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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Love in the Time of Cholera **

01.04.08, Rita

Realização: Mike Newell. Elenco: Benjamin Bratt, Giovanna Mezzogiorno, Javier Bardem, John Leguizamo, Hector Elizondo, Fernanda Montenegro, Liev Schreiber, Catalina Sandino Moreno, Alicia Borrachero, Marcela Mar. Nacionalidade: EUA, 2007.





Pois... que dizer? Percebo que um elenco multinacional exija um idioma comum. Não percebo que, na adaptação do livro de 1985 de Gabriel García Márquez, ‘Amor em Tempos de Cólera’, a escolha tenha recaído sobre o inglês, pior, o inglês com sotaque forçado. Por que não o original espanhol? Mesmo com a minha aversão à dobragem quase aposto que o resultado teria sido mais satisfatório com a dobragem dos actores saxónicos. Melhor ainda: o casting de actores latinos para esses papéis. E... o realizador é inglês... pois. (Pergunto-me se um Alfonso Cuarón não teria sido uma escolha acertada...) Mas os produtores têm a sua força e, tal como na história de García Márquez, o poder e o dinheiro falam mais alto.


Colômbia, final do século XIX. Florentino Ariza (Javier Bardem), um jovem telegrafista, apaixona-se perdidamente a primeira vez que vê Fermina (Giovanna Mezzogiorno). Vigiada de perto por um pai feroz (John Leguizamo) e com a cumplicidade da tia (Alicia Borrachero), ela arranjna forma de trocar cartas com Florentino. Quando o pai descobre, envia-a para o campo e consegue convencê-la que Florentino está abaixo da sua condição social. No seu regresso, Fermina rejeita Florentino e aceita a corte do médico Juvenal Urbino (Benjamin Bratt), acabando por casar com ele. Florentino mantém-se fiel ao seu amor, pelo menos em espírito. Porque a carne, essa, cede à tentação com mais 600 mulheres, segundo a sua própria contabilidade, na tentativa de esquecer Fermina mas sem sucesso. Passados 50 anos, quando Urbino morre, Florentino renova junto de Fermina o seu inabalável afecto.


O universo de García Márquez é mágico, surpreendente, absurdo, apaixonado e desmesurado. Infelizmente, a realização de Mike Newell (“Donnie Brasco”, “Mona Lisa Smile”), apesar de tranquila e confiante, é incapaz de transmitir qualquer destas sensações. O difícil desafio de traduzir um romance clássico para o cinema agrava-se quando esse livro depende tão grandemente de uma linguagem emocional e tão pouco da acção. Neste caso, a fidelidade ao original (exigência na cedência dos direitos) parece ter prejudicado a coerência do argumento, sendo uma colagem de cenas e de personagens artificiais que não chegam a comover o espectador.


No campo das interpretações, o potencial de Javier Bardem é desperdiçado (ainda fresca que está a sua participação em “No Country For Old Men”) em pouco mais que um stalker ansioso e patético, apesar de beneficiar do descanso de ter um outro actor para fazer a juventude da sua personagem (Unax Ugalde). O mesmo não acontece com Giovanna Mezzogiorno (“La Finestra di Fronte”), sujeita a um peso de caracterização facial que deixa bastante a desejar, especialmente tendo em conta o bom trabalho efectuado a nível corporal (onde estão os efeitos especiais quando precisamos deles?). Além disso, a química de Mezzogiorno com qualquer dos seus parceiros é paupérrima.

“Love in the Time of Cholera” levanta inquietantes questões: na banda sonora, a opção por Shakira (um guilty pleasure que aqui confesso, por isso não digo isto por não gostar dela – se até fazemos anos no mesmo dia!), dada a sua inadequação à narrativa, foi puramente comercial, não foi? (ou foi por ser um ‘produto’ colombiano?); que desplante foi esse de colocar Catalina Sandino Moreno num papel secundário? (Só por causa disso escolhi uma foto dela!); como é que um livro pleno de agitação emocional se converte num filme maçador?


Tudo isto paira no ar à saída da sala, mas mais inquietante questão de todas fica por colocar (o que é bastante mais grave do que ficar sem resposta): a paixão consome-nos ou dá-nos vida?






o postal francês
























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