Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

S&Man ***

10.09.07, Rita

Realização: J.T. Petty. Elenco: Carol J. Clover, Debbie D, Michelle Glick, Erik Marcisak, Fred Vogel, Bill Zebub. Nacionalidade: EUA, 2006.





J.T. Petty é um realizador de filmes de terror que pretendia fazer um documentário sobre um vizinho seu que colocou câmaras escondidas na vizinhança e gravou 191 cassetes ao longo de 9 meses. Quando os vizinhos perceberam que o processo legal obrigaria ao visionamento de todas as cassetes em tribunal, a queixa contra ele foi retirada. Perante a recusa deste homem em participar no documentário, Petty concentrou-se na dicotomia entre o terror visual no cinema, nomeadamente os filmes undergound, e o voyeurismo.


Em “S&Man” (leia-se ‘sandman’) Petty entrevista psicólogos e estudiosos, como é o caso de Carol J. Clover, autora do livro "Men, Women, and Chain Saws: Gender in the Modern Horror Film". Começando por fazer uma breve passagem por clássicos como “The Texas Chainsaw Massacre” ou “Henry: Portrait of a Serial Killer”, Petty aborda posteriormente realizadores underground como Fred Vogel (“August Underground”) e Bill Zebub (“Kill the Scream Queen”, “Jesus Christ: Serial Rapist”) questionando-os sobre os seus métodos. Mas o título do filme de Petty deriva da série de episódios feita por Eric Rost, um jovem que recebe Petty na lúgubre cave da casa da sua mãe, e que tem por hábito fazer o casting das protagonistas femininas seguindo-as na rua sem elas saberem e, conseguindo a sua colaboração, leva-as para um sítio recôndito e “mata-as”, simulando um ‘snuff movie’.


“S&Man” tem um ritmo lento, que nem a competente narração de Petty alivia. Mas a sua mais-valia reside no seu carácter informativo e na forma aberta e sem preconceitos com que Petty lida com inquietantes questões. De que forma o trabalho desenvolvidos por estes profissionais (realizadores e actores) se confunde com a sua própria identidade? Serão todos eles nerds constantemente rejeitados por raparigas bonitas que agora se vingam a frio “matando-as” no ecrã das formas mais cruéis? A atracção pelo amadorismo técnico destes filmes residirá na fantasia de que a morte filmada é real?


Os minutos finais de “S&Man” desfocam essa ténue linha entre ficção e realidade. E aquilo que começa por ser um documentário transforma-se, através dessa estranha realidade, num “filme” de terror. Falando directamente ao voyeur sociopata que vive em cada um de nós, que se fascina com o horror, a tortura e violência, Petty pergunta: como é possível que perante as cenas mais escabrosas não sejamos capazes de desviar o olhar? O que nos impele a ver o sofrimento dos outros? É a compaixão quando nos colocamos no lugar da vítima ou o sadismo quando nos vemos através dos olhos do agressor? Talvez o prazer do horror resida exactamente no frágil equilíbrio entre estes dois elementos.






CITAÇÕES:


“I don't shoot movies to make art; I shoot movies so perverts will give me money.”
BILL ZEBUB