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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Letters From Iwo Jima ****

02.03.07, Rita

Realização: Clint Eastwood. Elenco: Ken Watanabe, Kazunari Ninomiya, Tsuyoshi Ihara, Ryo Kase, Shido Nakamura, Hiroshi Watanabe, Takumi Bando, Yuki Matsuzaki, Takashi Yamaguchi, Eijiro Ozaki, Nae, Nobumasa Sakagami. Nacionalidade: EUA, 2006.





No seguimento de “Flags Of Our Fathers” surge “Letters From Iwo Jima”, a segunda parte do díptico de Clint Eastwood sobre a batalha de Iwo Jima.


Um grupo de soldados japoneses prepara-se para o ataque americano à ilha cavando trincheiras no meio da praia da ilha de Iwo Jima. Sabendo que esse será o primeiro lugar a ser arrastado no ataque americano, o seu novo líder ordena que se façam túneis na montanha, onde terão uma melhor posição para combater o inimigo e proteger a ilha e, consequentemente, o Japão. Após a batalha de Saipan, os contingentes da Marinha Imperial e Força Aérea japonesas cancelam quaisquer reforços para a ilha. Em desvantagem numérica, sem comida e água, assolados pela desinteria, a morte destes homens torna-se uma realidade iminente.


Olhando pelo lado japonês, Clint Eastwood humaniza o inimigo americano através de três personagens: o general a cargo da defesa da ilha, Tadamichi Kuribayashi (Ken Watanabe); um ex-padeiro convocado para a guerra, Saigo (Kazunari Ninomiya); e um ex-atleta olímpico, o Tenente Baron Nishi (Tsuyoshi Ihara). São sobretudo as cartas dos dois primeiros às suas mulheres que dão nome ao filme. Embora estas missivas não sejam o motor da narrativa são essenciais para a caracterização destas personagens.


“Letters from Iwo Jima” é um filme mais forte que “Flags of our Fathers”, e é aquele que dá ao conjunto o seu peso devido (evidenciando as poucas diferenças que existem entre os homens que se enfrentam numa guerra). Da mesma forma que os japoneses mal aparecem em “Flags of our Fathers”, a presença dos americanos neste filme é também reduzida. Mas enquanto o primeiro lidava sobretudo com os efeitos (e custos) do pós-guerra, o segundo debruça-se mais profundamente sobre a realidade da guerra, a tragédia de morrer sem um motivo válido, a reacção perante a inevitabilidade (“O que vou fazer depois de morreres?”, pergunta a mulher de Saigo quando ele é recrutado) e o conceito de honra (onde entra o ritual suicídio).


O argumento de Iris Yamashita e Paul Haggis baseia-se na correspondência do real General Kuribayashi, publicada postumamente, um homem cuja anterior experiência na América lhe truxe uma visão do mundo que chocava com a propaganda imperialista do seu país. O erguer da bandeira no Monte Suribachi pelos americanos, a imagem que serve de ponto de partida para o filme anterior, é aqui visto do outro lado da História.


A escuridão da fotografia de Tom Stern, entre os cinzentos e os castanhos, constrói o ambiente de tragédia e resignação. Os rasgos de cor surgem fora da guerra, ou então no fogo das explosões e muito marcadamente no sol vermelho da bandeira japonesa.


Clint Eastwood revela uma segurança desarmante na realização. As ferozes imagens de batalha são brilhantemente filmadas, com a mesma intensidade da compaixão que revela perante as emoções. Sem actos heróicos, “Letters From Iwo Jima” é um filme silenciosamente corajoso e comovente.






CITAÇÕES:


“Parabéns, o seu marido vai para a guerra!”


“É estranho, prometi lutar até à morte pela minha família, mas só de pensar nela torna-se difícil cumprir a promessa.”
KEN WATANABE (General Tadamichi Kuribayashi)