In Her Shoes **
Realização: Curtis Hanson. Elenco: Cameron Diaz, Toni Collette, Mark Feuerstein, Shirley MacLaine, Richard Burgi, Brooke Smith, Candice Azzara, Alan Blumenfeld, Marcia Jean Kurtz. Nacionalidade: EUA, 2005.
Quem se lembra de “LA Confidential” terá dificuldades em acreditar que Curtis Hanson se tenha sentido inspirado pelo livro de Jennifer Weiner para fazer uma “female-bonding story”, à qual se juntaram os produtores e irmãos Ridley e Tony Scott.
A acção gira em torno de duas irmãs, que cresceram sem a sua mãe: Maggie (Cameron Diaz), que não pára num emprego, iletrada e disléxica, emocionalmente imatura, mas com sentido estético, e que vai pelo mundo alardeando a sua boa aparência e a sua sexualidade; e Rose (Tony Collette), a responsável, advogada de sucesso em Filadélfia, workaholic, mas com baixa auto-estima. A única coisa que têm em comum é o número que calçam.
Dado o seu comportamento repetitivamente errante, a madrasta de ambas expulsa Maggie de casa do pai e Rose, assumindo mais uma vez o papel materno, vê-se obrigada a receber a irmã. Mas tomar conta de Maggie é uma verdadeira batalha, especialmente quando se tem uma vida própria para viver. Num crescendo de desespero, Rose expulsa Maggie, que acaba por ir procurar ajuda junto da avó recém-descoberta (Shirley McLaine), que vive numa comunidade de reformados na Flórida. Enquanto Maggie vai lutar por colocar a sua vida nos eixos, Rose lutará por descobrir o que quer realmente da vida. O desfecho não surpreende: a reaproximação das irmãs é inevitável.
Mas para quem defenda que todas as histórias em cinema já foram contadas e o que importa é a forma, temos os pontos altos de leitura de poemas de Elizabeth Bishop e E.E.Cummings, que, ainda assim, não atribuem seriedade suficiente à leveza com que os problemas emocionais são tratados. Em vez do longo caminho de construção de uma amizade, somos levados por uma montanha russa de emoções, com todos os desgostos e sentimentalismos possíveis, com o único propósito de puxar pela lágrima.
As lições de vida que as personagens vão tendo, com situações que se precipitam em cada cena, implicariam, na realidade, anos de terapia e uns quantos casamentos falhados. Já para não falar da inverosimilhança de que Diaz e Collette pudessem alguma vez ser irmãs. Um casting que prejudica a história e que prejudica, sobretudo, Cameron Diaz. Apesar de estar a ser apontada como uma das suas melhores representações, teve a infelicidade de ser emparelhada com uma actriz infinitamente melhor que ela, Toni Collette (“Muriel’s Wedding” de P.J.Hogan – 1994, “The Sixth Sense” de M.Night Shyamalan – 1999, “Japanese Story” de Sue Brooks – 2003), que carrega a carga dramática do filme. Mas soube bem rever MacLaine, trazendo-nos à lembrança o “Terms of Endearment” (James L.Brooks, 1983).
Destes 130 minutos retiram-se dois poemas de indiscutível beleza, e duas personagens pouco empáticas, uma preocupada com futilidades e a outra com uma noção antiga de amor. Soa a estereótipos? Pois, é isso mesmo. Já vimos estas personagens vezes sem conta, e esta não será certamente a última vez.
CITAÇÕES:
ONE ARTElizabeth Bishop