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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Brick ****

21.11.06, Rita

Realização: Rian Johnson. Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Nora Zehetner, Lukas Haas, Noah Fleiss, Matt O'Leary, Emilie de Ravin, Noah Segan, Richard Roundtree, Meagan Good, Brian White. Nacionalidade: EUA, 2005.





O poema de Gilbert and Sullivan, “The sun whose rays are all ablaze”, sobre o frágil equilíbrio de forças entre o sol e a lua, lança o tom do film noir que é “Brick”. Na primeira longa-metragem de Rian Johnson existe um herói pouco óbvio, calado e subtil, um vilão poderoso e perigoso, uma donzela em apuros e uma femme fatale tão inescrutável quanto sedutora.


A questão é que tudo se passa entre adolescentes, com o liceu como cenário e embrulhado na música original de Nathan Johnson, líder dos The Cinematic Underground. Um óptimo ritmo, os bons diálogos e as fortes interpretações afastam este filme de todos os clichés de filmes de adolescentes, não deixando, no entanto, escapar a inerente agitação, a angústia e formação de identidade características dessa fase da vida.


Brendan (Joseph Gordon-Levitt) é um adolescente solitário (ou melhor, anti-social) que investiga o desaparecimento da sua ex-namorada Emily (Emilie De Ravin, a Claire Littleton da série “Lost”), que recentemente se juntou a um grupo mais popular e também mais perigoso. Com a ajuda de Brain (Matt O’Leary), a investigação de Brendan leva-o a um grupo de traficantes liderado por The Pin (um impenetrável Lucas Haas). E aquele que, primeiramente, aparentava ser mais um marrão, acaba por se revelar um herói feroz e determinado, que aproveita as forças e fraquezas de cada um para conseguir os seus intentos.


De uma forma não-linear, “Brick” começa no meio da acção, volta atrás, regressa a essa cena inicial e continua a partir daí. Neste policial de traição e assassínio, ninguém é isento e cada um esconde diferentes motivações, que se vão revelando de uma forma simultaneamente consistente e surpreendente. Rian Johnson cria um elo de ligação entre todos estes jovens, fazendo uso de um vernáculo que faz lembrar a linguagem ‘nadsat’ de Anthony Burgess em “A Clockwork Orange”. Ao ser usado de uma forma completamente natural e convincente, somos arrastados para este universo geracional, onde o elenco de jovens actores cumpre, sem falhas, a complexidade que as personagens exigem. Uma especial referência para Joseph Gordon-Levitt (Tommy Solomon da série “3rd Rock from the Sun”) que, intenso e seguro, carrega o peso deste filme com um sentido de humor sardónico.


Existe alguma tentação em colocar este filme do lado de um “Donnie Darko”, pela forma como a temática adolescente é abordada fora dos parâmetros habituais. Não minha opinião fica ainda aquém dessa obra em termos imaginativos, mas é fácil perceber porque venceu, ao lado de “Me And You And Everyone We Know”, o prémio especial do júri na edição de 2005 do Festival de Sundance pela originalidade da sua visão.


Espero que “Brick” seja uma boa base para a futura carreira do realizador Rian Johnson. Estaremos de olhos postos em “The Brothers Bloom”, o seu próximo projecto para 2008, com Rachel Weisz à cabeça.


Voltando a “Brick” , ainda que seja inquietante pensar numa adolescência com estas atribulações, por uma história boa como esta eu seria capaz de matar mais uns quantos. Porque o noir está sempre in.






CITAÇÕES:


“I've got knives in my eyes, I'm going home sick.”
JOSEPH GORDON-LEVITT (Brendan Frye)

“Maybe I'll just sit here and bleed at you.”
JOSEPH GORDON-LEVITT (Brendan Frye)

“You better be sure you wanna know what you wanna know.”
MEAGAN GOOD (Kara)



THE SUN WHOSE RAYS ARE ALL ABLAZE
Gilbert and Sullivan


The sun, whose rays
Are all ablaze
With ever-living glory,
Does not deny
His majesty
He scorns to tell a story!
He don't exclaim,
"I blush for shame,
So kindly be indulgent."
But, fierce and bold,
In fiery gold,
He glories all effulgent!
I mean to rule the earth,
As he the sky
We really know our worth,
The sun and I!
Observe his flame,
That placid dame,
The moon's Celestial Highness;
There's not a trace
Upon her face
Of diffidence or shyness:
She borrows light
That, through the night,
Mankind may all acclaim her!
And, truth to tell,
She lights up well,
So I, for one, don't blame her!
Ah, pray make no mistake,
We are not shy;
We're very wide awake,
The moon and I!