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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

No Country For Old Men ****

21.02.08, Rita

Realização: Ethan e Joel Coen. Elenco: Tommy Lee Jones, Javier Bardem, Josh Brolin, Woody Harrelson, Kelly Macdonald, Garret Dillahunt, Tess Harper, Barry Corbin. Nacionalidade: EUA, 2007.





Texas, 1980. Llewelyn Moss (Josh Brolin) depara-se com o cenário devastado de uma venda de droga que terminou com a morte dos intervenientes. No meio do deserto, uma mala com 2 milhões de dólares é uma tentação irresistível. No rasto dessa mala encontra-se Anton Chigurh (Javier Bardem), um assassino a soldo muito (demasiado) dedicado ao seu trabalho, e Carson Wells (Woody Harrelson), um caçador de prémios a mando de um investidor. Percebendo que Chigurh se encontra no seu encalço, Moss tenta proteger a sua mulher Carla Jean (Kelly Macdonald) e foge para o México. Nas pistas da carnificina provocada pela botija de ar comprimido que Chigurh usa está o Xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones).


“No Country For Old Men”, do livro de Cormac McCarthy, consegue, através de uma história simples, ter um olhar negro sobre a imprevisibilidade da vida, a transitoriedade dos seus elementos e a aleatoriedade da violência. Num registo bem mais pesado do que nos seus últimos filmes, os irmãos Coen fazem algo entre o thriller e o character study.


No centro do furacão está a personagem de Bardem (cujo sotaque está quase irreconhecível) espalhando caos por onde passa. O seu sangue frio e calculismo não são exactamente cínicos. Ele apenas se rege por uma moral diferente da da sociedade e é isso que lhe permite ser uma eficiente máquina de matar. Na sua percepção nada é mais natural do que decidir a vida ou morte com o lançar de uma moeda. Mas os lampejos de simpatia e humanidade que os Coen nos mostram são tão ou mais perturbadores que a sua crueldade. Custa aceitar a possibilidade do humano numa criatura assim.


Enquanto Chigurh não consegue resistir ao seu impulso de ser simultaneamente juiz e carrasco para as leis que ele mesmo definiu, Moss, com alguma ingenuidade, não consegue resistir à força da sua consciência para com outros seres humanos. Algures a meio caminho, está a personagem de Tommy Lee Jones, desacreditado e incrédulo, sentindo-se demasiado velho para fazer face a uma forma de crime que não compreende. O trio central de actores está irrepreensível, e as personagens, todas elas, são tão envolventes que genuinamente nos preocupamos com o que lhes poderá acontecer.


Na vasta paisagem texana, árida, crua e desolada (dominada em absoluto pela fotografia de Roger Deakins), o Homem torna-se mais pequeno ainda quando faz frente a uma injustiça implacável, uma atormentadora e malévola sombra. Os Coen colocam em cada cena o peso necessário para nos conduzir, a seu tempo e sem pressas, à cena seguinte, onde se acumulam ainda mais tensões. O terror é subtil, o é humor subtil. Como se um monte de sujidade estivesse envolvido num papel bonitinho e um laço. Inteligente e arrepiante.


Na aparente inconsequência dos actos diários, uma voz profunda faz-se ouvir em pano de fundo: cara ou coroa?






CITAÇÕES:


“Wendell – That's very linear Sherrif.
Ed Tom Bell – Well, age will flatten a man.”
GARRET DILLAHUNT (Wendell) e TOMMY LEE JONES (Ed Tom Bell)


“It starts when you begin to overlook bad manners. Anytime you quit hearing "sir" and "ma'am", the end is pretty much in sight.”
TOMMY LEE JONES (Ed Tom Bell)

“I always figured when I got older, God would sorta come inta my life somehow. And he didn't. I don't blame him. If I was him I would have the same opinion of me that he does.”
TOMMY LEE JONES (Ed Tom Bell)

“Whatcha got ain't nothin new. This country's hard on people, you can't stop what's coming, it ain't all waiting on you. That's vanity.”
BARRY CORBIN (Ellis)