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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

The Night Listener ***

22.11.06, Rita

Realização: Patrick Stettner. Elenco: Robin Williams, Toni Collette, Joe Morton, Bobby Cannavale, Rory Culkin, Sandra Oh, John Cullum. Nacionalidade: EUA, 2006.





O mais inquietante deste “The Night Listener” é o facto de se basear num livro parcialmente autobiográfico – ‘Tales of the City’ – da autoria de Armistead Maupin. Mas em vez de escritor, Gabriel Noone (Robin Williams) é animador de um programa nocturno de rádio, Noone At Night, baseado em histórias, muitas delas retiradas da sua própria vida. No meio de um tumulto da sua vida pessoal, o seu amigo e agente literário Ashe (Joe Morton) passa a Noone o manuscrito de Pete (Rory Culkin), um jovem de 14 anos, cuja infância foi marcada por abusos físicos e psicológicos. Impressionado pela escrita e pelo conteúdo da obra, Noone inicia uma relação telefónica com este jovem, que vive numa zona rural do Winsconsin, sob a tutela de Donna (Toni Collette), que zela não só pela sua saúde, mas também tentando protegê-lo de possíveis perseguições.


Tudo começa a assumir uma perspectiva particularmente tortuosa quando Jess (Bobby Cannavale), o ex-namorado de Noone, lhe chama a atenção para a parecença das vozes de Donna e Pete, insinuando que tudo possa não passar de uma brincadeira. Noone não tem efectivamente provas de Pete existe. Perante a dúvida, Noone decide procurá-lo e tirar tudo a limpo.


Neste thriller psicológico a informação vai sendo desvendada ao espectador ao mesmo tempo que Noone a vai descobrindo, e, como ele, vamos seguindo as pistas e tentando juntar as peças. Mas o argumento, da autoria de Maupin, do seu ex Terry Anderson e do realizador Patrick Stettner, pautado por diálogos totalmente verosímeis, não nos deixa ter certezas.


Mas mais importante do que desvendar este mistério, ou descobrir onde e se existem mentiras, são as questões filosóficas que este filme levanta. Existimos apenas como uma percepção de outros? Ao duvidar da credibilidade de uma relação que estabelecemos teremos também que duvidar de nós mesmos? da nossa capacidade de discernimento? de tudo o que nos aparece como real?


Noone é um homem resignado e desiludido, com tem tendência a embelezar os acontecimentos da sua vida, dando-lhes um cunho mais romântico ou literário, e potenciando o seu efeito dramático. No final, questionamo-nos até que ponto não foi ele que criou esta história, apenas para nos regalar. Em dado momento, alguém diz: "People are only as loved as they believe they are.”. Com efeito, Pete parece vir ocupar na vida de Noone um lugar de interesse afectivo recentemente deixado vago por Jess, dando-lhe um sentido que ele sente faltar na sua vida.


Toni Collette (“The Sixth Sense”, “Little Miss Sunshine”) é completamente arrebatadora, e Williams confirma uma vez mais a sua grande força dramática, já evidenciada em filmes como “Insomnia” (2002), “One Hour Photo” (2002) ou “The Final Cut” (2004). Nos secundários, a minha atenção voltou-se para a interpretação intensa e genuína de Bobby Cannavale (“Romance & Cigarettes”), que merecia bastante mais ecrã.


Para bem da consistência, o final deveria, no entanto, ser mais inconclusivo. Em vez disso, é-nos entregue uma solução fácil que, pessoalmente, me deixou insatisfeita. A ambiguidade teria servido para manter as questões importantes ao de cima.






CITAÇÕES:


“Real isn’t how you’re made, is the things that happen to you.”


“People are only as loved as they believe they are.”