Notes on a Scandal ***1/2
Realização: Richard Eyre. Elenco: Judi Dench, Cate Blanchett, Bill Nighy, Andrew Simpson, Juno Temple, Max Lewis. Nacionalidade: Reino Unido, 2006.
Barbara Covett (Judi Dench) é professora de história num liceu de Londres. Barbara é uma mulher solitária a quem os anos trouxeram uma elevada dose de cinismo e para ela a educação reduz-se a um controlo de uma população juvenil com um futuro cheio de limitações. A chegada à escola de Sheba Hart (Cate Blanchett), uma nova professora de arte, proporciona a Barbara a possibilidade de uma nova amizade. Quando Barbara descobre que Sheba tem um caso com um aluno seu de 15 anos (Andrew Simpson), ela aproveita esse segredo em comum para se aproximar ainda mais de Sheba e exercer o seu poder sobre ela, através de uma chantagem emocional e de um pesado jogo psicológico.
O argumento de Patrick Marber (“Closer”), com base no livro de Zoë Heller, “What Was She Thinking: Notes on a Scandal”, é uma visão perturbante sobre o efeito tóxico da solidão crónica, mesmo quando esta é vivida no seio de uma família. Barbara percebe que, pela partilha deste segredo que pode destruir a família e a vida de Sheba, tem a oportunidade de extorquir de Sheba uma amizade sem limites. Sheba é obrigada a jurar que irá terminar o romance, mas à sua vontade falta-lhe a força. Perante esta nova traição, a raiva e o ciúme impelem Barbara a tomar medidas mais drásticas.
O filme de Richard Eyre (“Iris”, 2001) beneficia de personagens profundas e desenhadas em detalhe, interpretadas com ferocidade por uma Cate Blanchett (“The Aviator”, “Babel”) de intensa beleza e à beira do colapso nervoso e uma Judi Dench (“Mrs. Henderson Presents”, “Casino Royale”) simultaneamente ameaçadora e vulnerável, que, do alto dos seus 72 anos abdica de toda a vaidade. A par desta dupla está Bill Nighy, cuja interpretação tem um peso dificilmente comparável ao cantor Billy Mack de “Love Actually” (2003) ou ao pirata Davy Jones em “Pirates of the Caribbean: Dead Man's Chest” (2006).
A narrativa move-se ao ritmo da narração de Barbara, que descreve subjectivamente os acontecimentos da sua vida num diário, adensando a atmosfera claustrofóbica de uma obsessiva, possessiva e retorcida forma de amar. Apesar da cena final quebrar a força de um final que se queria mais dúbio, o texto de “Notes on a Scandal” é belíssimo e impregnado de humor inteligente. Quando às emoções, as mais fortes decorrem no apartamento de Barbara, onde a música de Phillip Glass coloca os nossos nervos em ponto de ebulição e onde temos o prazer de ver contracenar duas actrizes de excepção.
Como conselho paternal fica o “cuidado com o desnível”, aquele que se abre – por vezes, perigosamente – entre a vida que construímos e aquela que imaginámos. Como ansiedade final fica a tendência patológica do ser humano procurar o seu sentido nesta e não naquela.
CITAÇÕES:
“My father always said ‘mind the gap’. The distance between life as you dream it and... life as it is.”
CATE BLANCHETT (Sheba Hart)
“Barbara Covett – Do you know much about wine?
Richard Hart – I know I like drinking it!”
JUDI DENCH (Barbara Covett) e BILL BIGHY (Richard Hart)
“We are bound by the secrets we share.”
JUDI DENCH (Barbara Covett)
“Judas had the dignity to hang himself, but only according to Matthew, the most sentimental of the apostles.”
JUDI DENCH (Barbara Covett)