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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Iklimer - Climas ****

19.04.07, Rita

Realização: Nuri Bilge Ceylan. Elenco: Ebru Ceylan, Nuri Bilge Ceylan, Nazan Kesal, Mehmet Eryilmaz, Arif Asçi, Can Ozbatur, Semra Yilmaz. Nacionalidade: Turquia / França, 2006.





O realizador e argumentista Nuri Bilge Ceylan estreia-se como protagonista junto da sua mulher, Ebru Ceylan, num filme que analisa com extrema crueza, e por vezes até um humor mordaz, as alterações da temperatura emocional de uma relação. O amor, o compromisso e o desejo vão do calor intenso ao frio gélido, do Verão mediterrânico ao rigoroso Inverno do leste.


Isa (Nuri Bilge Ceylan) é professor universitário. A sua namorada, Bahar (Ebru Ceylan), é directora de arte na televisão e consideravelmente mais nova que ele. Encontramo-los no Verão passeando pelas ruínas de Kas, na costa da Turquia, que funcionam como uma metáfora da sua relação, delapidada e em decadência, também ela em tempos magnífica. Num silencioso olhar de Bahar lê-se a gradual erosão de um amor.


“Climas” (vencedor do Prémio Fipresci na edição de 2006 do Festival de Cannes) é um drama íntimo, onde as faces são a paisagem e onde, à falta de palavras, os sentimentos se revelam. Enquanto ambos se estendem numa praia ao sol (sufocando no calor como na relação), ela sonha que ele a enterra na areia, e, pouco depois, ele declama-lhe um praticado discurso de ruptura, acrescentando que podem continuar amigos, a ir jantar juntos e ao cinema. Friamente, ela responde que não precisam de ficar amigos. Nesta belíssima sequência, o realizador leva-nos numa viagem “meteorológica” entre o afecto, a angústia, o pânico, a tristeza, o remorso, a repulsa e a aceitação.


Estes dois seres são incapazes de expressar os seus sentimentos, quer os mais felizes quer os mais dolorosos, uma capacidade de comunicação que o tempo tem esfriado. Bahar oscila entre a bipolaridade da auto-comiseração e da explosão de raiva, e, mais tarde, entre a frieza e a vulnerabilidade. Isa faz os seus jogos de poder para ter tudo o que quer. E ele quer tudo: o desejo emocionante e o amor tranquilo, o novo e o conhecido. Só tarde demais ele percebe que isso não é possível, porque nessa fome bulímica apenas consegue alimentar a solidão.


Mas Nuri Bilge Ceylan, como realizador, consegue fazer aquilo que as suas personagens não conseguem, criando – com uma belíssima fotografia – o ambiente que nos faz entender todas as suas angústias: a perda da confiança por uma traição, a impossibilidade de voltar a acreditar, o orgulho de ceder ao sentimento, ou até a dor de saber que o outro é capaz de viver sem nós. Em determinado momento, Bahar pergunta a Isa sobre essa traição. Ele mente. Ela sabe que ele mente (ou talvez lhe bastasse pensar que sabe). E a traição renova-se.


A dúvida pode facilmente destruir uma relação e fazer com que estar com a pessoa que se ama seja um sofrimento muito idêntico ao de estar sem ela. Muitas vezes são as nossas expectativas que “enterram” quem amamos. O calor da paixão, o frio lancinante da dor. Qualquer que seja a condição atmosférica, ela não será permanente. Para o bem e para o mal, o tempo muda.






Esta mulher é lindíssima e age como se não o soubesse. Adoro!
























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