Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Crimen Ferpecto ***

31.05.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Álex de la Iglesia. Elenco: Guillermo Toledo, Mónica Cervera, Luis Varela, Fernando Tejero, Kira Miró, Enrique Villén, Javier Gutiérrez. Nacionalidade: Espanha / Itália, 2004.


SRC=http://www.clubcultura.com/clubcine/clubcineastas/delaiglesia/crimenferpecto/img/01.jpg>


ALIGN=JUSTIFY> Antes de mais convém referir que “Crimen Ferpecto” não se trata de um erro ortográfico. Numa alusão deturpada ao filme de Hitchcock “Dial M for Murder” (1954) (intitulado “Crimen Perfecto” em Espanha e “Chamada Para A Morte” em Portugal), Álex de la Iglesia faz aqui uma homenagem ao thriller psicológico, desconstruindo-o com mais uma viagem alucinada de personagens levados, por outros, ao extremo da loucura. Pisca também o olho a Goscinny, na expressão ‘Ferpeito!’ usada abundantemente pelo ébrio Obelix em “Asterix - Os Louros de César”.
ALIGN=JUSTIFY>Rafael (Toledo) é sedutor e ambicioso. Gosta de mulheres bonitas (definitivamente La Palice!), de roupa elegante e de todos os sinais de status social elevado. Trabalha na secção de Senhora de uns grandes armazéns, onde disputa com um colega da secção de Homem, Don Antonio (Varela) a promoção ao posto de director de piso. Após uma acesa e física discussão, Don Antonio morre acidentalmente.

ALIGN=JUSTIFY>Mas existe uma testemunha: Lourdes (Cervera), uma feia empregada, obcecada por Rafael e que não hesita em chantageá-lo para que seja seu amante, e, mais tarde, seu marido. Rafael, capaz de tudo para conseguir o que quer, é confrontado com uma versão ainda pior de si próprio. Desesperado ao ver o seu mundo sofisticado cair vertiginosamente na vulgaridade que sempre abominou, Rafael traça um plano para se livrar de Lourdes.

ALIGN=JUSTIFY>Um humor negro impregna esta crítica social à obsessão pela imagem e pelo consumo desenfreado como forma de suprir as necessidades emocionais cada vez mais profundas. De la Iglesia volta a contar com a colaboração de Jorge Guerricaechevarría no argumento, fazendo uso do tom cómico e bizarro que costuma caracterizar as suas obras (“Perdita Durango” – 1997, “La Comunidad” – 2000), para mostrar a podridão que muitas vezes se esconde atrás das belas aparências.

ALIGN=JUSTIFY>O cenário de “Crimen Ferpecto” foram uns armazéns de Sevilha, que tinham fechado dois anos antes. As lojas são, por excelência, onde se vende e se compra essa aparência, e onde a perfeição tem muito pouco a ver com a realidade. E é inevitável reportamo-nos ao maravilhoso mundo do El Corte Inglés, com as suas semanas fantásticas que duram 15 dias. A televisão, na sua gula pela privacidade, também não é esquecida.

ALIGN=JUSTIFY>A opção de De la Iglesia pelo pormenor do fantasma de Don Antonio surge sem grande sentido, ainda para mais se acrescentarmos o facto de os seus conselhos serem dirigidos a um suposto inimigo. Existem também incongruências na fase final do filme, além da poética moralidade, que são consideravelmente difíceis de engolir e nos deixam desconsolados face à premissa original.

ALIGN=JUSTIFY>Apesar de tudo, vale a pena pelas soberbas interpretações de Toledo e Cervera. E pela visão mordaz sobre o elemento de “consumismo” que existe nos relacionamentos.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA>“Me considero un tipo atractivo, con clase. Mi máxima ambición es disfrutar de una vida acorde con mis gustos. Prefiero MORIR a conformarme con una existencia mediocre. Sé la casa que quiero, sé el coche que quiero, incluso podría decirles dónde está y lo que cuesta. No tener nada es mejor que estar rodeado de objetos vulgares. Soy una persona elegante que sólo pretende vivir en un mundo elegante. ¿Es eso pedir demasiado?”
GUILLERMO TOLEDO (Rafael)


ALIGN=JUSTIFY> “Me gustan los personajes envidiosos, codiciosos. La gente que parece buena, pero no lo es. Los que hacen una putada y les sale mal. El miserable encantador, el perdedor divertido. Como Pierre Nodoyuna, el piloto que siempre llegaba el último en los dibujos animados de 'Los Autos Locos'. Les tengo cariño. No puedo evitarlo. Entiendo sus frustraciones. Comparto su empeño por cambiar las cosas. Quisiera que, aunque sólo fuera por una vez, se saliesen con la suya... Pero me divierten más sus repetidos fracasos. Nada sale bien porque es imposible que la realidad se acomode a nuestros deseos. Nada es perfecto y el que así lo cree, miente.”
ÁLEX DE LA IGLESIA











CANNES 2005 - PALMARÉS

23.05.05, Rita


PALMA DE OURO
L’ENFANT de Jean-Pierre e Luc Dardenne

GRANDE PRÉMIO DO JÚRI
BROKEN FLOWERS de Jim Jarmusch

MELHOR ACTRIZ
HANNA LASLO em FREE ZONE de Amos Gitai

MELHOR ACTOR
TOMMY LEE JONES em THE THREE BURIALS OF MELQUIADES ESTRADA de Tommy Lee Jones

MELHOR REALIZADOR
MICHAEL HANEKE por CACHÉ

MELHOR ARGUMENTO
GUILLERMO ARRIAGA por THE THREE BURIALS OF MELQUIADES ESTRADA de Tommy Lee Jones

PRÉMIO DO JÚRI
SHANGHAI DREAMS de Wang Xiaoshua

PALMA DE OURO DE CURTA-METRAGEM
PODOROZHNI de Strembitskyy

MENÇÃO ESPECIAL
CLARA de Van Sowerwine

PRÉMIO UN CERTAIN REGARD
MOARTEA DOMNULUI LAZARESCU de Cristi Puiu

PRÉMIO DA INTIMIDADE
LE FILMEUR de Alain Cavalier

PRÉMIO REVELAÇÃO
DELWENDE de S. Pierre Yameogo

CAMÉRA D’OR - EX-AEQUO
SULANGA ENU PINISA - A TERRA ABANDONADA de Vimukthi Jayasundara
ME AND YOU AND EVERYONE WE KNOW de Miranda July

PRÉMIOS CINÉFONDATION

1º PRÉMIO: BUY IT NOW de Antonio Campos

2º PRÉMIO: VDVOYOM de Nikolay Khomeriki e BIKUR HOLIM de Maya Dreifuss

3º PRÉMIO: LA PLAINE de Roland Edzard e BE QUIET de Sameh Zoabi


por Sérgio


A Love Song for Bobby Long ****

18.05.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Shainee Gabel. Elenco: John Travolta, Scarlett Johansson, Gabriel Macht, Deborah Kara Unger, Dane Rhodes, David Jensen, Clayne Crawford, Sonny Shroyer. Nacionalidade: EUA, 2004.


SRC=http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/1139735/photo_03.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Ao saber da morte de Lorraine, a sua mãe ausente, Pursy Will (Johansson) deixa a sua existência vazia na Flórida para assistir ao funeral em New Orleans. Mas chega tarde demais. E a casa que pensava que Lorraine lhe tinha deixado apenas a ela, está ocupada por dois alcoólicos: Bobby Long (Travolta), um ex-professor de literatura inglesa de 49 anos e Lawson Pines (Macht), um aspirante a escritor.

ALIGN=JUSTIFY>No impulso dos seus 18 anos, Pursy decide ficar. E a relação entre eles, que começa conflituosa e cheia de tensões, rapidamente se torna de respeito mútuo e inter-ajuda. Pursy deixa-se convencer a regressar ao liceu e, de uma forma estranha, todos acabam por recuperar, em cada um dos outros, as pessoas que perderam no seu passado.

ALIGN=JUSTIFY>A revolta de Pursy contra o abandono de Lorraine, cuja vida atribulada de cantora envolveu drogas e demasiados homens, contrasta com o amor sentido por todos aqueles que a conheceram de perto. Pursy descobre que as memórias que inventou para si própria, acerca da sua infância e da sua mãe têm um fundo de verdade. Mas só no final Pursy assume a sua curiosidade sobre ela, na ânsia de se definir a ela própria.

ALIGN=JUSTIFY>O filme centra-se nas relações, frágeis pelos segredos que as mantêm, mas que também ameaçam destruí-las. Todos estão a fugir de uma vida e à procura de outra, partilhando o medo da perda e da solidão. Refugiado no álcool, na guitarra e nas citações literárias, Bobby pressiona Lawson para escrever a sua biografia e vive através dele, como um pai parasita, os sonhos que ele já deixou de guardar para si mesmo.

ALIGN=JUSTIFY>A representação de Travolta é impressionantemente bela, num dos seus melhores trabalhos de sempre. E conta com o forte apoio de uma Johansson aguerrida e o mais profunda possível dado o papel pouco espesso e um Macht sensível e seguro na insegurança de Lawson.

ALIGN=JUSTIFY>Infelizmente, a realizadora/argumentista Shainee Gabel baralha-se entre o que deve mostrar e o que deve esconder. As revelações não nos surpreendem, e os supostos “golpes” na história são bastante previsíveis. Felizmente, há momentos perfeitos, onde o ambiente, o tempo e o espaço se conjugam de uma forma irrepreensível. Entre uns e outros, e ao contrário de um bom jazz, o ritmo estende-se por demasiado tempo.

ALIGN=JUSTIFY> “A Love Song for Bobby Long”, baseado no livro de Ronald Everett Capps “Off Magazine Street”, precisava, e merecia, um toque mais desesperado na demanda de um sentido para a vida. Mas apesar das suas falhas, e dos constantes avisos acerca do tempo em New Orleans, nada nos consegue afastar da mística da cultura cajun e de toda a inebriante musicalidade daquela cidade de cores quentes.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Winter never feels truly at home in New Orleans. An unwelcomed visitor that shows up long enough to remind us of what we're missing, then leaves us just in time for us to forget again.”
GABRIEL MACHT (Lawson Pines)


ALIGN=JUSTIFY>“Happiness makes up in height for what it lacks in length.”
ROBERT FROST (1874-1963)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “He can make a lovely corpse!”
CHARLES DICKENS (1812-70)


COLOR=#FFFFFF>“We cannot tear out a single page of our lives, but we can throw the whole book in the fire.”
GEORGE SAND (1804-76)


COLOR=#AAAAAA> “We die only once, and for such a long time.”
MOLIÈRE (1622-73)


ALIGN=JUSTIFY> “Friend, my enemy, I call you out. You, you, you there with a bad thorn in your side. You there, my friend, with a winning air. Who pawned the lie on me when he looked brassly at my shyest secret. With my whole heart under your hammer. That though I loved him for his faults as much as for his good. My friend were an enemy upon stilts with his head in a cunning cloud.”
DYLAN THOMAS (1914-53)















A Home at the End of the World ***

17.05.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Michael Mayer. Elenco: Colin Farrell, Dallas Roberts, Robin Wright Penn, Sissy Spacek, Matt Frewer, Erik Smith, Harris Allan, Andrew Chalmers, Ryan Donowho. Nacionalidade: EUA, 2004.


SRC=http://us.movies1.yimg.com/movies.yahoo.com/images/hv/photo/movie_pix/warner_independent/a_home_at_the_end_of_the_world/_group_photos/colin_farrell10.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Depois do sucesso de “The Hours” (Pulitzer Prize em 1999 e passado ao cinema em 2002 por Stephen Daldry), Michael Cunningham vê mais um livro seu adaptado ao cinema. Desta feita, o seu primeiro romance “A Home at the End of the World” (1990).

ALIGN=JUSTIFY>1967. Bobby (Andrew Chalmers) tem nove anos. A sua estranha infância é marcada pela adoração que tem pelo irmão mais velho, Carlton (Donowho), um jovem hippie que lhe oferece a sua primeira trip. Dele, Bobby aprende que o mundo é um bom sítio cheio de coisas belas, onde não há nada a temer. Depois, imprevisivelmente como a vida, Carlton morre num acidente surreal.

ALIGN=JUSTIFY>Sete anos mais tarde, no liceu, Bobby (Erik Smith) conhece Jonathan (Harris Allan), um jovem inseguro e solitário, com quem constrói uma amizade misturada com as primeiras experiências sexuais. Já sem mãe e após a morte do pai, Bobby é “adoptado” e “adopta” a família de Jonathan: Alice (Sissy Spacek) e Ned (Matt Frewer).

Até aqui este filme é perfeito: no guarda-roupa, nos cenários de uma Cleveland suburbana, nas representações, e em especial a cena em que Spacek partilha um charro com Bobby e com o filho, e dançam ao som de Laura Nyro.

ALIGN=JUSTIFY>O interessante em Bobby é a sua falta de culpa ou vergonha, a sua extrema sinceridade, a sua abertura e confiança no próximo e o seu profundo medo de sair de perto das pessoas que ama. Um amor que ele vive generosamente, sem complexos, sem receios e sem perguntas.

ALIGN=JUSTIFY>Quando os Glover se mudam para o Arizona, Bobby (Colin Farrell) vai ter com Jonathan (Dallas Roberts) a Nova Iorque, onde conhece a sua companheira de apartamento, Clare (Robin Wright Penn). Apesar dos amantes masculinos, Jonathan está a pensar ter um filho com Clare, mas Bobby e Clare apaixonam-se, quebrando o frágil equilíbrio entre Jonathan e Clare, mas também entre Jonathan e Bobby.

ALIGN=JUSTIFY>O conceito “convencional” de família, já deturpado na sua juventude, é agora sujeito a uma nova versão, com a gravidez de Clare, e um dia-a-dia partilhado a três. Mas existe um peso de inevitabilidade, com cada um deles, a dado momento, sentindo-se a mais. E é o longo arrastar desta expectativa adulterada que torna o filme menos bom, apesar do sólido elenco.

ALIGN=JUSTIFY>No meio da dança de pessoas que aparecem e desaparecem, pais e filhos, amigos e amantes, juntos pela memória e pelos afectos, há uma vida agri-doce que continua. E, se não por mais nada, este filme vale pela celebração do “big, beautiful, noisy world and everything that can happen”.


WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “You are a strange and mysterious creature.”
ROBIN WRIGHT PENN (Clare)


ALIGN=JUSTIFY>“ROBIN WRIGHT PENN (Clare) - Is there anything you can't do?
COLIN FARRELL (Bobby) - I can't be alone.”


COLOR=#E90909> GONNA TAKE A MIRACLE
SIZE=1>(de Teddy Randazzo, Lou Stallman e Bobby Weinstein;
interpretada por Laura Nyro & LaBelle)

COLOR=#AAAAAA>

Loving you so
I was too blind to see you
letting me go
But now that you've set me free
It's gonna take a miracle
Yes, it's gonna take a miracle
To make me love someone new
Cause I'm crazy for you

Oh oh, didn't you know
It wouldn't be so easy
lettin' you go
I could have told you
that it's gonna take a miracle
oh-uh Yes, it's gonna take a miracle
To make me love someone new
Cause I'm crazy for you

Oh, tho' I know I can't forget? about you
or come so? will show you how much
You're turning me around, destroying me
I'll never be the same anymore

You must realize
You took your love and left me
Quite by surprise
You can be sure that now it's gonna take a miracle
Yes, it's gonna take a miracle
To make me love someone new
Cause I'm crazy for you















































In Good Company ***

16.05.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Paul Weitz. Elenco: Dennis Quaid, Topher Grace, Scarlett Johansson, Marg Helgenberger, David Paymer, Clark Gregg, Philip Baker Hall, Selma Blair, Frankie Faison, Ty Burrell, Malcolm McDowell. Nacionalidade: EUA, 2004.


SRC=http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/1139687/photo_11.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Dan Foreman (Quaid) é o chefe de vendas de publicidade numa revista desportiva. Pai de duas adolescentes e prestes a ter mais um filho, vê a sua vida profissional abalada pela compra da sua empresa e pela entrega do seu posto de trabalho a um homem com metade da sua idade, Carter Duryea (Grace). Carter é um yuppie ambicioso, a quem Dan inveja a juventude e o poder. Por outro lado, Carter, recentemente divorciado e visivelmente sem amigos, inveja a vida familiar de Dan. A atracção entre Carter e a filha de Dan, Alex (Johansson), acaba por funcionar como reflexo disso mesmo.

ALIGN=JUSTIFY>Do realizador, que conjuntamente com o seu irmão Chris, fez “American Pie” (1999) e “About a Boy” (2002), chega-nos um filme com uma premissa no mínimo irreal: uma cultura empresarial que tenta ser má, e falha. A sátira que poderia ser interessante é frustrada com cenas inverosímeis, como a do confronto de Dan com Teddy K. (McDowell), o “big boss”. Como num conto de fadas, aqui os reveses são oportunidades para crescimento e a virtude é recompensada.

ALIGN=JUSTIFY>A desculpa que consigo encontrar para Weitz é a sua paixão por personagens, evidente nos outros filmes e também neste. Weitz recusa-se a colocar qualquer um deles como vilão, com a empatia necessária para que a sua relação pai-filho (nunca dita, mas óbvia) seja credível. Dennis Quaid é charmoso, sem esforço, tal como Topher Grace, com uma veia cómica inquestionável mas sem o instinto assassino que o transformaria num necessário antagonista. E apesar de valer sempre a pena ver o calmo fascínio de Scarlett Johansson, a relação de Carter e Alex acrescenta muito pouco à história.

ALIGN=JUSTIFY>Sem querer sacrificar as suas personagens aos conflitos de filosofias de negócio e de personalidades, Weitz centrou-se no choque de gerações: o mais jovem querendo desesperadamente deixar a sua marca, e o mais velho acreditando que a sua marca já deveria ser evidente. Ao tentar ganhar a conta de um grande cliente, Dan usa a sua experiência; a mesma que falta a Carter para conseguir lidar com o seu repentino sucesso.

ALIGN=JUSTIFY>Um filme de Domingo, visto num Sábado. E que é pouco mais do que isso.






The Jacket ***

10.05.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: John Maybury. Elenco: Adrien Brody, Keira Knightley, Kris Kristofferson, Jennifer Jason Leigh, Daniel Craig, Kelly Lynch, Brad Renfro, Steven Mackintosh, Laura Marano, Jake Broder, Jonah Lotan. Nacionalidade: EUA / Reino Unido / Alemanha, 2005.


SRC=http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/1143105/photo_14.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Jack Starks (Adrien Brody) é soldado na Guerra do Golfo em 1991. Jack tenta acalmar uma criança confusa, mas no minuto seguinte é alvejado na cabeça por essa mesma criança. Esta ferida quase mortal, envia-o para casa, com problemas de memória.


ALIGN=JUSTIFY>Passado um ano, Jack vagueia pelas estradas nevadas do Vermont, onde ajuda uma mulher completamente embriagada (Kelly Lynch) e a sua filha, Jackie (Laura Marano), com o carro empanado. Depois de arranjar o carro e oferecer as suas chapas de identificação a Jackie, com quem estabelece uma ligação instantânea, apanha boleia de um outro condutor. Uns quilómetros mais à frente, Jack dá por si envolvido numa altercação que resulta na morte de um polícia.


ALIGN=JUSTIFY>Acusado do crime, e sem memória dele, Jack é condenado a uma instituição psicológica para criminosos. Um médico experimentalista, Thomas Becker (Kris Kristofferson), enche-o de drogas, enfia-o num colete-de-forças e fecha-o, por longos períodos de tempo, dentro de uma gaveta de morgue, como parte de um tratamento que visa terminar com os seus instintos agressivos.


ALIGN=JUSTIFY>Dentro dessa gaveta, Jack vê imagens do seu passado na guerra e numa dessas viagens conhece Jackie (Keira Knightley), uma jovem dos seus 20 e poucos anos. Descobre depois que está em 2007, que esta Jackie é precisamente a mesma criança que ele conheceu quase 15 anos antes e que ele próprio morreu pouco tempo depois de ter dado entrada na instituição. Perante a sua incredulidade, Jack tenta convencer Jackie de quem ele é e conseguir a sua ajuda para descobrir como é que morreu.


ALIGN=JUSTIFY>De início, ficamos tentados a acreditar que o salto de Jack no futuro, poderá mudar o passado, mas os acontecimentos que ocorrem em 2007 parecem já carregar com eles os efeitos da sua viagem no tempo. Ou seja, o futuro já contempla a viagem ao futuro feita 15 anos antes, o que coloca, em todas as suas acções do passado, uma inevitabilidade que acaba por não ser concretizada. E é aí que este filme falha.


ALIGN=JUSTIFY>À interessante dicotomia entre passado e presente, abordada no clássico “Regresso ao Futuro” (1985); de Robert Zemeckis e, mais recentemente, no “Butterfly Effect” (2004), de Eric Bress e J.Mackye Gruber, fica a faltar a coerência. As mesmas acções no passado dão origem a diferentes desfechos futuros. Ficamos sem perceber porque é que Jack, que em 1992 esteve na gaveta e viu o seu futuro (onde morreu), agiu de forma diferente do que faz desta vez: em 1992 vendo o seu futuro.


ALIGN=JUSTIFY>A interpretação de Brody, ainda que não soberba, é sólida. Knightley faz um bom acompanhamento, à excepção dos momentos iniciais em que arrasta os copos pelos lábios de uma forma excessiva e despropositada. Como secundários são de destacar: Jason Leigh (que nunca é demais) como Dr.ª Lorenson, uma psiquiatra do hospital que tenta ajudar Jack, mas que infelizmente protagoniza um sub-plot supérfluo; Kris Kristofferson, no papel de cientista louco, reforçado pelos close-ups de Peter Deming na sua expressiva cara enrugada; e Daniel Craig, como Rudy Mackenzie, um doente institucionalizado que teria merecido mais atenção.


ALIGN=JUSTIFY>Também a Deming se deve a impressionante sensação claustrofóbica do colete-de-forças e da gaveta da morgue. E a montagem de Emma E. Hickox acrescenta o adjectivo arrepiante ao terror psicológico. Pena é que ao denso argumento tenha também faltado espaço para respirar.



WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “I was 27 years old the first time I died.”
ADRIEN BRODY (Jack Starks)


ALIGN=JUSTIFY>“When you're dead, the one thing you want is to come back.”
ADRIEN BRODY (Jack Starks)

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “What's wrong, Doctor, you look like you've seen a ghost...”
ADRIEN BRODY (Jack Starks)



















Der Untergang - A Queda ****

09.05.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Oliver Hirschbiegel. Elenco: Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara, Corinna Harfouch, Ulrich Matthes, Juliane Köhler, Heino Ferch, Christian Berkel, Matthias Habich, Thomas Kretschmann, Michael Mendl, André Hennicke, Ulrich Noethen. Nacionalidade: Alemanha / Itália / Áustria, 2004.


SRC=http://www.tfmdistribution.fr/lachute/img/photos/photo9.jpg>


ALIGN=JUSTIFY>Ontem, dia 8 de Maio, foi o 60º aniversário da capitulação alemã no final da II Guerra Mundial. Por pura coincidência, ontem fui ver o último filme de Oliver Hirschbiegel, “Der Untergang”. Com “Das Experiment” (2001), o seu anterior filme a passar por cá (demasiado subtilmente), este partilha não só uma poderosa história de ambiente claustrofóbico, mas também uma profunda mestria na direcção de actores.

ALIGN=JUSTIFY>Numa noite de Novembro de 1942, um grupo de mulheres é conduzido por oficiais das SS. Elas são candidatas a secretária pessoal do Führer (Bruno Ganz). A escolhida é Traudl Junge (Alexandra Maria Lara), uma jovem de 22 anos de Munique.

ALIGN=JUSTIFY>Num salto para 1945, e durante 12 dias (que equivalem aos 12 anos de Hitler no poder) vemos um Hitler megalómano, possuído pelos seus desejos alucinantes de poder, cego à realidade que o cerca, com a mania da perseguição, e gradualmente cedendo aos sinais da doença de Parkinson. Um líder manobrando tropas que não existem, tentando derrubar num mapa os russos que cercam Berlim, e culpando o povo alemão da sua própria derrota.

ALIGN=JUSTIFY>Vemos também um Hitler preocupado com o bem-estar das mulheres do bunker da chancelaria, onde se protegem os seus conselheiros mais próximos. Terno para com o seu pastor alemão, perdido na solidão do seu poder, capaz de um beijo apaixonado a uma Eva Braun incandescente. Um homem que, até ao final dos seus dias (e para além deles), cativou de uma forma hipnótica uma nação e liderou uma limpeza étnica que, de bom grado, teria alargado ao mundo inteiro.

ALIGN=JUSTIFY>Do ponto de vista histórico este filme é incompleto, parcial e redutor. Mas, curiosamente, do ponto de vista histórico é também, possivelmente, um dos mais fiéis retratos da insanidade de um homem: Bruno Ganz no papel de Hitler é impressionantemente frágil e detestável, conseguindo nublar as excelentes interpretações do restante elenco.

ALIGN=JUSTIFY>Contra muitas vozes, o que indigna neste filme não é que a imagem de Hitler seja suavizada. Não é possível que alguém saia de “Der Untergang” com pena dele, e é ainda menos possível esquecer as consequências cruéis das suas ordens, apesar do filme praticamente não as mencionar. Porque esse “ódio” está já tão instituído na sociedade, que a própria Alemanha esteve até hoje de cabeça baixa perante a sua história. Mas a nação que não escravizou, que não matou por terras, por poder, por dinheiro, que atire a primeira pedra.

ALIGN=JUSTIFY>Até agora, a memória (e o cinema como parte dela) deu-nos um demónio, a quem era fácil culpar. O que nos incomoda e assusta neste filme, é que se trata apenas de um homem, um de nós. Em circunstâncias históricas idênticas, com o inebriante odor do poder, com a admiração de milhares e milhares de pessoas, talvez não seja assim tão complicado fazer um “monstro” do mais comum. E a semente existe. A falta de tolerância, de respeito, de humanidade estão mesmo aqui ao lado, e por vezes, mesmo aqui dentro.

ALIGN=JUSTIFY> “Der Untergang” tem como base os livros “Der Untergang. Hitler und das Ende des Dritten Reiches” (A Queda. Hitler e o Fim do III Reich), da autoria do historiador Joachim Fest, e “Bis zur letzten Stunde” (Até à Última Hora) de Traudl Junge. E, mais do que um filme, é um documento. Sobre uma Alemanha que se deixou enganar por uma meia dúzia de frases apelativas, sobre pessoas militarizadas que se desresponsabilizavam dos seus próprios actos, sobre o lado mais escuro da alma humana. A perversão do nazismo assume a sua forma mais dolorosa na cena em que Magda Goebbels (Corinna Harfouch) envenena os seus filhos, porque “num mundo onde não existe o nacional-socialismo não vale a pena viver”.

ALIGN=JUSTIFY>No final, temos a própria Traudl Junge que, admitindo ter sido uma “entusiasta nazi”, refere que a ignorância não pode ser usada como desculpa na cumplicidade (activa ou tácita) nos horrores que tiveram lugar. Junge olha para o seu passado com raiva e incredulidade e tenta, de alguma forma, perdoar-se a si mesma. Tal como a própria Alemanha, que vive até hoje com uma culpa que não é sua. Uma lição para um mundo que, todos os dias, é culpado de inúmeros crimes contra si próprio.



WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>


ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Numa guerra como esta não há civis.”
BRUNO GANZ (Adolf Hitler)











IndieLISBOA - O Final

02.05.05, Rita



Foi este o resultado de 10 agitados dias. E, como tradição, consegui não ver nenhum dos filmes premiados...



GRANDE PRÉMIO DE LONGA-METRAGEM
“The forest for the trees”, de MAREN ADE – Alemanha (2004)

GRANDE PRÉMIO DE CURTA-METRAGEM SAGRES PRETA
“Undressing my mother”, de KEN WARDROP – Irlanda (2003)

PRÉMIO TÓBIS PARA O MELHOR FILME PORTUGUÊS
“Adriana”, de MARGARIDA GIL – Portugal (2004)

PRÉMIO DE MELHOR FOTOGRAFIA PARA FILME PORTUGUÊS FUJIFILM-AIP CINEMA
“Um Homem”, de LAURENT SIMÕES – Portugal (2005)

PRÉMIOS 2: ONDA CURTA
“Phantom Limb”, de JAY ROSENBLATT – EUA (2005)
“Fare bene mikles”, de CHRISTIAN ANGELI – Itália (2004)
“Undressing my mother”, de KEN WARDROP – Irlanda (2003)
MENÇÃO HONROSA
“Compassos de espera”, de PEDRO PAIVA – Portugal (2004)

PRÉMIO AMNISTIA INTERNACIONAL
“North Korea, A Day in the Life”, de PIETER FLEURY – Holanda (2004)

PRÉMIO JAMESON DO PÚBLICO MELHOR LONGA METRAGEM
“Private”, de SEVERIO CONSTANZO – Itália (2004)

PRÉMIO JAMESON DO PÚBLICO MELHOR CURTA METRAGEM
“Home Game”, de MARTIN LUND – Noruega (2004)

PRÉMIO INDIEJUNIOR
“Flatlife”, de JONAS GEIRNAERT – Bélgica (2004)


Para o ano há mais.

 

Parapalos **1/2

02.05.05, Rita

ALIGN=JUSTIFY>Realização: Ana Poliak. Elenco: Adrián Suárez, Nancy Torres, Roque Chappay, José Luis Seytón Guzmán, Armando Quiroga, Dorian Waldemar. Nacionalidade: Argentina / Bélgica, 2004.

SRC=http://www.clubcultura.com/cineenconstruccion/img_pelis/parapalos01.jpg>

ALIGN=JUSTIFY>Para mim, a segunda edição do IndieLISBOA terminou com um filme aborrecido, vencedor do prémio do júri no Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires.

ALIGN=JUSTIFY>Um jovem do interior da Argentina Adrián (Suarez) tenta a sua sorte na cidade de Buenos Aires. Muda-se para o apartamento da sua prima Nancy (Torres) e arranja trabalho a substituir os pinos de bowling (“parapalos”) num salão que ainda usa o sistema manual. Os primos partilham a mesma cama e a mesma casa, mas apenas se cruzam pelas manhãs, quando Nancy está prestes a sair e Adrián está a chegar do seu trabalho.

ALIGN=JUSTIFY>Tentando evitar ser atingido, Adrián repõe os pinos nos seus lugares e devolve as bolas para que rapidamente os clientes possam voltar a jogar. Este é um trabalho que depende de reflexos rápidos e olhos atentos às bolas errantes. E apesar da profissão estar perto de se extinguir com o aparecimento dos sistemas automáticos, Adrián aplica-se com dedicação.

ALIGN=JUSTIFY>No meio de todos esses movimentos, e do som do jogo, desenrolam-se diálogos, por detrás do muro de madeira que os separa e protege. A curiosidade de Adrián por tudo o que não conhece leva-o a escutar quase faminto as histórias (e as filosofias) dos seus companheiros de trabalho: El Turco, Nippur, Quiroga e Daniel.

ALIGN=JUSTIFY>Entre a ficção e o documentário, “Parapalos” é, ao mesmo tempo, uma homenagem a uma profissão extinta, e um retrato do ritmo da vida de trabalho, as suas rotinas, os seus escapes (através de fotos, recortes de jornal, ou um álbum de Marilyn Monroe), e as relações fortes que se estabelecem com os fios frágeis do quotidiano.

ALIGN=JUSTIFY>Tudo isto é feito de uma forma contemplativa e minimalista, de uma lentidão exasperante. O filme resume-se a Adrián no trabalho e Adrián em casa. Salva-o o humor de Nippur, entre o hippy e o heavy metal, e que cola retratos de Andy Warhol, Janis Joplin e Shakespeare na parede.

ALIGN=JUSTIFY>Este é um filme poético. Mas falta-lhe o ritmo para que se torne uma canção.

WIDTH=70% COLOR=#E90909 SIZE=1>

ALIGN=JUSTIFY>CITAÇÕES:

ALIGN=JUSTIFY>COLOR=#AAAAAA> “Todo lo que tengo en la vida es prestado menos mi libertad.”
Nippur