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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Salvador (Puig Antich) ***

12.12.06, Rita

Realização: Manuel Huerga. Elenco: Daniel Brühl, Tristán Ulloa, Leonardo Sbaraglia, Leonor Watling, Joel Joan, Celso Bugallo, Mercedes Sampietro, Olalla Escribano, Carlota Olcina, Bea Segura, Andrea Ros. Nacionalidade: Reino Unido, 2006.





Salvador Puig Antich era um jovem catalão, anarquista e militante do MIL - Movimiento Ibérico de Liberación, uma organização terrorista que lutava contra o regime ditatorial de Franco. No decorrer de uma operação de captura e de um tiroteio do qual resulta a morte de um polícia, Puig Antich é capturado. Julgado em conselho de guerra, a sua condenação à morte por “garrote vil” carrega a marca da vingança que resultou do atentado da ETA que matou o então presidente do governo Luis Carrero Blanco.


O argumento de Lluís Arcarazo, que adapta o livro de Francesc Escribano ‘Cuenta atrás. La historia de Salvador Puig Antich’, apresenta-se simultaneamente como um thriller e um retrato histórico, marcado pela agressividade das forças de segurança do Estado e por um profundo anti-catalanismo (onde se inclui a proibição do uso do idioma). Não havendo uma intenção directa de fazer de Puig Antich um mártir ou um herói, a sua imagem chega até nós bastante favorecida: nos assaltos ele é apenas um condutor, a sua elevada moral impede-o de aceder aos avanços da mulher por quem está apaixonado sabendo que ela se vai casar com outro, e nunca duvida das suas convicções ou dos métodos do grupo. As motivações da sua ideologias precisariam igualmente de uma maior densidade.


Os maus são aqui os bons, justificados pelo seu ideal e pela sua luta contra o regime opressor. Do outro lado, estão os polícias, representantes do poder. Apesar desta inversão entre os papéis tradicionais, o filme de Manuel Huerga tende a cair no estereótipo. Este é apenas combatido pela personagem do guarda prisional Jesús (Leonardo Sbaraglia). É de supor que mesmo num regime ditatorial, os homens que aplicam a lei não sejam isentos de valores morais. A transformação de Jesús - uma evidência das capacidades dramáticas de Sbaraglia (“Intacto” - 2001, “Carmen” - 2003) - e da sua relação com Salvador poderia, no entanto, ter sido feita de uma forma mais suave e subtil, e também mais credível.


Mas apesar do final da história ser do conhecimento geral, Huerga consegue despertar e manter o interesse e a emoção necessários. A história vai-se desenvolvendo através das entrevistas entre Puig Antich e do seu advogado, Oriol Arau (Tristán Ulloa), que é também a voz off que cobre grande parte do filme.


Este filme tem recebido fortes críticas quanto ao uso da figura de Puig Antich com fins comerciais. Muitas das soluções são, usadas de uma forma ostensivamente calculada, como é o caso das dispensáveis cenas de sexo (felizmente uma delas ao som de ‘Suzanne’ na voz de Leonard Cohen), ou da elevada manipulação da lágrima. Em determinados momentos, o sentimentalismo é tão transbordante que rasa o ridículo, retirando força a um filme que se queria mais contundente. Mas para se chegar a um público mais vasto há que fazer certos sacrifícios.


“Salvador (Puig Antich)” é sobretudo alimentado pela soberba interpretação de Daniel Brühl, actor hispano-alemão (filho de mãe espanhola e nascido em Barcelona), protagonista de “Good Bye Lenin!” (2003) e “Os Edukadores”, num delicioso jogo interpretativo com Leonardo Sbaraglia, e bem apoiado por Tristán Ulloa (“Lucía y el Sexo”, 2001), Leonardo Sbaraglia e Celso Bugallo (“Mar Adentro”), no papel de pai de Salvador.


Apesar das suas falhas, “Salvador (Puig Antich)” tem um bom ritmo, fazendo uma adequada reconstituição histórica e beneficiando da bela fotografia de David Omedes. A cor e a luz marcam os dois momentos de luta: o passado, em liberdade e acção, e o presente, aprisionado e impotente. Funcionando essencialmente como documento histórico dos últimos anos do franquismo, “Salvador (Puig Antich)” é também um filme sobre a inumanidade da pena de morte. Numa espera interminável, angustiosa e cruel, entrelaçam-se mãos e escondem-se lágrimas. “E se canto triste é porque não posso apagar o medo dos meus pobres olhos”, canta - em catalão - Lluís Llach.


A 2 de Março de 1974 às 9 horas e 40 minutos, Salvador Puig Antich é morto. Rosas vermelhas cobrem o chão molhado de chuva, como de lágrimas. Até hoje, as irmãs de Salvador lutam para a revisão do seu processo. Porque o amor não é o tempo.






SUZANNE
Leonard Cohen


Suzanne takes you down to her place near the river
You can hear the boats go by
You can spend the night beside her
And you know that she's half crazy
But that's why you want to be there
And she feeds you tea and oranges
That come all the way from China
And just when you mean to tell her
That you have no love to give her
Then she gets you on her wavelength
And she lets the river answer
That you've always been her lover
And you want to travel with her
And you want to travel blind
And you know that she will trust you
For you've touched her perfect body with your mind.

And Jesus was a sailor
When he walked upon the water
And he spent a long time watching
From his lonely wooden tower
And when he knew for certain
Only drowning men could see him
He said "All men will be sailors then
Until the sea shall free them"
But he himself was broken
Long before the sky would open
Forsaken, almost human
He sank beneath your wisdom like a stone
And you want to travel with him
And you want to travel blind
And you think maybe you'll trust him
For he's touched your perfect body with his mind.

Now Suzanne takes your hand
And she leads you to the river
She is wearing rags and feathers
From Salvation Army counters
And the sun pours down like honey
On our lady of the harbour
And she shows you where to look
Among the garbage and the flowers
There are heroes in the seaweed
There are children in the morning
They are leaning out for love
And they will lean that way forever
While Suzanne holds the mirror
And you want to travel with her
And you want to travel blind
And you know that you can trust her
For she's touched your perfect body with her mind.
and you want to travel
with her body



I SI CANTO TRIST
Lluís Llach


Jo no estimo la por, ni la vull per a demà,
no la vull per a avui, ni tampoc com a record;
que m'agrada els somrís
d'un infant vora el mar
i els seus ulls com un ram d'il•lusions esclatant.

I si canto trist
és perquè no puc
esborrar la por
dels meus pobres ulls.

Jo no estimo la mort
ni el seu pas tan glaçat,
no la vull per a avui, ni tampoc com a record;
que m'agrada el batec d'aquell cor que, lluitant,
dóna vida a la mort
a què l'han condemnat.

I si canto trist
és perquè no puc
oblidar la mort
d'ignorats companys.

Jo no estimo el meu cant, perquè sé que han callat
tantes boques, tants clams, dient la veritat;
que jo m'estimo el cant
de la gent del carrer
amb la força dels mots
arrelats en la raó.

I si canto trist
és per recordar
que no és així
des de fa tants anys.