Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

V For Vendetta ****

29.03.06, Rita

Realização: James McTeigue. Elenco: Natalie Portman, Hugo Weaving, Stephen Rea, Stephen Fry, John Hurt, Tim Pigott-Smith, Rupert Graves, Roger Allam, Ben Miles, Sinéad Cusack. Nacionalidade: EUA / Alemanha, 2005.





A 5 de Novembro de 1605, Guy Fawkes foi detido num túnel debaixo do Parlamento britânico na posse de 36 barris de pólvora destinados a derrubar a tirania do Rei James I e colocar um rei católico no trono. Fawkes e os seus colaboradores foram enforcados.


Em 1982, Alan Moore, em colaboração com o artista gráfico David Lloyd, escreveu a banda desenhada “V For Vendetta”, um velado (ou nem tanto) ataque às políticas conservadoras de Margaret Thatcher e um grito pela liberdade e pela justiça.


Em 2005, o argumento dos irmãos Andy e Larry Wachowski (“Matrix”) (adaptação largamente criticada pelo próprio Alan Moore), nas mãos do estreante James McTeigue (assistente de realização em “Matrix”), manteve a Inglaterra mas actualizou-a para um futuro próximo, onde um governo conservador e totalitário, liderado pelo maníaco Chanceler Sutler (John Hurt), domina a população usando o medo como arma (isto é ficção, certo?!), eliminando tudo o que é diferente.


Evey (Natalie Portman), filha de radicais anti-governamentais, trabalha no departamento de correspondência da única estação de televisão existente. Uma noite, depois do recolher obrigatório, Evey é detida pela segurança governamental (“Fingers”) e é salva por um vigilante mascarado, de seu nome V. V (Hugo Weaving) é um revolucionário, que usa o exemplo de Guy Fawkes (e a sua máscara), na sua luta por libertar a Inglaterra da corrupção, da crueldade e das mentiras do governo. Evey vê-se apanhada no meio do plano de vingança de V, que pretende fazer explodir as Houses of Parliament no 5 de Novembro seguinte. Um diligente investigador do governo Finch (Stephen Rea) tenta evitar o pior.


V usa um vocabulário sofisticado (a aliteração usada numa das primeiras falas é desconcertante), ao mesmo tempo que brade armas brancas com uma elegância oriental. Num misto de loucura, melancolia e teatralidade (a la Fantasma da Ópera) faz a constante evocação de Edmond Dantes, o Conde de Monte Cristo, e à sua sede de vingança. No fundo, V é um assassino que justifica a sua violência com o fim a que se destina. E não deixa de ser controverso que a lógica maquiavélica possa ser aqui usada para justificar a superioridade de um tipo de terrorismo sobre outro.


Polémicas aparte, este filme é um regalo, na sua mistura de mito e história com teoria da conspiração, e com claras referências ao universo de “1984” de Orwell (cuja adaptação ao cinema em 1984 por Michael Radford contou também com a participação de John Hurt, desta feita no papel do oprimido Winston Smith). Novamente se questiona de que direitos o povo está disposto a abdicar pela promessa de segurança? qual a melhor forma de um governo capitalizar o medo para seu próprio benefício? haverá causas pela quais vale a pena lutar? e morrer?


Ironicamente, o grande vilão deste filme acaba por ser, nem tanto o Chanceler ou o que ele representa, mas sim a grande massa de população que se torna conivente com sistemas deste tipo, a maioria das vezes por simples preguiça. E eles são todos nós (bem, talvez exceptuando uns quantos estudantes franceses...). E não deixa de ser refrescante que uma multidão indefinida e sem feições se transforme num conjunto de individualidades.


A história de “V For Vendetta” é um puzzle que se vai desvendando em pistas sucessivas e que conta com um conjunto de boas interpretações. Natalie Portman apresenta uma transformação impressionante e consistente; e Hugo Weaving consegue dotar uma personagem mascarada de grande humanidade, quer através da sua poderosa voz, quer dos movimentos corporais. Aliás, “V For Vendetta” tem o mérito de, no meio de grandes efeitos visuais, nunca se esquecer da base humana. Nos secundários, estão três sólidos pesos-pesados: Stephen Rea, John Hurt e Stephen Fry.


Este filme é ambíguo, dramático e intenso. Vale a pena ver. E pensar sobre. E no ambiente escuro e opressivo da fotografia de Adrian Biddle, só apetece ouvir (e dançar!) “Cry Me a River”.








CITAÇÕES:


“Remember, remember, the fifth of November, The gunpowder treason and plot. I know of no reason why gunpowder treason should ever be forgot.”
HUGO WEAVING (V)

“Voilà! In view, a humble vaudevillian veteran, cast vicariously as both victim and villain by the vicissitudes of Fate. This visage, no mere veneer of vanity, is it vestige of the vox populi, now vacant, vanished, as the once vital voice of the verisimilitude now venerates what they once vilified. However, this valorous visitation of a by-gone vexation, stands vivified, and has vowed to vanquish these venal and virulent vermin vanguarding vice and vouchsafing the violently vicious and voracious violation of volition. The only verdict is vengeance; a vendetta, held as a votive, not in vain, for the value and veracity of such shall one day vindicate the vigilant and the virtuous. Verily, this vichyssoise of verbiage veers most verbose vis-à-vis an introduction, and so it is my very good honor to meet you and you may call me V.”
HUGO WEAVING (V)

“Beneath this mask there is more than flesh. There is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.”
HUGO WEAVING (V)

“People should not be afraid of their governments, governments should be afraid of their people.”
HUGO WEAVING (V)




























2 comentários

Comentar post