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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

The Constant Gardener ****

18.11.05, Rita

Realização: Fernando Meirelles. Elenco: Ralph Fiennes, Rachel Weisz, Hubert Koundé, Danny Huston, Bill Nighy, Pete Postlethwaite, Archie Panjabi. Nacionalidade: Reino Unido, 2005.





Da favela brasileira para a africana, da Cidade de Deus (Rio de Janeiro) para Kibera (Nairobi), da “Cidade de Deus” (2002) para “The Constant Gardener”, Fernando Meirelles mantém a sua preocupação social, e tem aqui a sua vingança pessoal pela forma como os Estados Unidos estão a tentar impedir a produção brasileira de medicamentos genéricos.


Baseado no livro homónimo de John le Carré, “The Constant Gardener” é um thriller político, uma história de amor e uma denúncia às abusivas técnicas de experimentação das corporações farmacêuticas em África.


Justin Quayle (Ralph Fiennes) é um fechado e charmoso diplomata inglês sediado em África. É também ele o jardineiro do título, como referência ao seu hobby. A sua mulher, Tessa (Rachel Weisz) é o seu oposto, uma impetuosa, apaixonada e determinada activista social, pela qual qualquer um seria levado a apaixonar-se.


Inabalável na sua missão de desvendar os métodos pouco éticos de investigação farmacêutica praticados à custa dos desvalidos cidadãos quenianos, Tessa acaba por se tornar num alvo a abater para qualquer empresa farmacêutica com segredos para proteger.


Paralelamente a esta intriga, Meirelles leva-nos ao romance de ambos, à intensidade que servirá de força motivadora para que Justin possa completar o trabalho de Tessa, entrando mesmo em conflito com alguns dos seus colegas do Alto Comissariado Britânico, incluindo o seu amigo Sandy Woodrow (Danny Huston) e o obscuro Sir Bernard Pellegrin (Bill Nighy).


O par romântico surpreende, mas convence. A doçura de Fiennes e a força de Weisz complementam-se. Fiennes está exemplar como um Justin hesitante e desapontado pela sua própria incapacidade de agir, angustiado por ter de competir com todas as paixões que movem a sua mulher; e Weisz é uma presença luminosa, mesmo grávida de 9 meses e transpirada (ainda que dada a forma como lida com o mundo, seja pouco credível que a sua personagem de Weisz tenha apenas 24 anos).


Meirelles manipula como ninguém a estrutura não linear, mantendo a sensação de ameaça ao longo de todo o filme e deixando o espectador saber apenas o mesmo que o protagonista.


Com igual deslumbre Meirelles mostra-nos paisagens avassaladoras, momentos íntimos, e agrupamentos de gente. Sem véus de camuflagem, com o suor e as duras cores da realidade, mostra-nos os horrores da pobreza, de quem só têm direito a medicamentos para se tratarem se aceitarem servir de cobaias para medicamentos ainda em estudo. Do outro lado, é a ganância, a sede do lucro e o desejo secreto de que uma epidemia aumente o capital dos accionistas.


As ruas africanas cheias de vida, estão também cheias de morte.


E porque nem todo o mundo ocidental é indiferente aos problemas dos países mais pobres, aqui ficam 2 links:
MAKE POVERTY HISTORY
OXFAM





CITAÇÕES:


“It's like it's a marriage of convenience and all it produces are dead offspring.”
RACHEL WEISZ (Tessa Quayle)

“Big pharmaceuticals are right up there with the arms dealers.”
PETE POSTLETHWAITE (Lorbeer)