio da narrativa, são essas crianças, vivendo dentro de tubos de cimento.

ALIGN=JUSTIFY>Fica a esperança de que aquele fim seja, simbolicamente e na sua essência, a luz de um princípio.


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ALIGN=JUSTIFY>DICIONÁRIO:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> "Tsotsi" literally means "thug" or "gangster". The word "tsotsi" means a black urban criminal, a street thug or gang member in the vernacular of black townships in South Africa. Its origin is possibly a corruption of the Sesotho word "tsotsa" meaning to dress flashily, zoot suits being originally associated with tsotsis. A male is called a tsotsi and a female tsotsi is called a noasisa.


ALIGN=JUSTIFY>"Kwaito" is the modern music of South African townships. It is used extensively on the film's soundtrack, some of which is performed by Zola, to add to the authentic feel of ghetto street life.









INDIELISBOA 2006 - PROGRAMAÇÃO

21.03.06, Rita

Já com calendário, aqui fica a programação da 3ª edição do IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa.





COMPETIÇÃO - LONGAS METRAGENS

THE DEATH OF MR. LAZARESCU, de Cristi Puiu (RO, 2005, 153')
DOUBLE SUICIDE ELEGY, de Toru Kamei (JP, 2005, 109')
GRAIN IN EAR, de Zhang Lu (KR/CN, 2005, 109')
LES ÉTATS NORDIQUES, de Denis Côté (CA, 2005, 91')
LONGING, de Valeska Grisebach (DE, 2005, 90')
MUTUAL APPRECIATION, de Andrew Bujalski (US, 2005, 109')
PAVEE LACKEEN, de Perry Ogden (IE, 2005, 87')
PLAY, de Alicia Scherson (CL, 2005, 105')
LA SAGRADA FAMILIA, de Sebastián Campos (CL, 2005, 99')
SHARK IN THE HEAD, de Maria Procházkóva (CZ, 2005, 75')
SNOW, de Hakan Sahin (CA, 2005, 75')
UM POUCO MAIS PEQUENO QUE O INDIANA/ SLIGHTLY SMALLER THAN INDIANA, de Daniel Blaufuks (PT, 2006, 78')


COMPETIÇÃO - CURTAS METRAGENS

ÉRAMOS POCOS, de Borja Cobeaga, ES, 2005
AT THE QUINTE HOTEL, de Bruce Alcock, CA
EL CERCO, de Nacho Martin e Ricardo Íscar, ES, 2005
RECUERDO DEL MAR, de Max Zunino, MX, 2005
AUTOBIOGRAPHICAL SCENE NUMBER 6882, de Ruben Östlund, SE, 2005
ETOILE VIOLETTE, de Axelle Ropert, FR, 2005

LIGNE VERTE, de Laurent Mareschal, FR, 2005
RIGHT PLACE, de Kosai Sekine, JP, 2005
THE TAILOR’S KISS, de Joana Bartolomeu, PT, 2005
DOMINGO, de José Filipe Costa, PT, 2005
SUNDAY AFTERNOON, de Gaia Adducchio, CZ, 2005
WIR SIND DIR TREU, de Michael Koch, CH/DE, 2005
LA PLAINE, de Roland Edzard, FR, 2005
NEVER LIKE THE FIRST TIME, de Jonas Odell, SE, 2005

DU SOLEIL EN HIVER, de Samuel Collardey, FR, 2005
TERRA INCÓGNITA, de Arnaud Gerber, CH, 2006
AIM
, de Björn Kämmerer e Karoline Meiberger, AT, 2005
AO FUNDO DO TÚNEL, de João Pupo, PT, 2006
UN PONT SUR LA DRINA, de Xavier Lukomski, BE, 2005
HIBERNATION, de John Williams, UK, 2005

90 DEGREES, de Jules Janaud, Raphael Martinez e Francois Roisin, FR, 2005
MAN SEEKING MAN, de Matti Harju, FI, 2005
ROCKUMENTÁRIO, de Sandra Castiço, PT, 2006
RUFUS IN “BOUNCIN BUDDY” , de Raoul Deleo, NL, 2005
NÃO OUVES LADRAR OS CÃES, de Francisco Moreira, PT, 2005
UYUNI, de Andres Denegri, AR, 2005
STUART, de Zepe, PT, 2006
CARLITOPOLIS, de Luís Nieto, FR, 2005
ANIMAL TRAGIC, de Tim Macmillan, UK, 2005

THE LUCKY COUCH, de Nuno Garcia, PT, 2005
THE BOY WITH NO NAME, de Adam Smith, UK, 2005
SNAP SHOTS FROM REALITY, de Johanna St Michaels, SE, 2005
THE GIANT, de Federico Solmi, US, 2005
NO INÍCIO, PT, 2005
1 CLÉ POUR 2, de Delphine Noels, Bélgica, 2005
MOTODROM, de Jörg Wagner, Alemanha, 2005
LOVE THIS TIME, de Rhys Graham, Austrália, 2005


OBSERVATÓRIO - LONGAS METRAGENS

À FLOR DA PELE, de Catarina Mourão (PT, 2006, 64’)
ALL THE INVISIBLE CHILDREN, de Mehdi Charef, Emir Kusturica, Spike Lee, Kátia Lund, Jordan e Ridley Scott, Stefano Veneruso, John Woo (IT, 2005, 116’) - ANTESTREIA
BIPEDALISM, de Eugeny Yufit (NL/RU, 2005, 93’)
CARREIRAS, de Domingos Oliveira (BR, 2005, 72’)
EAST OF PARADISE, de Lech Kowalski (FR, 2005, 104’)
ELECTION, de Johnnie To (HK, 2005, 98’) - ANTESTREIA
ELI ELI LEMA SABATCHANI, de Shinji Aoyama (JP, 2005, 107’)
GEMINIS, de Albertina Carri (AR/FR, 2005, 85’)
L’INTRUS, de Claire Denis (FR, 2004, 130') - ANTESTREIA
LOFT, de Kiyoshi Kurosawa (JP, 2005, 115')
LUNACY, de Jan Svankmajer (CZ/SK, 2005, 118’)
MARY, de Abel Ferrara (IT/US, 2005, 83’) - ANTESTREIA
MIRRORMASK, de Dave McKean (UK/US, 2005, 101’)
MURDERBALL, de Henry Alex Rubin e Dana Adam Shapiro (US, 2005, 88’)
PELE, de Fernando Vendrell (PT, 2006, 102’)
THE PROPOSITION, de John Hillcoat com argumento de Nick Cave (AU/UK, 2005, 104’) - ANTESTREIA
THE WILD BLUE YONDER, de Werner Herzog (DE/UK, 2005, 81')
WASSUP ROCKERS, de Larry Clark (US, 2005, 111’) - ANTESTREIA


OBSERVATÓRIO - CURTAS METRAGENS

KING KONG AND THE END OF THE WORLD, de Federico Solmi, US, 2005
OEDIPUS, de Rong, UK, 2005
SELO OU NÃO SÊ-LO, de Isabel Aboim Inglêz, PT, 2005
BREAK, de Shona McCullagh, NZ, 2006
JONA/TOMBERRY, de Rosto, NL, 2005
OH MY GOD, de John Bryant, US, 2004/ FABLE, de Daniel Sousa, US, 2005
WHILE DARWIN SLEEPS, Paul Bush, UK, 2004
LES PRINCESSES DE LA PISTE, de Marie Hélia, FR, 2005
BURKA BOOGIE WOOGIE, de Sietske Tjallingii, Holanda, 2006
THE TRUE STORY OF SAWNEY BEANE, de Elizabeth Hobbs, CA, 2005
O ALMOÇO, de Gideon Nel, PT, 2005
LE COULOIR, de Jean-Loup Felicioli e Alain Gagnol, FR, 2005
WHO I AM AND WHAT I WANT, de Chris Shepherd e David Shrigley, UK, 2005
DE GLAUBER PARA JIRGES, de André Ristum, BR, 2005
DENTIST, de Signe Baumane, US, 2005
BANQUISE, de Cédric Louis e Claude Barras, CH, 2005
LE BAISER, de Le Lay Stéfan, FR, 2005
HISTÓRIA TRÁGICA COM FINAL FELIZ, de Regina Pessoa, PT, 2005
APPEAL, de Asteria Setiono, AU, 2005
LA FEMME SEULE, de Brahim Fritah, FR, 2004
DESMARCA-TE, de João Silva e Sara Sousa, PT, 2005
BLUE WILLOW, de Veialu Aila-Unsworth, NZ, 2005
STILL LIFE, de Jon Knautz, CA, 2005
ESTADOS DA MATÉRIA, de Susana Nobre, PT, 2006
THE FAN AND THE FLOWER, de Bill Plympton, US, 2005
SPRING SONG, de Erik de Bruyn, NL, 2005
MAESTRO, de Geza M. Toth, HU, 2005
ANTONIO’S BREAKFAST, de Daniel Mulloy, UK, 2005
RABBIT, de Run Wrake, UK, 2005
LEARN SELF DEFENSE, de Chris Harding, US, 2004
THE ECSTASY OF GARY GREEN, de Jack Feldstein, AU, 2005
GROWING THROUGH WAITING, de Ingo Schiller, DE, 2005
WHO IS BOZO TEXINO? , de Bill Daniel, US, 2005


LABORATÓRIO - LONGAS METRAGENS

DRAWING RESTRAINT 9, de Matthew Barney e banda sonora de Björk (US, 2004, 145’) - ANTESTREIA
LE FILMEUR, de Alain Cavalier (FR, 2005, 100’)
THE FIRST ON THE MOON, de Alexey Fedorchenko (RU, 2005, 75’)
INTERKOSMOS, de Jim Finn (US, 2006, 71')
THE JOY OF LIFE, de Jenny Olson (US, 2005, 65’)
MALEREI HEUTE, de Stefan Hayn e Anja-Christin Remmert (DE, 2005, 61’)
MATTHEW BARNEY: NO RESTRAINT, de Alison Chernick (US, 2006, 70’)
SUGAR, de Patrick Jolley e Reynold Reynolds (US/IE, 2005, 80’)
WOLFF VON AMERONGEN - DID HE COMMIT BANKRUPTCY OFFENCES?, de Gerhard Friedl (AT, 2005, 73')


LABORATÓRIO - CURTAS METRAGENS

SUR LA TERRE, de Ariane Michel, FR, 2005
CARELESS REEF: 4. MARSA ABU GALAWA, de Gerard Holthuis, NL, 2004
DESI’RE, EUA, 2005
OPTICAL SOUND, de Mika Taanila, FI, 2005
BLOCKADE, de Sergei Loznitsa, RU, 2005
THROWING STONES, de John Smith, UK, 2004
DEEP INSIDE, de Camille Henrot, FR, 2005
DIARY OF A MARRIED MAN, de Lech Kowalski, FR, 2005
THE INFLUENCE OF OCULAR LIGHT PERCEPTION ON METABOLISM IN MAN AND IN ANIMAL, de Thomas Draschan e Stella Friedrichs, AT, 2006
L’ÎLE ÉPHÉMÈRE, de Kiyé Simon Luang, FR/LA, 2005
SON OF A BITCH, de Enda Hughes e Gilbert McCarragher, IE, 2005
CITY LIGHT RAYS, de Inês Rodolfo, PT, 2005
THE SOLITUDE OF SPACE, de Trista Namo e Fel Roch, NO, 2005
SCOPE, de Camille Henrot, FR, 2005
YOU ARE 10 YEARS OLD, de Paul Leyton, UK, 2004
OF. BALANCE, de Edgar Santinhos e João Biscaia, PT, 2005
CLOSING TIME, de Thomas Woschitz, AT, 2005
MUSEUM PIECE, de John Smith, UK, 2004
DYING LIVING WOMAN, de Camille Henrot, FR, 2005
CARELESS REEF: 1. PREFACE, Gerard Holthuis, NL, 2005
A SERPENTE, de Sandro Aguilar, PT, 2005
TERTIUM NON DATUR, de Lucian Pintilie, RO, 2006


INDIEJÚNIOR

AS TRÊS CABRAS (Kolme Pukkia), de Heikki Prepula (FI, 2001, 4’)
O PRÍNCIPE MINORCA (Le Trop Petit Prince), de Zoia Trofimova (FR, 2002, 7’)
A CENOURA! (Porgand!), de Parter Tall (EE, 2003, 7’)
ERNESTO VAI À PISCINA (Ernst I Svommehallen), de Alice de Champfleury (DK, 2000, 7’)
RAIOS E CORISCOS (Hochbetrieb), de Andreas Krein (DE, 2003, 6’)
OS BZZZES: AS CEREJAS (Bizgeci: Cesnje), de Grega Mastnak (SI, 2003, 5’)
OS PIRATAS, de Mark Baker (GB, 1996, 11’)
A CEGONHA (Der Storch), de Klaus Morscenser (DE, 2002, 8’)
COMER CÃO GATO RATO (Eat Dog Cat Mouse), de Kwok Fung Lam (UK, 2005, 3’)
UMA CASINHA NA ÁRVORE (Little House On A Tree), de Darko Krec (HR, 2005, 6’50’’)
AS CRIATURAS, de Colectivo de crianças Nuno Maya e Carole Purnelle (PT, 2005, 15’)
PIÑATA, de Mike Hollands (AU, 2005, 4’)
E SE EU FOSSE UM PÁSSARO? (Meeting Me), de Angela Steffen (DE, 2004, 5’)
A ARCA DO NÃO É (The Ark Job), de Titus Fehr (CH, 2005, 3’)
NOITES LOUCAS (Manic Moondays), de Martin Schiffter (DE, 2005, 8’)
XADREZ (Chess), de Pernilla Hindsefelt (SE, 2006, 5’)
HISTORIETAS ASSOMBRADAS (PARA CRIANÇAS MALCRIADAS), de Victor Hugo Borges (BR, 2005, 16’)
O REINO ANIMAL (Animal Kingdom), de David Katz (US, 2005, 3’)
A BORBULHA (The Zit), de Mike Blum (US, 2005, 5’)
O GATO VADIO (Tomcat), de Tine Kluth (DE, 2005, 14’)
PAI À ÁGUA! (Panther Martin), de Terje Rangnes (NO, 2005, 7’)
O GÉNIO DA LATA DE RAVIOLIS (Le Génie De La Boite De Raviolis), de Claude Barras (FR, 2005, 8’)
O HOTEL DOR DE CABEÇA (Headache Hotel), de Karen Cheung (UK, 2005, 2’)
O LOUVA-A-DEUS E A LAGARTA (The Manti’s Parable), de Josh Staub (US, 2005, 8’)
A MAGIA DE AMÉLIA (The Magic Of Amelia), de Katsuhiko Omori (JP, 2005, 3’)
FUTEBOL NO PARQUE (Park Football), de Grant Orchard (UK, 2005, 2’)
MAESTRO, de Géza M. Toth (HU, 2005, 5’)
BELEZA A QUANTO OBRIGAS (Appeal), de Asteria Setiono (AU, 2005, 5’)
MAJORETTES, de Lola Doillon (FR, 2005, 16’)
A MENINA QUE VOAVA (Heavy Pockets), de Sarah Cox (UK, 2004, 6’)
PAI À ÁGUA! (Panther Martin), de Terje Rangnes (NO, 2005, 7’)


FILME DE ABERTURA

ME AND YOU AND EVERYONE WE KNOW, de Miranda July (US, 2005, 90’)


FILME DE ENCERRAMENTO

TWELVE AND HOLDING, de Michael Cuesta (US, 2005, 90’)


DIRECTOR’S CUT

WINTER SOLDIER, de Winter Collective (US, 1972, 95’)
COMING APART, de Milton Moses Ginsberg (US, 1969, 110')


INDIEMUSIC

BE HERE TO LOVE ME: A FILM ABOUT TOWNES VAN ZANDT, de Margaret Brown (US, 2005, 99’)
THE DEVIL AND DANIEL JOHNSTON, de Jeff Feuerzeig (US, 2005, 110’)
THE FEARLESS FREAKS, de Bradley Beesley (US, 2005, 99’)
IS IT REALLY SO STRANGE?, de William E. Jones (US, 2004, 80’)
LEONARD COHEN: I'M YOUR MAN, de Lian Lunson (US, 2005, 98’)
THE LIFE AND HARD TIMES OF GUY TERRIFICO, de Michael Mabbott (CA, 2005, 86’)
NEIL YOUNG: HEART OF GOLD, de Jonathan Demme (US, 2006, 103')
SCREAMING MASTERPIECE, de Ari Alexander Ergis Magnússon (IS, 2005, 87’)
YANG BAN XI - THE 8 MODELWORKS, de Yan Ting Yuen (NL, 2005, 87’)


Além destes filmes, o IndieLisboa homenageará nesta edição 4 HERÓIS INDEPENDENTES: Michael Glawogger, Jay Rosenblatt, Nobuhiro Suwa e Edgar Pêra.

Para mais informações sobre os filmes cliquem aqui.




A History of Violence *****

19.03.06, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: David Cronenberg. Elenco: Viggo Mortensen, Maria Bello, Ed Harris, William Hurt, Ashton Holmes, Peter MacNeill, Heidi Hayes, Aidan Devine, Bill MacDonald. Nacionalidade: EUA, 2005.


SRC=http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/1151823/photo_06.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Tom Stall (Viggo Mortensen) é dono de um pequeno restaurante na pacata vila de Millbrook, Indiana. A mulher de Tom (Maria Bello) e os seus filhos Jack (Ashton Holmes) e Sarah (Heidi Hayes), bem como a restante Millbrook conhecem Tom como um homem pacífico. Mas ao defender-se de uma tentativa de assalto, Tom mata dois homens, tornando-se o herói do momento. Até ao dia em que surge Carl Fogarty (Ed Harris) que afirma conhecer Tom de Philadelphia, onde ele daria pelo nome de Joey, irmão do criminoso Richie Cusack (William Hurt).

ALIGN=JUSTIFY>Após o assalto, o filme retoma uma certa paz quotidiana. Mas, a partir desse momento, esta calma oculta uma crescente tensão, à medida que se vai entrando numa espiral de agressividade (jornalística, psicológica e física).

ALIGN=JUSTIFY>Bastante mais convencional que “Spider” (2002), e numa linha mais mainstream, “A History of Violence”, baseado na banda desenhada de 1997 de Vince Locke e John Wagner, ainda mantém alguma da profunda e perturbante exploração do humano tão característica de Cronenberg, abordando questões de identidade e a linha ténue entre realidade e fantasia.

ALIGN=JUSTIFY> “A History of Violence” beneficia de um conjunto de grandes interpretações, marcadas por fortes mudanças emocionais. Viggo Mortensen está totalmente à altura deste papel, modulando toda a sua complexidade com extremo cuidado. E o mesmo acontece com Maria Bello. Mas a minha preferência é monopolizada por um demente William Hurt, seguido de um arrepiante e ameaçador Ed Harris. A cena final termina em silêncio. Mas Cronenberg é tão exímio em dar vida a estes seres, que conseguimos ouvir cada palavra não dita.

ALIGN=JUSTIFY>Face à BD, as grande diferenças residem no nome das personagens e na geografia. As cenas de sexo são também uma novidade. Contestadas pelos puristas, são para mim essenciais na caracterização da relação entre o Tom e Edie. E desculpem os mais pudicos, mas o 69 entre Viggo Mortensen e Maria Bello é de uma intimidade quase comovente.

ALIGN=JUSTIFY>Cronenberg mistura sexo e violência, compaixão e raiva, vingança e perdão. O argumento de Josh Olson está muito bem escrito e Cronenberg filma a violência com uma tal arte e beleza que é impossível não fazer a analogia com a dualidade de atracção-aversão que a violência exerce sobre todos nós. Até os momentos mais “pacíficos” estão repletos de sentimentos violentos (o amor incluído).
ALIGN=JUSTIFY>Cronenberg joga com isso e levanta questões: a violência pode ser justificada? ou apenas gera mais violência? como responder à violência quotidiana que enfrentamos nas nossas vidas, seja na escola, na rua, ou numa relação? como lidar com a agressividade que reside em cada um de nós, ainda que adormecida?

ALIGN=JUSTIFY>Por muito que nos custe, a violência faz parte da condição humana. E por muito que a reneguemos há algo na nossa natureza que se regozija perante visões de agressividade e sangue. Cada um de nós alberga um monstro. Felizmente, a maioria de nós não o alimenta.

WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “We never got to be teenagers together. I’m gonna fix that.”
MARIA BELLO (Edie Stall)


ALIGN=JUSTIFY> “There's no such thing as monsters.”
VIGGO MORTENSEN (Tom Stall)








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