Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Proof ***

24.11.05, Rita

Realização: John Madden. Elenco: Gwineth Paltrow, Anthony Hopkins, Hope Davis, Jake Gyllenhaal. Nacionalidade: EUA, 2005.





“Proof” é a adaptação cinematográfica da premiada peça de David Auburn (vencedora do Pulitzer Prize de Drama e diversos Tony Award em 2001). O argumento, escrito por Auburn em parceria com Rebecca Miller (realizadora de “Personal Velocity” - 2002 e “The Ballad of Jack and Rose” - 2005), volta a juntar o realizador John Madden (“Shakespeare in Love”, 1998) com Gwineth Paltrow.


Paltrow é Catherine, agora com 27 anos e a um dia do seu aniversário, uma talentosa estudante de matemática que se viu obrigada a abandonar a faculdade para tomar conta do pai, Robert Llewellyn (Anthony Hopkins), um famoso matemático, que aos 21 anos tinha já feito descobertas marcantes, mas a quem foram diagnosticadas perturbações mentais, e cujos últimos anos foram vividos no meio de um intenso nevoeiro.


O drama central deste filme prende-se com o profundo medo de Catherine de ter herdado, juntamente com o talento do pai, a sua loucura. A esta família disfuncional vem juntar-se Claire (Hope Davis), irmã de Catherine, uma bem sucedida analista de câmbios em Nova Iorque, e que está decidida a levar Catherine para viver consigo.


O antagonismo que se estabelece entre as duas baseia-se em ressentimentos mútuos (de Claire pelo talento de Catherine; de Catherine por ter tido que lidar sozinha com o pai). A personalidade anti-social, depressiva e auto-comiseradora de Catherine contrapõe-se com a de Claire, decidida e autoritária, mas também com as suas excentricidades (como é o caso da sua obsessão por listas *).


A quarta personagem deste drama é Hal (Jake Gyllenhaal), um estudante orientado por Robert que tem a esperança de encontrar, nas dezenas de cadernos que Robert escreveu, a base para uma tese que lhe dê entrada directa em qualquer universidade do país. Nas suas pesquisas, Hal descobre uma demonstração matemática - a prova -, a validação de uma teoria relacionada com números primos, que tanto pode ter sido escrita por Robert como por Catherine.


É neste momento que entram em jogo os verdadeiros dilemas de “Proof”: no amor, que parte precisa de provas, e que parte precisa de fé? Entre a verdade e a mentira, de qual deveremos proteger os seres que amamos? Até onde a necessidade e a exigência de provas contradiz o conceito de confiança e coloca uma barreira nas relações?


Paltrow tem aqui uma forte interpretação, cheia de nuances que vão desde a tocante ternura e uma profunda tristeza até à raiva agressiva. Hopkins continua um portento, entre a arrogância e a vulnerabilidade. E Davis (“American Splendor”, de Shari Springer Berman e Robert Pulcini, 2003), entre a condescendência, a preocupação, o ressentimento e culpa é o elemento necessário neste equilíbrio.


Madden consegue aqui uma combinação eficaz entre um filme profundo e, simultaneamente, leve na forma. A estrutura em flashbacks é essencial para revelar a complexidade das personagens, não prejudicando, no entanto, a fluidez da acção. Sem nunca reportar a uma encenação teatral, e aproveitando a força dos diálogos, Madden não cai no erro de abafar a narrativa principal com o sub-plot romântico. No entanto, a última parte do caminho vai perdendo progressivamente força, até chegarmos a um final que só com alguma fé satisfaz.


De salientar o momento mais cómico do filme (e há vários), que surge quando a banda de rock onde Hal é baterista, um grupo de “geeks” matemáticos, toca o seu “grande éxito”: “i”, uma música que consiste em 3 minutos de silêncio. Uma “private” rebuscada, visto i ser o número imaginário que equivale à raiz quadrada de -1.


“Proof” junta-se assim ao grupo dos filmes matemáticos, como “Good Will Hunting” (Gus Van Sant, 1997), “Pi” (Darren Aronofsky, 1998) e “A Beautiful Mind” (Ron Howard, 2001), que evidenciam o carácter sedutor, apaixonante e arriscado dos números.



* Se bem que a obsessão por listas é uma coisa completamente normal... Não é?! Espero...






TAGLINE:


“The biggest risk in life is not taking one.”



CITAÇÕES:


“Crazy people can't be aware that they are crazy, they can't even ask whether they are crazy, because they are so immersed in the minutiae that delimits their craziness - their obsessions with daily details, paranoid fantasies, or the architecture of their subjective, fabricated worlds.”
ANTHONY HOPKINS (Robert)

“Hal - You read a lot of maths.
Catherine - I read Cosmo. It is just a window dressing.”
GWINETH PALTROW (Catherine) e JAKE GYLLENHAAL (Hal)

“Catherine - It doesn't fit me.
Hal - It fits perfectly.
Catherine - You can't prove it.
Hal - I can disprove the opposite.”
GWINETH PALTROW (Catherine) e JAKE GYLLENHAAL (Hal)