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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Shortbus ***

17.04.07, Rita

Realização: John Cameron Mitchell. Elenco: Sook-Yin Lee, Paul Dawson, Lindsay Beamish, Adam Hardman, PJ DeBoy, Raphael Barker, Jay Brannan, Peter Stickles. Nacionalidade: EUA, 2006.





John Cameron Mitchell (protagonista, argumentista e realizador de “Hedwig - A Origem do Amor”) pega no clássico autocarro amarelo da escola, o longo, destinado às crianças “normais”, e encurta-o para “crianças com necessidades especiais”.


Sofia (Sook-Yin Lee) é uma frígida sexóloga e conselheira de casais, casada com Rob (Raphael Barker). Dois dos seus pacientes são o casal Jamie (PJ DeBoy) e James (Paul Dawson), que pretende introduzir terceiras pessoas na relação. Depois há Severin (Lindsay Beamish), uma dominatrix obcecada com Polaroids, e Ceth (Jay Brannan), um ex-modelo que se envolve conjuntamente com James e Jamie, numa curiosa tentativa de uma relação “monógama” a três, e ainda Caleb (Peter Stickles), um stalker que, do outro lado da rua vigia obsessivamente James e Jamie. Homens e mulheres, hetero e homossexuais, todos convergem em “Shortbus”, uma espécie de clube underground onde tudo é permitido. Gerido pela drag queen Justin Bond (representando-se a si mesmo), que o descreve como "just like the 60s, only with less hope", o clube é um refúgio onde cada um tem espaço para resolver as suas neuroses, ali ver é também participar e a par do sexo, em grupo ou nem tanto, existem discussões sobre música, literatura e arte.


Em “Shortbus” não só se despem corpos como almas. Ambos são inteiramente explícitos. E o sexo, mais do que uma fuga à realidade deste conjunto de pessoas, é um caminho necessário para se descobrirem a si mesmas, o que, em última instância, significa descobrirem o amor, que tem a sua metáfora numa falha de electricidade que afecta toda a cidade de Nova Iorque (um modelo à escala permite criativas transições entre cenas).


Sem o objectivo de chocar, o sexo mostra-se em diversas formas e fases, misturando-se com um humor que provém do quotidiano de uma forma tão natural – e tão indiferente a quem está a ver – que não chega a ser pornográfico. Na base desta eficácia, está certamente o método escolhido por Cameron Mitchell para a direcção de actores. Ao casting aberto online, 500 candidatos responderam enviando as suas gravações. Os sete protagonistas seleccionados fizeram posteriormente um workshop com Cameron Mitchell. Um método que permitiu que os actores (todos eles estreando-se em longas-metragens) se sentissem confortáveis na intimidade a que o filme os obriga, e contribuíssem para o desenvolvimento das suas personagens e do storyline.


Mas “Shortbus” perde considerável força à medida que o filme avança, recorrendo a uma série de clichés e frustrando na força emocional que ele próprio reivindica. Acaba por se reduzir o papel do sexo (que, em toda a legitimidade, é um fonte privilegiada de prazer) a um veículo para as emoções, quando ele deve antes ser uma das suas linguagens.


Para uma geração emocionalmente perdida, mas cheia de expectativas, o corpo transformou-se no veículo único para conseguirem lidar com os seus sentimentos. Tal como em “Hedwig”, “Shortbus” reflecte a visão que Mitchell tem do sexo e da identidade (e, por isso mesmo, da sexualidade) como conceitos dinâmicos e mutáveis. “Shortbus” é sobre o intenso desejo de estabelecer ligações, sejam elas através do sexo, do amor ou da arte, e a profunda necessidade de comunicação, questionando o “casamento” (entenda-se “compromisso”) como plataforma de entendimento.


No meio de uma banda sonora original a cargo dos Yo La Tengo, a voz final vai para Scott Matthew com [We All Get It] "In the End". Afinal sempre há alguma esperança...


Para descobrir no 4º IndieLISBOA.






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