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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Sicko ****

24.11.07, Rita

Realização e argumento: Michael Moore. Género: Documentário. Nacionalidade: EUA, 2007.





Michael Moore (“Bowling For Columbine”, “Fahrenheit 9-11”) é manipulador e tendencioso. Quem esteja à espera de um documentário isento e equilibrado, irá encontrar um panfleto propagandista, mais interessado em produzir reacções do que em argumentar cabalmente a favor de um ponto de vista. Com a técnica apurada de um comunicador profissional, a gramática da sua “oratória” é a emoção e o humor irónico. E se for preciso ocultar ou moldar algumas realidades para efeitos demonstrativos e/ou dramáticos, pois seja! O ritmo acelerado de “Sicko” impede que nos debatamos longamente com os argumentos falaciosos (ou, pelo menos, incompletos) que Moore utiliza. Dormentes do bombardeio informativo, Moore só nos deixa respirar em planos fixos de sofrimento pessoal.


Michael Moore é manipulador e tendencioso, mas é um dos melhores.


Depois do incidente do liceu de Columbine e do ataque terrorista do 11 de Setembro, o seu olhar crítico e ácido foca agora o sistema de saúde dos Estados Unidos, comparando-o com outros países, dos vizinhos canadianos, aos europeus franceses e ingleses, passando até pelos arqui-inimigos cubanos (num golpe ‘publicitário’ que as relações públicas cubanas devem ter adorado).


Michael Moore apela aos medos que todos temos, mostrando que ninguém está a salvo quando está sob um sistema corrupto cujo objectivo é aumentar os lucros obscenos das seguradoras de saúde em contraponto a um sistema solidário pelo qual cada um paga consoante a sua possibilidade e recebe consoante a sua necessidade e que promove um acesso universal aos cuidados de saúde. É esta a filosofia da generalidade dos países ocidentais (não só relativamente à saúde, mas também à educação, por exemplo). O que diferencia os EUA? O facto de terem faltado no seu solo os efeitos devastadores a nível material e humano de uma guerra mundial, que teriam estimulado a solidariedade como elemento base da sua sociedade? Pode até ser. Mas o que os impede, hoje, de (à semelhança de outros campos do conhecimento) adoptar as melhores práticas?


O humor de absurdo degenera numa raiva fervilhante, neste estandarte de Moore sobre a necessidade urgente de uma reforma do sistema de saúde dos EUA. Mas, mal tratados pelas suas seguradoras e ignorados pelos seus governantes, desmoralizados, enfraquecidos económica e fisicamente, aos americanos parece faltar-lhes energia para a revolução que se reclama.


Quanto aos métodos agressivos de Moore, falta-lhes clareza, ainda que tenham por base as melhores razões. Há que ver para além do que ele nos decide mostrar. Mas, para mim, a importância de Moore, neste e nos seus filmes anteriores, prende-se com o facto de trazer assuntos para a mesa de discussão, de abordar tabus que os EUA se impõem a si mesmos, e combater a aceitação tácita que está inerente ao silêncio. É preciso acordar e aprender a questionar (até a suposta verdade reveladora de Michael Moore), e fazer uso do voto como arma de protesto.


Através do absurdo, Moore mostra a sua verdade, pessoas privadas de dignidade e liberdade, subjugadas a uma versão de democracia que coloca o dinheiro como líder. E é neste desvendar que a indignação vem ao de cima, acompanhada de desilusão. O sentimento que prevalece é um misto de vergonha por esta “espécie humana”, e de alívio por não se ser americano.






CITAÇÕES:


“This is about the 250 million of us who have health insurance, who are living the American dream.”
MICHAEL MOORE

“Keeping people hopeless and pessimistic - see I think there are two ways in which people are controlled - first of all frighten people and secondly demoralize them. An educated, healthy and confident nation is harder to govern.”
TONY BENN

“If we can find money to kill people, you can find money to help people.”
TONY BENN

“Recently, the head of the largest Anti-Michael Moore website announced that he had to delete the website because his wife had cancer and the insurance would not cover it. Isn't this unfair that a person cannot practice the first amendment, because of our lousy health insurance? I thought so. So, I sent him the check for 12,000 dollars anonymously and now the site is up and running once more.”
MICHAEL MOORE (quem quiser espreite aqui)