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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

The Hottest State ***

23.04.07, Rita

Realização: Ethan Hawke. Elenco: Mark Webber, Catalina Sandino Moreno, Sonia Braga, Michelle Williams, Laura Linney, Ethan Hawke. Nacionalidade: EUA, 2006.





Na sua segunda incursão pela realização (em 2001 dirigiu “Chelsea Walls”), Ethan Hawke adapta o seu livro "The Hottest State", que conta a história do primeiro amor e primeiro desgosto de William (Aaron Webber), um energético jovem de 21 anos originário do Texas (o ‘estado mais quente’ do título) que vive em Nova Iorque e que aspira a ser actor. A fada, num momento, e bruxa, no outro, é Sarah (Catalina Sandino Moreno), uma rapariga emocionalmente retraída que deixou a sua mãe (Sonia Braga) no Connecticut para prosseguir uma carreira na música na ‘Big Apple’ (o playback está a cargo de Rosario Ortega, numa banda sonora da responsabilidade de Jesse Harris, interpretada por vozes como as de Cat Power, Emmylou Harris e Feist, entre outros).


É evidente que Hawke conhece bem as suas personagens, mas o pesado ponto de vista de William, acaba por prejudicar a complexidade que Sarah deveria conter. Ela acaba por ficar limitada a objecto de desejo e causadora de sofrimento. Felizmente, a dupla de protagonistas compensa esse desequilíbrio. Por um lado, porque Catalina Sandino Moreno (“Maria Cheia de Graça”) é uma actriz versátil e, por outro lado, porque a personagem de Aaron Webber (“Dear Wendy”) dispõe de um aguçado mecanismo de autocrítica.


Especialmente na parte dos diálogos lê-se bastante da colaboração de Hawke com Richard Linklater em filmes “Before Sunset”, onde vem ao de cima o ridículo - e verdadeiro - das relações humanas. Tal é o caso da chamada telefónica que se repete para se pedir desculpa pela chamada que se fez no minuto anterior, onde se finge distanciamento quando o simples acto de ligar se revela em toda a sua vulnerabilidade. Um outro momento, especialmente divertido e, simultaneamente, doloroso, é aquele em que William e Sarah, no início da sua relação brincam com o seu final, inventando as frases que dirão um ao outro quando terminarem.


Após uma intensa semana no México, sobrevém a distância da parte de Sarah e o desespero e irracionalidade da parte de William. Mas mais do que lutar por Sarah, William empenha-se por contrariar a hereditariedade da relação falhada dos seus pais (uma Laura Linney e um Ethan Hawke que sabem a pouco).


O ‘hottest state’ é também aquele da paixão, o calor do desconhecido, aquele momento de deslumbre onde tudo é possível, onde as qualidades são transbordantes e os defeitos encantadores. Com mais ou menos calor, a necessidade de amor é indiscutível, da mesma forma que o é a necessidade de um espaço individual onde se possa crescer como uma entidade independente.