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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

There Will Be Blood ****

20.02.08, Rita

Realização: Paul Thomas Anderson. Elenco: Daniel Day-Lewis, Paul Dano, Kevin J. O'Connor, Ciarán Hinds, Dillon Freasier. Nacionalidade: EUA, 2007.





No final do século XIX princípio do século XX, Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis) é um homem do petróleo, especialista em perfurações. Quando o jovem Paul (Paul Dano) lhe vende a informação da existência de petróleo no rancho da sua família, na Califórnia, Daniel pega o seu filho, H.W. Plainview (Dillon Freasier) e desloca-se até ao rancho dos Sunday para investigar a situação. As subtis hipocrisias de Plainview começam a ser desmontadas com o degladiar da sua avareza com a de Eli (Paul Dano), o irmão de Paul, pastor da Igreja da Terceira Revelação.


Com “There Will Be Blood” Paul Thomas Anderson traz-nos o seu trabalho mais sóbrio. Pela primeira vez usando material de terceiros, neste caso o livro ‘Oil’ de Upton Sinclair (1927), o argumento de P.T. Anderson abdica da criatividade patente em filmes como “Magnolia” ou “Punch Drunk Love”, a favor da força desta história, ou melhor, da sua personagem principal. O seu domínio do movimento e dos tempos é acompanhado da montagem sem falhas de Dylan Tichenor. É esse compasso que confere a “There Will Be Blood” a sua aura de lenda, uma tragédia movida pela a ambição e a avareza, onde os elos familiares se fazem e se cortam em função das necessidades.


A acção de “There Will Be Blood” alimenta-se do combate entre Plainview e Eli Sunday, e é um prazer assistir a cada um deles tentando manipular o outro. Neles, mistura-se ganância e piedade num paradoxo espiritual / filosófico, neles, identifica-se a dureza dos negócios com a inflexibilidade da religião. Dois seres estranhos e inescrutáveis, de que não gostamos assim muito e compreendemos ainda menos. Mas isso parece não fazer parte das preocupações de P.T. Anderson. Ele limita-se a fazer-nos chegar este conto, sem maquilhagem, a fotografia e o trabalho de iluminação de Robert Elswit apenas conferindo alguma elegância ao visceral. Quanto à banda sonora de Jonny Greenwood (Radiohead), que eu tinha já ouvido por separado, continuou a não me impressionar grandemente, ou seja, faz parte do filme, mas não existe fora dele.


A genialidade de Daniel Day-Lewis, um dos (meus) melhores actores de sempre, não é surpreendente, e o seu Daniel Plainview é frio e incomodativo, desagradável e fascinante. Com a sua voz profunda, rouba-nos o olhar e, na sua quietude e silêncio, amedronta-nos. Mas se existe uma nova “cinderela” nas mãos de P.T. Anderson, na senda de Tom Cruise em “Magnolia” e Adam Sandler em “Punch Drunk Love”, esse é Paul Dano (“Fast Food Nation”, “Little Miss Sunshine”). Apesar de uma bagagem menos marcante que a dos dois outros actores, o que implica menor surpresa na transformação, a mescla de ingenuidade e terror que Dano confere ao seu papel é arrepiante e perturbadora.


O título deste filme funciona, desde logo, como uma promessa: a inevitável consequência de fazer negócios a todo o custo e passando por cima de quem for preciso, inclusive de si mesmo – Daniel Plainview poderia facilmente ser uma metáfora para os actuais gigantes petrolíferos. Entre castigos e perdões, a inocência dificilmente será recompensada.















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