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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Juventude em Marcha **1/2

03.12.06, Rita

Realização: Pedro Costa. Elenco: Alberto 'Lento' Barros, Cila Cardoso, Isabel Cardoso, Vanda Duarte, Beatriz Duarte, Gustavo Sumpta. Nacionalidade: França / Portugal / Suiça, 2006.





“Juventude em Marcha” é o regresso de Pedro Costa à comunidade cabo-verdiana do bairro das Fontainhas (Amadora), depois de “Ossos” (1997) e “No Quarto da Vanda” (2000), um mais ficcional outro mais documental. É mais no sentido deste último que Pedro Costa observa as suas personagens, à medida que a sua vida muda após a demolição do bairro e das casas novas no bairro social. Ventura, um emigrante cabo-verdiano e o fio condutor deste filme, passeia-se pelos bairros e pelos filhos (verdadeiros ou falsos), escutando as suas histórias de pequenas lutas diárias, que são apenas as partas da grande luta que é a vida. Em tom de oração, uma carta é repetida, para que Lento, um destes “filhos”, possa decorá-la - à falta de caneta - e enviá-la à sua mulher.


Pedro Costa envolve-se emocionalmente nesta dura realidade social, e é fácil perceber que o seu empenho vai bem para lá do profissional. A recompensa é podermos entrar no mundo deles, como se dele fizéssemos parte. Pedro Costa filma quase tudo em tempo real, em cenas exaustivamente ensaiadas, e com textos visivelmente estudados por actores amadores que são ao mesmo tempo as personagens que desempenham. Mas infelizmente, a dedicação de Pedro Costa aos seus actores/personagens e às suas histórias não é contagiosa. Não sei dizer se isso se deve ao facto de eu não ter visto os outros filmes dele, mas confesso que rapidamente me cansei delas. Nem sequer exigia que elas tivessem um rumo, que isso visivelmente não foi factor de preocupação, mas esperava que pelo menos neste (longo) momento em foram captadas tivessem mais coisas para contar.


O belo trabalho de imagem de Pedro Costa e Leonardo Simões, com uma luminosidade surpreendente, colocam este filme numa categoria de obra estética que poderia muito bem funcionar num meio fotográfico, mas que em cinema se alonga demasiado. Numa exposição, o espectador dedica a cada imagem o tempo que deseja, no cinema esse tempo é definido pela realização e pela montagem. Para a minha velocidade de entendimento da atmosfera destas pessoas, bastaria menos, muito menos tempo. A isto adiciona-se o facto da ligação temporal entre os diversos quadros (porque é isso mesmo que parecem), baralhados temporalmente, não é evidente nem clara, exigindo uma atenção e uma paciência que, nem sempre resiste. E isto que eu nem me considero uma espectadora particularmente inquieta e ansiosa.


Para mim “Juventude em Marcha” é como um poema que tentamos entender, mas não entendemos. Colocamo-lo de lado para um dia em que o discernimento seja mais apurado. E se, para tal, conseguirmos reservar uma boa quantidade de tempo.