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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Infamous ***

27.11.06, Rita

Realização: Douglas McGrath. Elenco: Toby Jones, Sandra Bullock, Daniel Craig, Jeff Daniels, Peter Bogdanovich, Hope Davis, Sigourney Weaver, Isabella Rossellini, Lee Pace, John Benjamin Hickey, Gwyneth Paltrow. Nacionalidade: EUA, 2006.





Quando o filme que deu a Philip Seymour Hoffman o Oscar de Melhor Actor começou a ser filmado, “Infamous” já se encontrava em pós-produção, e quando “Capote” saiu, “Infamous” já estava terminado. Atrasar o seu lançamento foi uma decisão ajuizada da Warner Independent Pictures. Mas a pouca distância entre ambos (apenas 9 meses em Portugal) torna inevitável uma comparação.


À semelhança de “Capote”, a acção de “Infamous” foca o período na vida de Truman Capote no qual ele escreveu a obra “A Sangue Frio”, um romance de não-ficção sobre o assassinato da família Clutter, que teve lugar no Kansas no final da década de 50.


Mas, ao contrário de “Capote”, que se centrava na personagem do escritor e na forma como o seu ego o fazia manipular tudo e todos à sua volta, “Infamous” centra-se no dilema moral com que ele se debatia, entre o seu trabalho como escritor e o seu laço emocional a um dos criminoso. Um sentimento que, em “Infamous”, parece ser uma inevitabilidade e não um acto calculista.


“Infamous” começa com a música “What Is This Thing Called Love”, cantada num clube nocturno por Peggy Lee (Gwyneth Paltrow, na sua própria voz), numa sentida interpretação que lança o tom do filme, num misto de sinceridade e dissimulação.


Truman Capote encontra-se bloqueado na obra “Answered Prayers” quando a notícia da morte de uma família no Kansas chama a sua atenção. Acompanhado pela sua amiga Nelle Harper Lee (Sandra Bullock), vencedora do Pulitzer com o livro “To Kill a Mocking Bird”, Capote desloca-se a Holcomb para fazer um artigo que, mais tarde, se transformará no livro “In Cold Blood”. Com uma louvável persistência, Capote consegue convencer o inspector responsável pelo caso, Alvin Dewey (Jeff Daniels) a dar-lhe acesso ao caso e, aquando da sua captura, também aos presos, Perry Lee (Daniel Craig) e Dick Hickock (Lee Pace).


“Infamous” conduz-nos também ao círculo social em que Truman Capote se movia, um mundo de ricos, de materialismo, de mexericos e de mentiras. A mente de Truman Capote parece estar mais dissecada neste filme do que em “Capote”, que, por sua vez, nos fornece mais informação sobre o crime e sobre o processo literário do escritor.


Douglas McGrath (“Emma”, “Nicholas Nickleby”) faz uma abordagem mais linear da narrativa, optando por soluções mais tradicionais, com bastante humor, e capitalizando nos nomes sonantes do elenco e num muito bom Toby Jones (“Finding Neverland”, “Mrs Henderson Presents”). Eu adoro Philip Seymour Hoffman e achei óptimo o seu trabalho em “Capote”, mas Toby Jones tem o grande mérito de conseguir trazer uma interpretação de Truman Capote ainda mais extrema e com um toque muito pessoal. Desta forma se prova que dois grandes actores podem oferecer duas boas interpretações de uma mesma personagem (e que ser director de casting pode ser uma tarefa ingrata).


McGrath introduz, com resultados questionáveis a nível de credibilidade, um elemento pseudo-documental, ao colocar os actores que representam algumas das pessoas do círculo de Capote num contexto de entrevista. Entre eles estão Babe Paley (Sigourney Weaver), Diana Vreeland (Juliet Stevenson), Gore Vidal (Michael Panes), Slim Keith (Hope Davis), Bennett Cerf (Peter Bogdanovich), editor da Random House, e o amante de Capote Jack Dunphy (John Benjamin Hickey).


A secundar está um Daniel Craig intenso, misterioso, magoado e volátil (continuo a pensar na pena que é fechar este senhor na personagem de Bond). Hope Davis e Sigourney Weaver são apostas seguras, enquanto Sandra Bullock tem aqui a sua melhor interpretação e talvez uma janela aberta para outras experiências.


Apesar do seu magnetismo, o Capote de “Infamous” é menos empático que o de Hoffman, é mais frágil mas menos envolvente. E face ao fogo visual do primeiro, continuo a preferir a gravidade do segundo.






CITAÇÕES:


“It’s hard to put a friend in the past tense.”
BETHLYN GERARD (Marie Dewey)

“So you think your book is worth a human life?”
ISABELLA ROSSELLINI (Marella Agnelli)</font>