Déjà Vu **
Realização: Tony Scott. Elenco: Denzel Washington, Paula Patton, Val Kilmer, Jim Caviezel, Adam Goldberg, Elden Henson, Erika Alexander, Bruce Greenwood. Nacionalidade: EUA, 2006.
“déjà-vu: substantivo masculino; impressão ou sensação intensa de ter vivido no passado uma situação actual” (in Dicionário Porto Editora)
Quem espere deste filme algo a ver com a definição acima, desengane-se. Foi apenas um golpe de marketing. “Déjà Vu” nada a ver com déjà-vu.
Um ataque terrorista faz explodir um ferryboat em New Orleans. O investigador da ATF (Bureau of Alcohol, Tobacco, Firearms and Explosives) Doug Carlin (Denzel Washington) é chamado para auxiliar a investigação do atentado e junta-se a uma equipa de peritos, liderados pelo agente Andrew Pryzwarra (Val Kilmer). Esta equipa tem em mãos uma tecnologia experimental que possibilita recuar quatro dias e meio no passado e de observar qualquer lugar e qualquer pessoa dentro de um determinado raio de acção. Tal irá acontecer com Claire Kuchever (Paula Patton) uma aparente vítima do atentado, que Carlin acredita ser a chave para descobrir o criminoso.
Mas mais do que descobrir o culpado, Carlin quer reverter o resultado final dos acontecimentos, tentando para isso modificar o passado. Esta abordagem não é propriamente inovadora e filmes como “Back to the Future” e “Butterfly Effect” já o fizeram de uma forma (1) mais divertida e (2) mais consistente.
“Déjà Vu” é um teste à nossa capacidade de acreditar no inverosímil, mas, por favor, conseguir observar através das paredes e reconstruir todos os sons e movimentos não é um bocado demais??? Tentando esquecer o tom inicial de melodrama barato, com elementos demasiado óbvios para o choque da explosão, o realizador Tony Scott (“Spy Game” - 2001), “Man on Fire” - 2004) e os argumentistas Bill Marsilii e Terry Rossio (“Pirates of the Caribbean”) apostam, apesar de tudo, um novo formato de thriller, onde a abstracção da continuidade do espaço-tempo obriga o espectador a um esforço suplementar. Mas a ausência de clareza é tanta que começamos a pensar que eles estão ainda mais perdidos que nós.
No campo das interpretações, Denzel Washington já nos habituou a papéis mornos como este, por isso não é totalmente chocante. Mas é triste ver actores como Val Kilmer e Bruce Greenwood totalmente desperdiçados, com agravante sugestão subliminar de que a captura de terroristas implica uma absoluta devastação da privacidade de todo e qualquer cidadão.
Apesar destas contrariedades, “Déjà Vu” oferece-nos uma original cena de perseguição inter-temporal, em que o perseguido está quatro dias no passado relativamente ao perseguidor.
“Déjà Vu” é marcado pelo cenário de devastação de uma New Orleans ainda mal desperta da tragédia. Com efeito, este é o primeiro filme rodado naquela cidade depois da destruição de que foi alvo pelo furacão Katrina no Verão de 2005. E se há aqui algum sentido metafórico é o desejo de que aquele horror não tivesse ocorrido. Pessoalmente, ainda albergo a esperança de lá passar um Mardi Gras. Quanto a “Déjà Vu”, está visto.
CITAÇÕES:
“I'll speak slowly so that those of you in the room who have PhDs can understand me.”
DENZEL WASHINGTON (Doug Carlin)
“I need more cowbell!”
ADAM GOLDBERG (Denny)
“Denny - You know you don't have to do this. “Claire Kuchever - What if you had to tell someone the most important thing in the world, but you knew they'd never believe you?
Doug Carlin - What if I already have?”
ADAM GOLDBERG (Denny) e DENZEL WASHINGTON (Doug Carlin)
Doug Carlin - I'd try.”
(Claire Kuchever ) e DENZEL WASHINGTON (Doug Carlin)