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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Delirious **1/2

19.11.07, Rita

Realização: Tom DiCillo. Elenco: Steve Buscemi, Michael Pitt, Alison Lohman, Gina Gershon, Elvis Costello. Nacionalidade: EUA, 2006.





Les Galantine (Steve Buscemi) é um obsessivo fotógrafo nova-iorquino que recusa o apelido de ‘paparazzi’, apesar do seu dia-a-dia ser passado à procura da foto mais comprometedora ou inesperada de algum famoso. Toby Grace (Michael Pitt) é um sem-abrigo aspirante a actor que acaba por se tornar assistente de Les a troco de pouco mais que um tecto. Toby acaba por conseguir entrar nas portas desse ‘céu’, primeiro, pelas mãos de uma directora de casting (Gina Gershon), e depois pelas mãos de uma famosa cantora (a la Britney) K'harma Leeds (Alison Lohman) por quem se apaixona. A ascensão de Toby afasta os dois amigos, aprofundando a inveja de Les.


Os prémios de Melhor Realizador e Melhor Argumento na edição de 2006 do festival de San Sebastian parecem-me excessivos para este último filme de Tom DiCillo (“Johnny Suede”, 1991). As personagens estão demasiado perto do caricatural e dificilmente “Delirious” poderá reclamar para si um olhar original sobre o mundo das celebridades.


Ainda assim, consegue ter momentos bastante divertidos, em especial quando recorre à ironia, como é o caso do banquete de ‘Artistas de Novelas contra as DST’ ou a negociação entre dois agentes do encontro entre as suas duas estrelas.


Mas o ponto forte de “Delirious” são os dois grandes actores que o protagonizam. Steve Buscemi (“Fargo”, “Ghost World”, “Romance & Cigarettes”, “Paris, Je T’Aime”) não tem provas a dar e o cinismo e irascibilidade do seu Les surgem com tal naturalidade que só conseguimos sentir pena deste homem profundamente iludido de que merece mais do que aquilo que tem, alimentando um ódio invejoso das vidas da qual é predador e um patético e desesperado desejo de pertencer a esse grupo. A tomada de consciência dessa ilusão é a sua tragédia pessoal.


Do outro lado está o jovem Michael Pitt, que ‘descobri’ em “Hedwig and the Angry Inch” de John Cameron Mitchell, ‘re-descobri’ em “The Dreamers” de Bertolucci, que ainda não vi em “Last Days” de Gus Van Sant e que estou a ansiar ver este ano em “Seda” de François Girard, a adaptação do belíssimo romance de Alessandro Baricco. Na doçura e inocência da personagem de Toby, lê-se a entrega e a genuinidade de Pitt, na gratidão doentia da personagens percebe-se a gratidão do actor que faz aquilo que gosta.


“Delirious” pretende ser um retrato de almas que tentam adormecer as suas feridas com a luz hipnótica da ribalta. Infelizmente, não passa de um flash, cuja impressão nos sentidos dura apenas o tempo da sessão.






CITAÇÕES:


“A friend is someone waiting for the chance to talk about himself.”
STEVE BUSCEMI (Les Galantine)