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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

The Darjeeling Limited ****

04.02.08, Rita

Realização: Wes Anderson. Elenco: Owen Wilson, Adrien Brody, Jason Schwartzman, Amara Karan, Wallace Wolodarsky, Waris Ahluwalia, Irrfan Khan, Barbet Schroeder, Camilla Rutherford, Bill Murray, Anjelica Huston. Nacionalidade: EUA, 2007.





Depois de “The Royal Tenenbaums” e de “The Life Aquatic With Steve Zissou”, Wes Anderson regressa ao mundo das famílias disfuncionais. O cenário: a Índia. A desculpa: a reconciliação de três irmãos que não falam desde o funeral do seu pai, um ano antes. O processo: livrarem-se da sua bagagem, no sentido literal (um conjunto de malas Louis Vuitton desenhadas para o filme) e emocional.


A reunião é convocada por Francis (Owen Wilson), ainda em recuperação de um acidente de moto quase fatal, para uma viagem de cura espiritual a bordo do comboio The Darjeeling Limited. Com a ajuda do seu assistente Brendan (Wally Wolodarsky), Francis tem definidos itinerários diários que incluem visitas a uma série de lugares sagrados. A compulsão de Francis, que mais tarde se percebe ser herdada da mãe (Angelica Houston), estende-se à escolha das refeições dos dois irmãos: Peter (Adrien Brody), ainda em choque com a gravidez da mulher (Camilla Rutherford) e passeando-se com antigos pertences do pai, e Jack (Jason Schwartzman), obcecado com o atendedor de chamadas da ex-namorada e que evita os conflitos com os irmãos refugiando-se nos braços da hospedeira Rita (Amara Karan). Em comum, a sua paixão por analgésicos.


Anderson escreve o argumento em conjunto com Jason Schwartzman e Roman Coppola (“CQ”), com quem fez uma viagem pela Índia. A presença deste país é assumida com uma força e envolvência que extravasa o simples cenário e falta muito pouco para lhe sentirmos os cheiros. As cores vibrantes e quentes, a luminosidade, as texturas, tudo amplificado no design de produção de Mark Friedberg e na fotografia de Robert Yeoman.


Num confinado camarote, as emoções oscilam entre o conflito e a compreensão, à medida que as suas back stories vão sendo reveladas. Mas mais importante do que a sua descoberta mútua é o adentrarem-se em si mesmos. E isso só acontece quando fora do comboio são forçados a enfrentar a Índia real.


Anderson gere cuidadosamente a emoção e a comédia, nunca caindo demasiado para nenhum dos lados. Aí reside a dificuldade em classificar “The Darjeeling Limited”. Ao mesmo tempo que o excelente trio de actores é exímio na comédia física, a sua profunda melancolia impede-nos de rir com leviandade dos seus desaires, antes comove-nos. No global, o filme extremamente positivo na forma como “resolve” as dúvidas de cada uma das personagens e as devolve a uma noção de família que ultrapassa a definição sanguínea.


À laia de prólogo, “The Darjeeling Limited” é antecedido pela curta-metragem “Hotel Chevalier”, com a personagem de Schwartzman num reencontro com a sua namorada (Natalie Portman) em Paris. Uma peça que serve sobretudo como ilustração de bloqueio emocional. Ou apenas um doce que nos é oferecido por Anderson, como o cameo de Bill Murray, ou a belíssima banda sonora, sob a supervisão de Randall Poster, que mistura magistralmente The Kinks com Satyajit Ray, nos enche com “Where Do You Go To (My Lovely)” de Peter Sarstedt e nos deixa sair da sala com Joe Dassin e “Les Champs-Elysees”.


À semelhança do barco em corte transversal que tinha criado para “Life Aquatic”, Anderson tem em “The Darjeeling Limited” outra cena memorável, onde condensa todas as personagens: um travelling em que passa por diversos (e imaginários) camarotes da carruagem. Uma beleza de tirar a respiração.






CITAÇÕES:


“Jack – What did he say?
Peter – He said the train is lost.
Jack – How can a train be lost? It's on rails.”
JASON SCHWARTZMAN (Jack) e ADRIEN BRODY (Peter)


“Dad's bags aren't gonna make it.”
OWEN WILSON (Francis)























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