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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

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CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford ****

02.02.08, Rita

Realização: Andrew Dominik. Elenco: Brad Pitt, Casey Affleck, Mary-Louise Parker, Brooklynn Proulx, Dustin Bollinger, Sam Rockwell, Jeremy Renner, Sam Shepard, Garret Dillahunt, Paul Schneider. Nacionalidade: EUA, 2007.





Quando um título como “The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford” denuncia tudo, sabemos que não estamos perante um vulgar western. Este filme é essencialmente um estudo dos códigos morais das suas duas personagens principais. Abarcando os acontecimentos entre 1881 e 1882 que conduziram ao improvável assassínio de Jesse James às mãos de Robert Ford, um homem que conseguiu aquilo que muitos profissionais (dos dois lados da lei) tinham tentado e falhado.


Cruel assassino para uns, herói popular para outros, Jesse James (Brad Pitt) é, aos 34 anos, um carismático criminoso acusado de ter morto pelo menos 17 pessoas. Em 1881 a maioria do gang original de Jesse James encontra-se morta ou presa. Para os seus golpes, Jesse e o seu irmão Frank (Sam Shepard) recrutam os irmãos Ford: Charley (Sam Rockwell) e Robert (Casey Affleck), um ambicioso jovem de 19 anos que idolatra (e inveja) James. Jesse James diverte-se por ter um admirador e acaba por aceitar Ford no gang e no seu círculo de confiança.


Ao longo dos 160 minutos de duração de “The Assassination of Jesse James...”, Andrew Dominik (na sua segunda longa-metragem, onde assina realização e argumento, adaptando o livro de 1983 de Ron Hansen) estabelece as complexas motivações por trás da acção de Ford, um homem cheio de contradições, ao mesmo tempo que transforma James de um homem confiante e jovial numa criatura taciturna e paranóica, com o cuidado de nunca eliminar o mistério que o rodeava.


“The Assassination of Jesse James...” está impregnado de lirismo, numa contemplação subtil e elegante sobre a evolução de uma amizade entre dois homens psicologicamente desequilibrados. A mão de Dominki é confiante, e de extremo cuidado na composição e utilidade de cada cena. Centrando-se nas dinâmicas de grupo, Dominik assume frequentemente o ponto de vista de Ford, mais do que de James, construindo os ambientes agressivos (mas não violentos) que conduziram ao momento em que a vida deste dois homens se condensa, terminando a de um, e redefinindo a de outro. Mas Dominik não pára por aí, ele segue Ford na torturada angústia de um homem insignificante tornado subitamente famoso em resultado de um acto de traição.


A lente de Roger Deakins (“Fargo” e “No Country for Old Men”) tem um papel determinante na dureza e secura deste Velho Oeste. Mas é também Deakins que queima a imagem e desfoca os cantos, quando a voice over de Hugh Ross narra de forma literária algo que se situa entre a memória e o sonho. Na retina está ainda a imagem do aparecimento do comboio, como um animal prestes a cair na ratoeira, enquanto os homens o aguardam como predadores, de um poder e beleza extremos. O toque onírico é completado pela banda sonora original de Nick Cave e Warren Ellis (“The Proposition”), o primeiro ainda com direito a um cameo no final do filme.


A densidade das personagens beneficia de duas geniais interpretações: um Brad Pitt que não tem nada a provar e um portentoso e perturbante Casey Affleck (que parece condensar todo o talento interpretativo da família – aguarda-se a sua colaboração em “Gone Baby Gone” com o mano Ben na realização). Mas além destas é deixado espaço para fortes personagens secundárias, como é o caso de Dick Liddil (Paul Schneider) um galante criminoso, Wood Hite (Jeremy Renner), o primo de James, e Charley Ford (Sam Rockwell), um homem dividido entre dois afectos fraternais. O grande desperdício é Mary-Louise Parker como Zee, a mulher de James, reduzida a pouco mais que um adereço. Aliás, as mulheres têm muito pouco espaço neste filme, como o pareciam ter na vida destes homens.


Como uma evocação do estreito elo entre crime e fama “The Assassination of Jesse James...” faz uma observação histórica da cultura americana e da sua obsessão com a celebridade. A forma: visualmente arrebatadora.






CITAÇÕES:


“Poetry don't work on whores.”
PAUL SCHNEIDER (Dick Liddil)

“Do you want to be LIKE me? Or do you want to BE me?”
BRAD PITT (Jesse James)






















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