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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Flags Of Our Fathers ***

18.01.07, Rita

Realização: Clint Eastwood. Elenco: Ryan Phillippe, Jesse Bradford, Adam Beach, John Benjamin Hickey, John Slattery, Barry Pepper, Jamie Bell, Paul Walker, Robert Patrick, Neal McDonough, Melanie Lynskey, Tom McCarthy. Nacionalidade: EUA, 2006.





Baseando-se no livro de James Bradley e Ron Powers, o realizador Clint Eastwood e o argumentista Paul Haggis (equipa responsável por “Million Dollar Baby”) e a quem se juntou William Broyles Jr., trazem-nos em “Flags Of Our Fathers” uma desconstrução do heroísmo e da propaganda de guerra.


23 de Fevereiro de 1945 era o 5º dia de uma batalha que iria durar 5 semanas pela conquista da estratégica ilha japonesa de Iwo Jima. Cinco marines e um médico da marinha içam a bandeira americana no cimo do Monte Suribachi. A sua foi a segunda a ser içada naquele dia, depois da primeira ter sido cobiçada por um oficial de outra companhia. O fotógrafo Joe Rosenthal captou na sua objectiva esse momento, sem saber que este se iria tornar um ícone da história americana e granjear-lhe o Prémio Pulitzer.


Reproduzida em todo o mundo, aquela fotografia deu um novo alento aos desiludidos americanos e transformou instantaneamente os seus protagonistas em heróis. Mas a verdade da sua história era bastante mais dura. Apenas três desses homens sobreviveram. Feitos regressar imediatamente ao seu país, foram utilizados como meio de propaganda política, obrigados a efectuar uma tournée pelo país - onde têm também que dramatizar o evento de Suribachi - para promover o financiamento da guerra através de títulos (esta campanha conseguiu angariar cerca de 23,3 mil milhões de dólares).


James Bradley, o autor do livro, é filho de John “Doc” Bradley, o médico na foto de Rosenthal, aqui interpretado por um sereno e abismado Ryan Phillipe. Os outros dois protagonistas desta história são Rene Gagnon (Jesse Bradford), aquele que melhor assume o papel de herói e que espera retirar dividendos de toda a exposição, e Ira Hayes (um poderoso Adam Beach), descendente de índios Pima, que nunca consegue efectivamente entender toda aquela manipulação e que acaba por cair no alcoolismo. Uma fama que é tanto mais chocante quando o futuro pouco glorioso - no sentido mediático do termo - que os espera a todos.


A narrativa de “Flags Of Our Fathers” move-se entre os momentos da batalha, o regresso a casa e a actualidade, onde James Bradley (Tom McCarthy) recupera a história através das memórias dos intervenientes. Uma estrutura que adiciona um considerável peso a este filme. Um dos pontos verdadeiramente fortes são interpretações complexas e sólidas que Eastwood retira dos seus actores.


A presença de Steven Spielberg na produção torna inevitável ler algumas semelhanças estéticas com “Saving Private Ryan”, sobretudo ao nível do detalhe e da intensidade. Os efeitos visuais fundem-se no filme sem chamar a atenção, ao mesmo tempo que a fotografia de Tom Stern, trabalhando a paisagem de Sandvík, Islândia, em cinzentos, azuis e castanhos, se cola às fotografias reais da batalha que acompanham todo o genérico final.


Através do símbolo de unidade, empenho, e sacrifício por uma causa comum que aquela fotografia constitui, esta história foca a dualidade entre a “venda” da guerra e a sua realidade, entre a máquina que está por detrás e os indivíduos que estão na linha da frente. Estes homens, partilhando a culpa dos sobreviventes, ficam presos entre a lenda e os factos (houve inclusivamente acusações de que a foto teria sido encenada), entre aquilo que os outros esperam deles e aquilo que tiveram de suportar em nome de outros.


“Flags Of Our Fathers” é simultanea e equilibradamente uma mensagem anti-guerra e um tributo ao valor dos seus soldados. Como é mostrado no filme, a guerra é sobretudo uma questão de lealdade para com os companheiros no campo de batalha, não é nem política nem patriotismo. Hayes recusa o título de herói pelo simples facto de apenas ter tentado não ser atingido. Mas em casa eram outras armas que o agrediam, armas das quais não se conseguiu proteger.


“Flags Of Our Fathers” tem uma visão dura e abrangente sobre o custo humano da guerra. Em Iwo Jima morreram cerca de 7 000 americanos e 22 000 japoneses. O ponto de vista destes últimos será relatado por Clint Eastwood numa segunda parte, intitulada “Letters From Iwo Jima”, protagonizada por Ken Watanabe e que deverá chegar à Europa em Fevereiro deste ano.






CITAÇÕES:


“We like things nice and simple. Good and evil. Heroes and villains. Most of the time, they’re not who we think they are.”
THOMAS McCARTHY (James Bradley)

“I can't take them calling me a hero. All I did was try not to get shot.”
ADAM BEACH (Ira Hayes)

“I finally came to the conclusion that maybe he was right, maybe there are no such things as heroes maybe there are just people like my dad, I finally came to understand why they were so uncomfortable being called heroes. Heroes are something we create, something we need. It's a way for us to understand what is almost incomprehensible, how people could sacrifice so much for us, but for my dad and these men the risks they took, the wounds they suffered, they did that for their buddies, they may have fought for there country but they died for there friends. For the man in front for the man beside him, and if we wish to truly honor these men we should remember them the way they really were the way my dad remembered them.”
THOMAS McCARTHY (James Bradley)