Anche Libero Va Bene ****
Realização: Kim Rossi Stuart. Elenco: Alessandro Morace, Marta Nobili, Kim Rossi Stuart, Barbora Bobulova. Nacionalidade: Itália, 2006.
A estreia na realização do actor Kim Rossi Stuart (“Al Di Là Delle Nuvole” de Michelangelo Antonioni e Wim Wenders (1995), “Pinocchio” de Roberto Benigni (2002)), é um drama familiar marcado pelo egoísmo, pela ilusão, pela frustração, pela solidão e pela dor.
No centro da narrativa está um núcleo familiar instável, formado por Tommi (Alessandro Morace), de 11 anos, a sua irmã mais velha Viola (Marta Nobili), o pai Renato (Kim Rossi Stuart) e uma mãe ausente Stefania (Barbora Bobulova), cujo súbito regresso vem perturbar o frágil equilíbrio em que Renato conseguiu recolocar a sua família após ela os ter abandonado. Renato aceita-a para bem dos seus filhos, mas Tommi tem dificuldade em acreditar que este regresso seja definitivo.
Para Renato a vida é uma luta diária tentando sustentar a família com um trabalho precário de cameraman. A sua relação com Tommi, em concreto, sofre das exigências de Renato, que insiste que o filho pratique natação, como ele o fez, em vez de futebol, a grande paixão de Tommi (o ‘libero’ do título refere-se a uma posição de defesa que tem liberdade de sair e ajudar em estratégias de ataque).
O apartamento onde decorre a maior parte da acção é, simultaneamente, ninho e prisão, puxando para si e depois, num movimento centrífugo, repelindo para o exterior os seus ocupantes. O terraço do prédio, uma metafórica corda-bamba emocional, é o refúgio de Tommi, uma jovem que se protege na sua timidez e enfrenta com angústia a procura de um espaço.
Rossi Stuart é perfeito na complexa vulnerabilidade de Renato, num papel que ele assumiu depois do protagonista ter abandonado o projecto, com as suas explosões emocionais a evidenciarem a sua semelhança física com Nanni Moretti. Mas o talento verdadeiramente marcante de “Anche Libero Va Bene”, é o do pequeno Alessandro Morace, mostrando uma naturalidade e uma sensibilidade comovedoras.
Com um realismo honesto, Rossi Stuart fala-nos de fragilidades, e da coragem de uma família (que representa tantas outras) de, em conjunto, enfrentar os seus problemas, sem cartilhas para seguir. As pessoas que mais magoamos são aquelas que melhor conhecemos e que estão mais próximas de nós, mas, apesar de calado e cheio de falhas, o amor é inquestionável. Não é sem alguma ironia que, no meio destas vicissitudes, as crianças acabem por demonstrar mais maturidade que os adultos. E através do confronto chega a mudança, quando a adoração filial é substituída por um amor mais maduro que integra as debilidades do progenitor, que compreende e aceita. O remédio é o tempo, porque é ele que permite o crescimento.
Cinco estrelas totalmente superficiais para o lindíssimo Kim Rossi Stuart.