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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

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CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Taxidermia ****

11.07.07, Rita

Realização: György Pálfi. Elenco: Csaba Czene, Gergely Trócsányi, Piroska Molnár, Adél Stanczel, Marc Bischoff, Gábor Máté, Zoltán Koppány, Géza D. Hegedüs. Nacionalidade: Hungria / Áustria / França, 2006.





“Taxidermia” é um filme nojento, bizarro e grotesco, feito com um prazer perverso e uma estética tão cuidada que não nos consegue deixar indiferentes.


O filme acompanha três gerações de homens de uma mesma família húngara. Três seres aparte, cada um deles com uma estranha relação com o seu próprio corpo. Vendel Morosgoványi (Csaba Czene) é um militar de baixa patente que exterioriza as suas necessidades sexuais da melhor (e mais original) forma que pode, vivendo numa ansiedade obsessiva na quinta do seu superior. O seu filho, Kálmán Balatony (Gergely Trócsányi) pôs a render a sua compulsão por comida em concursos internacionais. Do seu casamento com Gizi Aczél (Adél Stanczel), também ela uma campeã de comida, nasce Lajos (Marc Bischoff), um escanzelado taxidermista, condenado a cuidar do seu pai imóvel e dos seus três enormes gatos.


Os dois primeiros actos deste filme, que compreendem, entre outras experiências visuais, a matança de um porco, a ingestão desmedida e o consequente vómito, contêm em si algo de cómico, pelo insólito e pelo trágico das situações. O mesmo já não se pode dizer da terceira parte, marcada por uma aura perturbadora de terror até ao clímax final.


Não se lê no argumento de Zsófia Ruttkay e do realizador György Palfi a intenção de chocar sem objectivo. Trata-se antes do retrato de um universo de excêntricos inadaptados, brilhantemente interpretados por todo o elenco, numa visão do corpo até às suas entranhas. Através da exploração física faz-se o caminho para o mundo psicológico destas personagens. Num e noutro, o horror e a beleza convivem lado a lado.


“Taxidermia” está muito bem filmado e editado, numa fabulosa fotografia de Gergely Pohárnok, cujo esquema de cores vai perdendo progressivamente o lustro a cada novo acto. Várias cenas prometem ficar registadas na memória: os movimentos de 360º através de um soalho e em redor de uma banheira, mostrando os seus diversos usos; ou um soldado imaginando-se parte de uma versão ‘pop-up’ do conto de Andersen “A Menina dos Fósforos” e abusando da sua inocência.


Pornográfico na forma como mostra o organismo nalgumas das suas funções menos agradáveis, “Taxidermia” oscila entre o animal e o humano, entre os instintos primários e o autocontrolo da racionalidade. O sémen, o vómito e o sangue, são ao mesmo tempo símbolos da necessidade de sexo, comida e saúde, ou melhor, dos desejos básicos de amor, conforto e imortalidade.


Um filme visceral, literalmente.


Não aconselhável a estômagos fracos.






E se o gosto do filme pode ser posto em questão, o do site oficial é simplesmente uma delícia:


























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