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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Zwartboek - Livro Negro **

06.03.07, Rita

Realização: Paul Verhoeven. Elenco: Carice van Houten, Halina Reijn, Thom Hoffman, Jochum ten Haaf, Peter Blok, Derek DeLint, Sebastian Koch, Christian Berkel, Waldemar Kobus, Dolf DeVries, Michiel Huisman, Ronald Armbrust. Nacionalidade: Holanda / Bélgica / Reino Unido / Alemanha, 2006.





Duas mulheres encontram-se num kibutz em Israel em 1956, a partir daí um longo flashback conduz-nos ao passado de uma delas, Rachel Stein (Carice van Houten), uma cantora judia que, no final da Segunda Guerra Mundial, se encontra refugiada na casa de uma família cristã da Holanda rural. Depois da destruição do seu esconderijo e sem família, ela acaba por se juntar a uma célula da resistência holandesa comandada por Gerben Kuipers (Derek de Lint, que a minha retina guardou da série televisiva “China Beach”). Aí, disfarçando-se de loura ariana, ela assume a identidade Ellis de Vries e, seduzindo o oficial alemão Ludwig Müntze (Sebastian Koch, “Das Leben der Anderen”), consegue infiltrar-se no seu escritório e obter informações para os seus companheiros. Fora dos seus planos estava, no entanto, o amor.


O realizador de “RoboCop” (1987), “Total Recall” (1990), “Basic Instinct” (1992), “Showgirls” (1995) e “Starship Troopers” (1997), regressa às raízes holandesas com “Zwartboek”, um filme inspirado em eventos reais que se debruça sobre o vasto limbo de nuances morais que, por via da guerra, se estende entre as definições de bem e mal (um exemplo disso é o do advogado Wim Smaal (Dolf DeVries) que negoceia com os nazis pela libertação de prisioneiros da resistência).


Misturando o político e o pessoal, no longo trabalho dos co-argumentistas Verhoeven e Gerard Soeteman, testam-se amizades e lealdades face a interesses pessoais e ao instinto de sobrevivência. O bem e o mal mostram-se exteriores aos actos, que podem ser ambas as coisas dependendo de quem os vê e desde que lugar. Neste jogo duplo, o sexo é usado como moeda de troca e como forma de poder.


Mas apesar das interpretações capazes de Carice van Houten, Sebastian Koch e Thom Hoffman (Hans Akkermans, “Dogville”) no papel de líder da resistência, “Zwartboek” opta por soluções muito pouco originais e que, em pouco tempo, o farão desaparecer da memória do espectador. O sentimento é puxado por vezes ao exagero, tornando-o ainda mais pesado do que as suas duas horas e meia de duração. E nem as diversas viragens na narrativa conseguem justificar a nossa atenção, não fosse a câmara de Karl Walter Lindenlaub estar completamente apaixonada pelas desconcertantes naturalidade e beleza de van Houten.


O final não apresenta resoluções, mostrando a mesma ambiguidade que a moral destes indivíduos, que tentam confusamente lidar com a inocência, o desespero, a sua vontade e a sua ideologia. Na euforia do pós-guerra, a chocante vontade de vingança mostra que as lições não foram aprendidas, e que do mal dificilmente se pode gerar qualquer outra coisa. Nos sobreviventes sobra a culpa.















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