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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan ***

05.12.06, Rita

Realização: Larry Charles. Elenco: Sacha Baron Cohen, Ken Davitian. Nacionalidade: EUA, 2006.





Borat Sagdiyev é uma das personagens criadas pelo actor inglês Sacha Baron Cohen para o seu programa televisivo “The Ali G Show”, é um jornalista do Casaquistão, prestes a ser enviado aos Estados Unidos pelo seu governo para aprender sobre a cultura americana e poder regressar com ideias para modernizar o seu país. O seu documentário começa na sua terra natal, onde Borat apresenta a sua família, incluindo a sua irmã, que ocupa o 4º lugar da melhor prostituta do seu país, e os seus vizinhos, incluindo o violador da aldeia (confesso que esta me mandou de imediato para o universo Pythonesco).


Aos colocar-se em contextos reais, Sacha Baron Cohen, encontra um meio aparentemente superficial para fazer um profundo comentário social, sobre a América e sobre a sociedade ocidental em geral. Borat reúne em si todas as características menos politicamente correctas: é sexista, racista, homofóbico e anti-semita, a combinação menos comercial possível. O mais interessante é ver como, na sua interacção com a realidade americana, essas mesmas características, normalmente camufladas de todos, vêm ao de cima nos momentos mais inesperados, bastando para isso encontrar quem partilhe de uma mesma - odiosa - opinião. Incómodo, ordinário, ofensivo, insolente, subversivo e completamente louco, Borat consegue despertar nos outros um lado surpreendente, onde residem muitos dos medos e falhas de uma América que vive no limite do que é e aquilo que quer mostrar ser.


Mesmo a sua paixão desenfreada por Pamela Anderson é representativa dos valores erguidos pela América como padrão, neste caso não de comportamento mas de imagem. Os Estados Unidos continuam, infelizmente para grande parte do mundo, a ser uma medida daquilo que se deve almejar.


O empenho de Baron Cohen é tão grande e tão profundo, que todo o filme parece, de facto, um documentário (ainda que não se perceba, quando o seu agente Azamat Bagatov (Ken Davitian) o abandona, quem fica por trás da câmara a filmá-lo). Desde os que lhe viram as costas, aos que o insultam ou agridem, até aos que aguentam até ao limite da sua paciência, ele responde a todas as situações como se fosse o próprio Borat. As aparições públicas do actor são repetidamente feitas sob as suas múltiplas máscaras, é por isso previsível que haja um período de convivência extensíssimo com estas personalidades.


Mas “Borat” peca por ser muito inconsistente. Feito à base de momentos, a sua linha condutora mantém-se fragilmente no campo de um road movie, mas impelido por uma fraca motivação. As potencialidades sarcásticas desta personagem são enormes, mas as situações puramente ridículas e sem propósito também abundam. Entre a sagacidade de uma observação e a vacuidade de outra, abre-se um enorme abismo.


Pegar num país real como o Casaquistão facilita a credibilidade da personagem como enviado estrangeiro, mas prejudica gravemente a imagem que passa desse mesmo país. Por isso, é necessária alguma flexibilidade mental para aceitá-la como soma dos estereótipos mais ridículos projectados sobre as sociedades dos países do leste europeu, e evitar comparações com a realidade.


Nem tonto nem genial, “Borat” levanta alguns temas que podem prolongar-se em noites de boa conversa.






CITAÇÕES:


“This is Urkin, the town rapist. Naughty, naughty!”
SACHA BARON COHEN (Borat Sagdiyev)

“May George Bush drink the blood of every man, woman and child in Iraq!”
SACHA BARON COHEN (Borat Sagdiyev)

“We support your war of terror.”
SACHA BARON COHEN (Borat Sagdiyev)

[cantando o hino do Casaquistão ao som do hino americano]
“Kazakstan, greatest country in the world, all other countries are run by little girls. Kazakhstan is number one exporter of potassium, Other Central Asian countries have inferior potassium. Kazakhstan, greatest country in the world, all other countries is run by the gays...”
SACHA BARON COHEN (Borat Sagdiyev)